Hospital Brookline, segundo trimestre de 1968
Estava chovendo. Caindo um temporal, na verdade – um fato que Madge, que viajou de ônibus ao lado de Jocelyn durante as seis horas anteriores, fazia questão de reiterar a cada dois minutos.
– Sabe quanto tempo demorei para ajeitar meus cachos hoje? – suspirou Madge, de pé ao lado de Jocelyn sobre o asfalto, segurando uma cópia da revista Photoplay sobre a cabeça para tentar deter os pingos de chuva. A revista estava dobrada no meio, fazendo a água escorrer para a parte frontal do casaco dela. – Lá se vai minha ideia de causar uma boa impressão.
Jocelyn deu uma risadinha irônica, quentinha e seca debaixo de um horroroso, mas inegavelmente prático, capuz impermeável de plástico. “Parece que tem um preservativo na sua cabeça, sua tonta”, Madge dissera no ônibus, franzindo o nariz atrás de sua Photoplay, para que tanto ela como a imagem colorida de Jackie Kennedy estampada na revista mostrassem a Jocelyn sua expressão de desaprovação.
– Quem é a tonta agora? – comentou Jocelyn, quando elas se viraram para percorrer o caminho até a entrada, atravessando a nuvem de fumaça que o escapamento do ônibus deixou para trás como uma última e indiferente despedida. O motorista olhou para as duas várias vezes durante a viagem. Jocelyn não deu muita atenção a princípio, e depois pensou que talvez ele apenas estivesse admirando Madge. A garota era mesmo admirável.
Depois de alguns resmungos de Madge, elas estavam batendo os saltos pelo calçamento de pedra da entrada do hospital. O local parecia… bom, menos alegre do que nos panfletos que os recrutadores entregaram a elas nas entrevistas anteriores à contratação. Jocelyn e Madge tinham se formado juntas na Grace Point, em Chicago, de onde saíram com bacharelado em Ciência da Enfermagem – Jocelyn com honras, Madge com estilo.
No panfleto, o Brookline brilhava como um farol no alto de um rochedo, com janelas brancas, imaculadas e cintilantes, e gramados bem aparados. Os pacientes sorriam nos leitos e nas cadeiras de rodas. As enfermeiras exibiam expressões radiantes de modéstia e sabedoria nos corredores. Os médicos examinavam atentamente os prontuários, com os bigodes franzidos para demonstrar toda sua concentração.
– Minha nossa – murmurou Madge, parando exatamente ao lado de Jocelyn.
– Não é tão ruim – argumentou Jocelyn. Ela forçou um sorriso, primeiro para o hospital, depois para Madge. – Se anima, flor. Estamos contratadas. Somos profissionais.
– Profissionais solteiras – disse Madge, com uma risadinha. – Ai, eu fiquei vermelha, não é? Acho que estou vermelha. É bom demais para ser verdade. – Ela deu uma boa olhada ao redor, mas seu sorriso esmaeceu um pouco quando mais uma rajada de vento chuvoso atingiu seu rosto. Jackie Kennedy estava em um estado ainda pior. – E, agora, está na hora de dizer o que eu tanto queria: nós não estamos mais no Kansas. Ou melhor, em Chicago. Você entendeu. Mas a chuva ainda é a mesma.
– Está falando sério? Somos praticamente nova-iorquinas agora – provocou Jocelyn. Grades de ferro fundido cercavam a frente do hospital. A construção ficava afastada da cerca de proteção, em um ponto mais elevado, talvez um pouco desnivelada, o que poderia ser uma impressão causada pela proximidade das nuvens escuras ou por um problema nas fundações do edifício. À esquerda, ficavam os prédios do New Hampshire College, mas apenas alguns estudantes perambulavam pela parte central do campus, com as cabeças escondidas pelos guarda-chuvas. Jocelyn voltou-se para a grade e se aproximou do portão, empurrando-o pela maçaneta, fazendo uma careta ao ouvir o som de dobradiças enferrujadas. – Ah, sim. Bem cosmopolita.
– Vai querer ser a estraga-prazeres? Vem, vamos entrar. Estou encharcada. – Madge foi na frente, segurando com uma das mãos a revista sobre os cabelos loiros e com a outra arrastando sua única mala. – O que você está esperando? Quero conhecer os outros funcionários. E os médicos! E o meu futuro marido!
Jocelyn revirou os olhos, mas não conseguiu conter o sorriso; Madge tinha razão, era um dia importante para as duas. Ela apertou o passo sobre o calçamento de pedra, e o que parecia ser uma silhueta atraiu o seu olhar para uma janela mais acima. Apesar de desaparecer num instante, Jocelyn não conseguiu evitar a sensação de que estava sendo observada enquanto entrava no hospital.