Onnyx - Parte II

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Não acredito que papai vai adotar essas crianças. — Penso.

O menino tem cara de encrenqueiro, ainda mais com esse braço engessado e todos esses machucados, a menina não fica para trás, está toda machucada também, devem ter se metido em alguma briga de gang de onde, sabe lá Deus, mamãe e papai tiraram eles. A pequenina é linda, mas também não queria na minha casa.

Não gosto de dividir minhas coisas, meninos são sempre chatos e eu não gosto de brincar com eles e tenho certeza que essa menina vai acabar estragando todas as minhas Barbies, sem contar que eles são todos mal vestidos e com cara de doentes, tão magros, na escola se eu falar que são meus irmãos vou ser zuada.

Eu não quero isso porque sei que vou acabar brigando e papai vai ter que ir à escola mais uma vez.

Mamãe chega toda sorridente.

— Onnyx, lembra que eu falei sobre seus novos irmãos? Então, esse é Dominic, essa é a Tatum e essa é a Bree. — diz ela apontado para cada um conforme fala os nomes.

— Mamãe, você não disse que eles eram todos branquelos. — Faço cara de nojo.

Nunca contei para mamãe e papai, mas antes na escola tinha algumas meninas que ficavam rindo da minha cara só porque elas tinham cabelo liso e eu não.

Sou morena como mamãe, cabelo cacheado e sou até alta para minha idade, claro que por causa dos comentários com os meus cabelos eu acabei arrumando briga, bati em uma das meninas e fui para a diretoria.

Papai foi chamado, mas não contei a verdade, pois fiquei com vergonha, para variar fiquei de castigo, mas pelo menos bati na menina.

— Onnyx, o que é isso? Não existe isso de cor, estou desapontada com esse comentário. — repreende mamãe.

Claro que a maior ironia da minha vida acontece, não bastava ver a cara de decepção da minha mãe pelo meu comentário, papai tinha que chegar e perguntar por que minha mãe estava nervosa e dizendo o que eu aprontei dessa vez. Fico nervosa porque papai acha que sempre faço algo de errado.

— Você não disse que eles eram assim todos branquelos, eu não quero que eles sejam meus irmãos. — Viro as costas e saio correndo com lágrimas nos olhos.

— Deixa que eu converso com ela. — Ouço papai falando. 

Entro no meu quarto e bato a porta, quando vou trancar papai empurra pela fechadura, impedindo que eu a tranque. Eu não digo que é falta de educação entrar no quarto dos outros sem bater, pois sei que ele me daria bronca. Mas se fosse eu que entrasse em seu quarto sem bater ouviria um sermão de quarenta minutos.

— Onnyx, o que foi isso? Nós já tínhamos conversado mocinha, será que você não entendeu nada do que dissemos hoje? Porque você tem que ser sempre a mais difícil de aceitar as coisas?

Sento na minha cama, encolho os joelhos e fico me balançando. Pensando que não quero ter irmãos novos, muito menos aqueles.

— Porque você não disse como eles eram? E você nem perguntou se nós queríamos ter novos irmãos, muito menos que eram adotados e que eram como eles. Eu não quero irmãos novos papai, e não vou dividir minhas coisas com ninguém.

— Onnyx, você está sendo egoísta e não é isso que sua mãe e eu ensinamos a você.

Você deveria estar lá embaixo dando boas vindas para eles, filha. Sinto muito que não está ao seu gosto, mas enquanto você tem motorista para te levar para escola, tem crianças lá fora que não tem o que comer e nem onde morar. Sua mãe tem um coração muito bom e decidiu ajudar essas crianças, mas ela não fez isso só para ajudar, mas também porque ela, quando viu o que essas crianças passaram, pensou que poderia ser uma de vocês no lugar delas, tenho certeza que se fosse ao contrário eles estariam lá embaixo dando boas vindas.

Um Conto da Série Irmãos TellerOnde histórias criam vida. Descubra agora