1 - Tesouro Encontrado

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— Traga-o para mim — Ambrógio solicitou.

Sem demora, Hoopoe apareceu com o imenso livro, carregando-o como se não pesasse nada. Esse fora um dos motivos que fizeram o mais velho confiar a obra preciosa ao outro, tornando-o guardião permanente, não de si, como os demais pensavam, mas do livro ancestral.

— Obrigado — agradeceu a Hoopoe, que posicionava o manuscrito sobre a mesa.

O homem realizou uma mesura e partiu silenciosamente, deixando Ambrógio finalmente sozinho. O líder dos híbridos passou os dedos sobre as páginas finas, sentindo todo o poder contido nela, em forma de uma suave vibração na ponta do indicador.

Obteve a obra através de um mestre ao qual serviu no Reino da Noite, anos atrás, quando ainda era um jovem sujo, correndo pelas vielas a troco de míseras moedas de prata, ou qualquer alimento.

Teve sorte ao ser servo de Ostara e posteriormente seu discípulo. Ah, o poderoso erudito noturno era um "benfeitor", adorava referir-se a si mesmo como tal e orgulhar-se disso. Para o nobre, foi um verdadeiro achado aquele híbrido desamparado, uma alma desgraçada a ser recuperada, uma aquisição exótica em sua coleção de caridades.

Ostara guardou Ambrógio como um segredo precioso, o instruiu dentro dos muros de sua ostensiva morada, nas alas mais resguardadas, onde não havia janelas. Durante anos, Ambrógio não viu luz, ou se dirigiu a outros além de seu senhor, a família dele e os serviçais.

Quando já tinha evoluído significativamente nos estudos, foi apresentado ao livro que folheava no momento. Seus olhos se arregalaram diante de tamanha beleza, a capa era de um material curioso; era grosso como couro, mas suas cores mudavam ao oscilar da iluminação ambiente. A obra possuía a largura de seu braço esticado e era possível ler em letras douradas e caligrafia trabalhada "Princípios de Kether".

Avançou sedento sobre ele, mas foi impedido por seu mestre, que sorrindo, pediu para que tivesse paciência. O conhecimento seria conquistado aos poucos. E assim foi, a cada lição Ambrógio se maravilhava com as histórias contidas ali. Deuses, maldições e artefatos de poder; elementos que alterariam facilmente a sua vida e a de outros que sofriam tanto quanto ele por serem híbridos.

Lembrava-se vividamente daquele alvorecer, do grito de Ostara ao ser surpreendido com o ataque, de como este foi afogado pelo sangue que vertia do corte aberto no pescoço. De como ele próprio sentiu medo do que estava fazendo, das mãos sujas que esfregou desesperadamente nas roupas brancas que vestia, mas também da sensação de liberdade.

Fugiu arrastando o livro pesado, os músculos de seu braço tremiam ao serem forçados além da capacidade máxima. O sol lhe deu cobertura para a escapada e foi sob ele que correu para além dos domínios da Noite.

Dedicou os anos seguintes em reunir a maior parte das relíquias contidas no manuscrito, ao passo que aumentava o número de seus seguidores e se fortalecia como o rei de sua nação; uma nação jovem, desestruturada, frágil e hostilizada, que desejava uma vida digna, mas também vingança.

Folheou um pouco mais, detendo-se no texto que relatava a origem de sua espada, A Conquistadora; sem dúvidas, uma de suas aquisições favoritas. Seu aço foi retirado da Noite, ela foi banhada no ouro do Dia, mergulhada nos mares do Reino da Água e seu punho foi feito de uma árvore resistente, porém, maleável e leve, da Natureza. Pedras preciosas do Reino da Terra vieram para enfeitá-la, e até mesmo foi abençoada pelo sopro do vento vindo do Ar.

A arma foi feita especialmente para um rei que desejava presentear seu filho mais velho. Ele era soberano do Reino do Dia e o jovem príncipe se preparava para tomar seu lugar, substituindo-o no trono. O rapaz ficou encantado com o presente, beijou as faces do pai e o agradeceu.

Um dia o príncipe estava passeando com sua espada embainhada na cintura, ele nunca a deixava longe. O cabo repleto de pedras preciosas chamou a atenção de alguns ladrões. O príncipe lutou, mas não foi capaz de vencer e teve a vida ceifada pela própria lâmina. Dias depois, ainda em luto, o rei recebeu dos guardas a dita espada. Ele a segurou a olhando firme por longos minutos, depois a amaldiçoou e mandou que a levassem para longe, onde nenhum homem morresse novamente por seu fio.

A informação correu e vários tentaram encontrar A Conquistadora. Com o tempo, a arma foi moldando-se em si mesma, tomando várias formas, mas a maldição nunca a abandonou, munindo o objeto de uma energia densa e negativa, que potencializava o ódio de seu portador.

Quem a empunhava deveria saber utilizá-la, ou então era dominado por sua incontestável força. Sorriu, satisfeito ao ter conseguido apoderar-se daquele bem, mas no momento, desejava um outro, ainda mais poderoso. O espírito corrompido de uma divindade, que foi levada ao seu extremo até enlouquecer por conta do cativeiro.

Os dedos longos correram novamente, alcançando o capítulo denominado "Ravena". Lá estava toda a história da deusa, seu nascimento, atribuições, canções de guerra e seu declínio, maldição e como libertá-la, porém, esta não era a intenção dele. A mulher corvo o serviria melhor escravizada, um recurso mais valoroso do que A Conquistadora na batalha para dar aos híbridos a tão merecida vitória.

Estava perto, Ambrógio sabia exatamente onde encontrá-la.

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Olaaaa meus corvinhos lindos, saudades ❤❤❤❤❤

Eu ia começar a postar a história somente em Novembro, maaasss como o Corvo da Meia-noite foi escolhido como finalista do Wattys 2017 decidi comemorar com vocês.

Vamos torcer pessoal ❤❤❤❤

2. Despertar da Meia-Noite [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora