IX - Helena

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Nos seus sonhos, Helena tentava encontrar tranquilidade. Uma chance de descanso antes de se colocar de frente, sozinha, no governo de todo o reino de Ur.
Quando se deitou, Helena tentou pensar em coisas felizes e em como rapidamente tudo voltaria a ser como sempre fora... o máximo de normalidade que eles pudessem alcançar no momento, isto é.
Fora pro seu quarto no fim daquela primeira noite sem seu marido com uma horrível aperto envolta de seu coração. Helena gostava de se considerar uma pessoa afetiva, que criava laços sinceros com outras pessoas, e que conseguia sentir quando estavam numa situação de sufoco, o que a deixava muito preocupada.
Dormira para espantar os maus pensamentos e para que um sonhos feliz a desse pensamentos felizes que regassem aquele segundo dia.

Helena caminhava pelo que parecia ser o comercio de Ur. Era um sonho normal, algumas partes ela podia ver claramente em sua frente, outras não passavam de um borrão ao seu lado.
O comercio estava fechado, o que não era normal na região de Ur. Os comerciantes eram árduos trabalhadores e dificilmente todos eles fechavam seus negócios no mesmo dia.
A rua estava deserta, mas Helena percebera um movimento estranho mais a frente. No caminho que leva para o castelo, várias pessoas passavam a passos largos, falando alto e com altos níveis de entusiasmo.
Helena, que observava tudo aquilo de longe, decidira se misturar e acompanhar o grupo aonde quer que fossem. Se aproximara dos apressados e ninguém parecera se dá conta de quem os acompanhava, uma sensação que Helena não conhecia a tempos.
- Eu nunca pensei que isso aconteceria. – falou um dos entusiasmados ao lado da rainha
- Ele sempre tivera uma cara de mau.
- Eu não acho que a rainha goste dele.
- Nem o rei gostava... por isso ele nunca tivera chance.
- Será que tudo vai ser diferente agora?
A perguntara ficara em aberto entre os entusiastas conversando, pois ninguém parecia saber a resposta para essa pergunta.
Helena continuou a segui-los e se via adentrando um local que conhecia muito: o salão ao lado do Castelo Real.
Exatamente como se encontrava um dia atrás, mesas estavam espalhadas por todo o salão junto a toda uma decoração especial para festas.
No fundo do ambiente, onde a grande mesa estava disposta durante a recepção a Edgar, um pequeno palco se encontrava no lugar.
Juntos na ponta do palco, Zachary e Charles podiam ser vistos. Pietro estava sentado numa cadeira posta no centro da plataforma. Para a surpresa da rainha, ela encontrava-se também no palco, ao lado de Oliver, Joyce e Lyvia.
- E agora... – a Helena que estava no palco era diferente. Parecia cansada, fraca e triste. Muito triste. – Eu vos apresento sua nova majestade real, Pietro Jackson.
Helena acorda com sua filha lhe chamando.
- É o arqueiro, mãe. – Lyvia calmamente a explicava, percebendo seu espanto a despertar – Ele está lhe procurando.

Depois de uma ida ao banheiro acompanhada de uma lavada no rosto para despertar por completa e se desligar completamente daquele sonho, Helena fora direto para a sala dos tronos.
Ao abrir a porta, encontrara um Charles apreensivo caminhando de um lado para o outro.
- Rainha! – falara Charles imediatamente se curvando quando percebera a presença de Helena no ambiente.
- Eu já disse que não precisa fazer isso toda vez que me vê, Charles.
- Eu sei, rainha, é um costume. A tradição.
- Eu não sou uma mulher de tradições, pessoalmente – Helena sentava no seu trono sentindo o vazio deixado no trono ao lado – Se não quebrá-las, como seguiremos em frente?
- A senhora está certa, rainha...
- Mas eu acredito que não seja sobre tradições que você tenha vindo falar, não é?
- Não, senhora. – Charles olhava para baixo. – É sobre isso. – Charles colocara a mão no bolso e de lá tirou um pedaço de papel que parecia amarrotado pelo tempo. O papel era amarelo por causa do tempo, mas a tinta que Helena descobrira quando o abrira era nova, recente, não podia ter sido escrita a mais de três dias
.
À rainha, a qual respeito aqui me falta.
Que isso sirva de exemplo, nas suas terras não posso praticar magia,
mas isso não me impede de praticar meus atos mais humanos
.
Coisas que não precisamos de magia para realizar.

Assinado carinhosamente por Hera, que tão firmemente deseja
ter sua inimizade.

Helena não sabia como reagir aquilo, era claramente uma mensagem de guerra. Era isso que temia desde o começo. Era isso que Richard não queria acreditar que podia acontecer. Tudo que eles fizeram até o momento fora encarado como um ato de guerra e o problema com atos de guerra é que eles são respondidos.
- O que é "isso" que ela se refere na carta, Charles? – Helena mantinha seu tom de voz o mais normal possível.
- Não é comigo, senhora, é com a pessoa que recebeu a carte, rainha.
- E quem seria essa pessoa, rapaz?
- Eu, minha senhora. – uma criatura saíra das sombras da sala dos tronos se fazendo notar pela primeira vez desde que Helena entrara. O sujeito tinha um tapa-olho no olho esquerdo, mas Helena sabia quem era logo na hora.
- George! O que fizeram com você?

- Eu estava com a minha esposa, minha rainha, era um dia normal – George se portara de frente ao trono da rainha e começara a contar sua terrível experiência com Hera – Eu tinha conseguido um dia de folga depois de muito tempo, a senhora sabe, é, muito trabalhoso o serviço no Triângulo. Do nada, quatro mulheres estavam na minha porta. Eu achei curioso, e até falei na hora, o fato de todas terem os cabelos diferentes. Uma tinha cabelos loiros, outra castanhos, a terceira era ruiva e ela... Hera. A de cabelos morenos. Ela que entrou na minha casa enquanto as outras esperavam do lado de fora.
"Você é um homem de bem, não é, George?", ela perguntou.
"Eu gosto de pensar que sim", eu respondi.
"Bom... eu gosto mais desses", e ele ia se aproximando de mim, "agora, eu não quero que você pense nisso como algo pessoa, eu só preciso mandar um recado, uma mensagem para a mulher lá de cima. Eu pessoalmente te acho uma graça, George, de verdade."
Depois disso, a demora foi ela encontrar a faca guardada na cintura. Foi brutal. Na hora, foi tão intenso que nem a dor eu senti. – George falara sem pausas, já tinha superado aquilo com a força que Helena reconhecia nele.
- George... george... eu não sei o que dizer. – Helena se sentia doente, passava mal. Tinha um nojo que crescia dentro dela por causa disso. – Eu sinto muito, George, eu nunca poderei te recompensar por isso.
- A senhora não precisa, minha rainha. – George levantara a cabeça – Não foi a senhora que fez.
- A culpa é minha... a culpa é nossa. – Helena pensava sobre tudo e tudo parecia levar para o fim. A viagem de Richard, seu sonho e agora esse ataque das bruxas. Tudo se encaixava, tudo se conectava, tudo levava para um só lugar: guerra.
Helena era a única governante em Ur nesse momento. O papel de governante e protetora era dela e ela precisava fazer algo a respeito.
- Elas foram embora na mesma hora, não foi, George?
- Sim, minha senhora, devem estar longe daqui.
- Mas vocês não acham que devem ter algumas aqui ainda?
- Sim, minha senhora – Charles falava pela primeira vez depois de um longo silêncio. – Para vigiar, nos observar.
- Então, é isso, rapaz. Chame Zachary e William. Nos vamos numa caça às bruxas.

O Veleiro Negro - As Crônicas de Ur IIOnde histórias criam vida. Descubra agora