III - Pietro

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Pietro cerrava os olhos enquanto se arrastava pelos matos. Vira alguma coisa, não estava ficando louco. Estava na Academia Militar e Artes Maciais de Ur, onde dava aula a vinte orgulhosos anos e escutou algo diferente vindo de fora. Não era um barulho de um animal normal, não. O som era vil e passava uma ameaça para Pietro. Tinha anos de combate, anos que se via de frente com o perigo, sabia quando a ameaça era real e dessa vez tinha certeza. Quando olhara pela janela de uma das áreas onde ensinava, viu pontos vermelhos vindo dos matos. Era estranho, tinha um brilho próprio que acompanhava o som vil que Pietro escutara. Não podia esperar.

- Esperem um minuto. – e abandonou a aula. Não tinha muito tempo, de qualquer jeito, todos estavam sendo liberados para a chegada de Edgar, de Mura, e isso nada agradava Pietro; Antes de sair, agarrou sua lança que sempre ficava perto da porta de sua sala, sempre o lembrando do guerreiro que uma vez foi e tudo aquilo que podia passar para seus alunos.

Pietro agora se esgueirava pelos matos seguindo somente o som percebido por sua aguçada audição. Se orgulhava, claro. Depois de tantos anos servindo como professor, um pouco de ação não o faria mal. Gostava de servir na proteção de seu querido reino, Ur, mesmo que fosse uma pequena – e desconhecida- ameaça.

Pietro continuava e se frustrava por o único som de passadas vinham dos seus pés. Escutava um barulho ainda, porém, produzido pela criatura. Era um sibilo produzido pela boca de algum animal, Pietro reconhecia.

A medida que se metia mais adentro do mato, o esforço começou a dar resultados. Os sons aumentavam, e agora, misturados ao sibilo produzido pela criatura, Pietro escutava as passadas rápidas e violentas do animal. Brutas investidas contra o chão na tentativa de escapar.

- Se revela, bestial criatura, sei que está aqui! – Pietro desconfiava da situação que esse animal aparecera. Ele devia estar parado, observando Pietro esse tempo inteiro que dava aula para os futuros defensores de Ur. Isso era um atentado! Podia esse serem mais que simples animais?, pensou Pietro. A tempo que não via que criaturas que se passavam por animais, mas esses não eram tempos fáceis. Baseado em suas conversas com Richard e Helena, Ur poderia estar perto de verem novos tempos de luta contra as bruxas, e Pietro não sabia o que pensar disso. Era uma oportunidade de luta, claro, mas poderia ele lutar novamente? Não era mais o jovem que salvou Ur junto ao grande Rei Richard. Era um senhor que passara tempo demais com crianças e a tempos não segurava sua lança, como o fazia agora. Perdido em seus pensamentos, Pietro andara o suficiente sem perceber. Agora se via de frente com a bestial criatura que chamara sua atenção. De frente a ele, postava-se uma criatura do tamanho de um Lobo-das-selvas com pele negra como a noite e os olhos vermelhos que queimavam as pupilas de Pietro.

- Fique parado e prepare-se para o abate, vil criatura. – Pietro segurava sua lança do mesmo jeito que segurou no ataque a Torre Viva e se preparava para ir para cima do animal com toda sua força. A criatura, porém, uivou com todo o seu pulmão e atacou Pietro mais rápido do que ele poderia imaginar. O animal, rapidamente, dominou o conselheiro. Agora, em cima de Pietro, olhava com seus olhos vermelhos dentro dos verdes de Pietro.

- Não é hoje que eu morro, cão maldito!

Pietro juntava forças, mas não era suficiente para empurrar o animal. A esse ponto, a lança de Pietro já estava a metros de distância e nenhum dos estudantes ou outros professores o ouviriam pedir socorro. Nem iria pedir, de qualquer maneira. Se fosse para viver, seria por mérito próprio. Se fosse para morre, Pietro pensava o mesmo. Tinha que ser por mérito próprio.

A visão de Pietro começou a falhar e tudo ao seu redor ficara embaçado. A imagem do grande Lobo em cima do seu corpo começara a ficar turva e começara a se misturar com a imagem de uma mulher vestida com uma espécie de túnica, parecida com a dos Sacerdotes dos Deuses. A mulher riu para Pietro e ele podia jurar ter escutado "Não agora. Ainda nos servirá" e logo depois viu o lobo perder o interesse nele e correr para longe.

O Veleiro Negro - As Crônicas de Ur IIOnde histórias criam vida. Descubra agora