JUNTOS PARA SEMPRE

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Casar, não casei.
Era muito cedo. Dezessete anos.
O que eu iria fazer casada aos dezessete anos?
Tentei tirar aquela ideia da cabeça de Rubinho. Não era tanto pela falta de dinheiro. Ele trabalhava com meu pai em uma das locadoras da família e, certamente, vivia bem melhor do que a maioria dos namorados que eu já tivera.
   Não, não era isso.
   Nem eu sabia ao certo o que era. Eu não estava muito convicta dos meus sentimentos. Não o suficiente para casar, ter filhos. Tinha medo até de pensar em uma vida longe dos meus pais.
  Pai jê, Jenilton para os que não eram íntimos dando tudo, fazendo tudo, autoritária voz de meu destino, dizendo o que fazer, o que dizer, pra onde ir. Mãe Sônia, figura apagada, submissa, concordando sempre, dando carinho de mais.
   Eu não sabia se estava preparada para larga tudo isso. A responsabilidade por mim mesma e por um filho que Rubinho tanto queria ( ele simplesmente não falava de outra coisa) simplesmente me apavorava.
  Casa.
  Família.
  Filho ali - chorando, pedindo, exigindo, solicitando sempre.
   Marido.
   Responsabilidade.
   A palavra medo rimava com todas.
    Casar ?
    Se você não quiser casar, a gente se ajunta, sugeriu Rubinho.
    Tudo parecia fácil. Tudo me assustava.
     Andava confusa e Rubinho pressionando, querendo falar com meu pai. As provas de final de ano chegando, e Rubinho impaciente. Eu tendo de tirar notas bastantes convincentes em matemática e física e Rubinho, como um bobo, fazendo planos pro futuro, falando de pezinhos de criança batendo no chão de nossa casa.
  Confusa, tinha horas que eu queria ficar com ele para sempre e, noutras tantas, morria de medo. Eu, no fundo, no fundo, era a própria imagem da contradição.
   Numa hora a gravidez me assustava. Noutras me via sozinha no quarto, colocando o travesseiro de baixo da blusa me olhando no espelho, sorridente, adorando aquele perfil de gestante.
   Bonito barrigão, mamãe!
    Sim.
    Não.
    Sim.
    Não.
  Uma grande confusão.
- Nós vamos ficar juntos pra sempre - repetia Rubinho, querendo falar com meu pai, querendo e prometendo mudos e fundos. Um lar para nós três. Quem sabe quatro, cinco ou seis ?
  Eu brincava e ele falava sério de mais. Desconversava e ele não me deixava em paz. Acabei concordando. Mais deixando ele ir do que o levando.
  Papai ouviu. Mamãe também. Rubinho, constrangido, nervoso, falando e falando, fazendo eu rir de vez em quando. Papai fazendo as perguntas comuns aos pais preocupados do resto do mundo; no fundo, ainda olhando para Rubinho desconfiado, não acreditando na sinceridade e na durabilidade de um casamento tão prematuro.
- Por que toda essa pressa? Aconteceu alguma coisa?
   Olha pra mim, olha pra ele. Olha pra nós dois. Desconfiança nos olhos. De repente, vencidos os frágeis muros de um formalismo injustificado, papai se transforma no senhor Jê que todos na vila conhecem. Duro, ríspido, autoritário.
  Mentimos pra ele. Não foi muito decente, mas foi o mais breve possível. Mais umas linhas de cinismo no grande livro da hipocrisia mundial.
- Já pensou o que vão dizer da filha da gente se souberem que ela e o namorado..... Você sabe...
   Dava para ouvir papai falando.
Foi melhor mentir.
Todos ficaram felizes e a minha imagem de virgem imaculada sobreviveu a qualquer processo precoce de corrosão.
   Viva! Viva! Viva!
    Todo mundo acabou feliz.
    Rubinho sorria e parecia se divertir muito ouvindo as piadas sem graça que meu pai gostava tanto de contar, principalmente para si mesmo, e das quais a mamãe ria a mais de vinte anos. Ele não era mais feliz unicamente por falta de espaço.
    Irmanados em algumas garrafas de cerveja, tornaram - se cúmplices em piadas piores e gargalhadas maiores para as quais chamaram vizinhos e amigos. Acabaram bêbados.
  Grande comemoração!
Briguei com Rubinho. Senti - me uma verdadeira idiota, eu falando e ele rindo, se equilibrando para não cair. Eu falando e ele rindo pra mim de mim.....
  - Eu estou tão feliz... Eu estou tão feliz...
   Não avia outras palavras em sua boca
- Eu não sei se e possível tanta....tanta felicidade...
  Acabei sem saber o que dizer, aborrecida mais sorrindo, querendo brigar mais divertindo com Rubinho de pilequinho, falando bobagens apaixonadas
  - Nós vamos ficar juntos para sempre... Pra sempre... Pra sempre....
   Abracei - o com força, mais na quele momento descobri que realmente o queria pra mim.
    Para sempre!!!

Um sonho dentro de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora