BEM LONGE DE TUDO

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   Meu pai, à medida que o tempo passa, é apenas um homem que vem e vai em torno de mim. Silencioso. Melancólico. Um estranho de voz sumida e mãos trêmula.
   Mal o vejo. Quando o vejo, encontro - o bêbado, arrastando - se rapidamente para o quarto ou para o banheiro - depende de seu estado - para longe dos meus olhos. Minha mãe o carrega. Preucupa - se com a imagem que ele sempre teve diante de mim e dos outros. Minha mãe quando não precisa parecer forte para mim e para ele, chora e chora a qualquer hora, pelos cantos. Eu já a surpreendi sentada sozinha na praça, olhando para longe, para dentro de si mesma, os olhos marejados de lágrimas.
   Minhas amigas desapareceram. Ninguém aparece. Ninguém liga. Quando ligo, nunca as encontro. Esbarro nas vozes invariavelmente gentis mas preocupadas de alguns pais ou de empregadas que não sabem mentir.
   A mentira é uma ciência.
   A solidão, uma perspectiva palpável.
   Muitas vezes é preferível a solidão aos olhares cheio de curiosidade e às palavras de falsa solidariedade de algumas pessoas. Já briguei com uma de nossas vizinhas, que passou o dia inteiro atrás de informações sobre minha doença.
   Foi Rubinho que te passou essa coisa?
   Essa coisa pega?
   Você sente dor?
   Da vontade de transar depois que se pega essa coisa?
   E a criança? Se essa coisa estive dentro dela...
  Você pensa nisso?
   Não tem remédio para essa coisa coisa, não é mesmo ?
   Foi muita irresponsabilidade do Rubinho te passar isso, não é?
   Eu gritei. Eu chorei. Eu a empurrei para fora do meu quarto e da minha vida com raiva de tudo, com raiva do mundo. Não quis sair mais para lugar nenhum.
   Inferno de preconceitos e incompreensões.
   Vejo gente que me conheceu a vida toda, e que me tratava com tanto carinho, fugindo de mim, vejo mães afastando seus filhos de mim. Vejo medo em seus olhos.
   Decide esquecer tudo. Fugir da falsa piedade de alguns e da ingratidão de outros tantos. Decide a dar todo tempo que eu tinha a mim mesma e esquecer todo resto.
   Simplesmente parei de ter ilusões.
   Sinto - me uma bomba relógio. Posso explodir a qualquer momento. Estou na vida de passagem. Baldeação na encruzilhada da estrada do infinito. Preparando - me para outra viagem, e outra viagem e outra viagem. Quero acreditar, e nos últimos dias, mais desesperadamente, que há algo além do fim.
   Gostaria que fosse um novo começo.
   Mais e mais. Sinto - me só. Se não fosse por meu filho, a preucuoação incortonavel com o seu destino, eu já teria enlouquecido aos pouquinhos. Fico bem longe de tudo e de todos, esperando por coisas que desconheço, pessimista, por infernos ainda maiores.
   Contraditoriamente, dói menos. E melhor do que enfrentar o silêncio devastador de minha mãe, as bebedeiras de meu pai, os olhares de vizinhos e o desaparecimento dos amigos. E melhor do que ter que atender parentes cheios de comiseração ou carregados de censuras. É melhor ter a solidão como companheira de infortúnio que a voz da carola da vila, falando de arrependimento e do preço do pecado, como se ela tivesse procuração de Deus para perdoar e conceder salvo - condutos para o céu.
   Estar só, definitivamente, e o menor dos meus problemas.

RECADO
OIIM PESSOAL MIL DESCUPAS PELA DEMORA COMO EXPLIQUEI ANTES TIVE UM BEBEZINHO PREMATURO QUE PRECISA DE CUIDADOS POR ISSO A DEMORA MAIS TENTAREI POSTA PELO MENOS UMA VEZ NA SEMANA OK BJS ❤

Um sonho dentro de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora