REVELAÇÃO

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   Todo mundo ficou com medo de que eu perdesse a criança. O choque foi tão grande que eu simplesmente desmaiei e, depois que voltei a mim, não conseguia, não queria e chegava a brigar com quem dissesse que Rubinho estava morto.
- É mentira! É mentira! - Gritei e gritei várias vezes correndo de um lado para o outro, transtornada.
   Liguei para a casa de Rubinho. Não queria acreditar em ninguém. Discuti com minha mãe quando ela quis me acalmar. Empurrei e xinguei as garotas. Chorei ao telefone quando o irmão dele me contou tudo...
- É mentira! É mentira... - insisti, angustiada, encostando-me na parede para não cair. -  Por que vocês estão fazendo isso comigo?... Por quê?
   Eu não queria acreditar.
- Isso não é brincadeira que se faça... Não é... Não é...
   Mas não era brincadeira. Não era.
   Rubinho estava morto. Tinha se suicidado.
- Por quê? Meu Deus, por que ele faria isso?
   Eu tinha que ir na casa de Rubinho atrás de uma resposta. Meu pai - assustado, amedrontado, tão confuso quanto eu - não quis deixar e nós brigamos. Gritamos um com o outro e ele chegou a levantar a mão para me bater, menos por raiva, mais pela impaciência de tentar entender - como eu - e não compreender. Não recuei. Ele baixo a mão e, pela primeira vez em muito tempo, encontrei um pouco de carinho em seus olhos, na maneira como seus dedos tocaram meu rosto, em sua voz quando disse:
- Vai, filha, vai...
   Saí. Mamãe me acompanhou.
   Todos na casa de Rubinho estavam absolutamente chocados. A mãe dele nem se quer nos olhou quando entramos na sala. Olhava para a televisão ligada, os olhos ainda úmidos e empapuçados. Mesmo o pai dele parecia desorientado, as mãos trêmulas, fumando um cigarro após o outro. Tinha horas em que eles não diziam coisa com coisa. Comfundia o filho mais velho com Rubinho. Depois de nos ver entrar e de começar a caminha ao nosso encontro, voltou sobre os próprios passos e se refugiou na cozinha. Nós o encontramos apoiado na pai, chorando.
- Por que ele fez isso, seu Amílcar?
   Quando ele se voltou e me encarou, eu me apavorei. Havia mais medo, do que dor em seus olhos.
- Filha... Filha... Filha... Pobre criança... Pobre criança...
   Ele não conseguia dizer nada além disso, completamente transtornado.
   Insisti. Foi inútil. Ele me abraçou com força, tremendo incontrolavelmente, repetindo aquelas mesmas palavras.
- Pobre menina... Pobre menina....
   Depois de alguns minutos, nem isso. Apenas chorava.
   Quando ele se desvencilhou de meus braços e sai da cozinha, eu quis ir atrás dele. César, o irmão mais velho de Rubinho, não deixou.
- Eu preciso saber, César eu preciso saber porque Rubinho se matou.
   Ele fugiu do meu olhar, embaraçado.
- Olha, Ana...
- Você sabe num sabe César?
- Eu...
- Por favor César, me conta. A gente ia se casar, o Rubinhos estava tão feliz. Eu preciso saber.
- Eu não sei...
- Eu estou me sentindo culpada de...
- Mas que bobagem Ana! Você não tem culpa... Culpa, você? Meu Deus Ana você... Você.... Você...
- Eu o quê? Por favor, César....
- Você talvez seja uma vítima.
- Como é que é?
   César hesitou por um estante, mais finalmente respondeu:
- O Rubinho estava com AIDS, Ana....
   Minha surpresa e estupefação foram tão grandes que eu não consegui dizer mais nada. Fiquei olhando para César, piscando nervosamente, boquiaberta, meu rosto repentinamente afogueado, brilhante de suor, empalidecendo terrivelmente.
- Hem?
   Olhei para minha mãe. Horror e medo misturavam se em seu rosto. Ela começou a chorar. Não parou mais. Eu também choraria se não estivesse tão surpresa tão assustada. Se soubesse o que fazer.
   AIDS. Rubinho estava com AIDS. Rubinho estava com AIDS e se matou porque estava com AIDS e não havia nada do que fazer, a não ser morrer. Rubinho sabia como era e como se morreria de AIDS e preferiu se suicidar.
   O bilhete que ele deixou e que César mostrou antes de eu sair não explicava muita coisa. Parece que não havia muito de sr dizer. Estava junto com o resultado de exame médico que ele fizera. O bilhete, o exame e, no fim do bilhete, uma preocupação.
   Peça para a Aninha fazer o exame...
   E um último pedido...
.... E peça que ela me perdoe. Eu não sabia. Juro que não sabia não sabia....
   Ele repetiu duas ou três vezes no bilhete...
   Eu não sabia.
   Eu não sabia.
   Eu não sabia.
   A verdadeira consciência do que tinha realmente acontecido só veio a mim algum tempo depois.
  Medo.
  Pavor.
  Depois daquele dia, eu nunca mais consegui dormi direito.

BOM ESTOU DEMORANDO PRA POSTA PORQUE ANDO MUITO OCUPADA MAIS VOU FAZER O POSSÍVEL PRA POSTAR UM CAPITULO TODOS OS DIAS

Um sonho dentro de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora