TAL PAI, TAL FILHO

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Agarrei a mão de minha mãe com força e olhei para meu pai atrás de um sorriso de otimismo. Ele não o negou e ainda disse um monte de coisas, a maioria se perdendo no corredor frio e cheirando éter que levava a sala de operações.
   Eu não queria me sentir só. Rezei. Como nunca pensei que rezaria. Separei - me de minha mãe apenas na sala de operações. A doutora não deixou que ela entrasse.
   Corri para dentro de mim e procurei me refugiar nas trincheiras de estatísticas favoráveis e de entusiasmo juvenil de Paula e dos outros.
- Vai tudo dar certo. Vai tudo da certo. Vai tudo da certo - repeti interminavelmente, enquanto a doutora repetia ordens e pedidos, insistindo em que eu fizesse coisas e ajudasse no nascimento de meu filho.
- Rubinho...
   O nome dele apareceu em meud lábios quase sem querer mais ainda envolvido numa paixão inesquecível. Repeti mais vezes a voz sumida, o corpo experimentado torpores e formigamentos desconhecidos. Teve horas que cheguei a temer que tudo saísse errado, que me filinho não nascesse ou, pior, nascesse morto.
   Chorei e chorei muito. Quase me desesperei enquanto a doutoura e os outros se esforçavam para traze - lo à vida.
- Não, meu Deus... Não... Não...
   De repente, o alívio. Senti algo deslocar - se mansamente de mim para a existência e vi a doutoura ergue - lo em triunfo. O tapa estalou na tensão de meu silêncio e o seu choro assustado encheu a sala de flores, cores mágicas e tranquilizadoras de um grande arco - íris.
   Sorri.
- Meu filho...

Um sonho dentro de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora