Amanhecer

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Acordei de manhã com um pouco de claridade da janela. Sozinha na cama. Naquele momento senti frustração e tristeza. Acho que o que me tinha feito dormir tão bem era o saber que ela estava ali. Mas agora não estava e fiquei logo mal disposta, tive de correr para a casa de banho vomitar. Fiquei logo mais que acordada. Minha mãe tinha dito que fazia almoço lá em casa, decidi tomar banho para ir, aliás não queria ficar ali em casa com a lembrança de ela ter estado lá e ter ido embora. Fiquei triste, as lágrimas caíram pela minha cara sem eu querer.

Depois do banho, tomei um comprimido para a ressaca, porque a minha cabeça doía que se fartava. Ouço barulho na porta, venho até a sala e vi que era ela a entrar.

E: Já estás acordada? Estás bem?

Ela estava ali, com um saco de compras, com as minhas chaves, reparei que o casaco dela e telemóvel estavam no balcão, nem tinha visto antes de tão certa que estava que ela me tinha deixado ali sozinha.

E: Que cara é essa? Estiveste a chorar?

M: Estou mal disposta, dói-me a cabeça. É só.

E: Não. Estiveste a chorar. Porque? Achavas que eu tinha ido embora?

Não sabia o que responder, não queria dizer que sim, mas não me interessava que ela soubesse que sim.

E: Eu só vou embora daqui se tu me mandares embora. 

Diz ela enquanto se aproxima de mim até chegar frente a frente.

M: Podes ir embora quando quiseres.

E: Eu sei. Mas eu não quero ir.

E enquanto diz isto passa as mãos na minha cara como que a limpar as lágrimas e beija-me. Parecia que estava no bar outra vez, sem forças nenhuma para resistir. Beijei-a de volta, cheia de intensidade. Ou por ela estar ali quando eu pensava que tinha ido embora, ou por eu querer que ela estivesse ali, e com esse sentimento que tinha, tinha de aproveitar tudo dela naquele momento porque se fosse pensar naquilo ia parar e eu não queria parar. Ela tentava abrandar o ritmo, mas eu não deixava. Caímos na cama e ela continuava a lutar contra a minha intensidade. Até que põe o braço dela no meio peito, olha-me nos olhos e para. Aquele olhar dizia qualquer coisa como "calma, eu não vou sair daqui e isto não vai acabar já" e abraça-me. Era aquele abraço que eu precisava, a angustia, a confusão começaram a passar para calma, para alivio. Eu não queria mais nada da vida senão estar naquele momento. O aconchego daquele abraço que me fazia sentir bem, sentir que o mundo podia desaparecer lá fora que eu não me importava. Começou a beijar-me suave, aquele beijo pelo qual eu implorava todas as noites antes de dormir enquanto pensava nela. Ela ali era minha e entre muitos beijos, mais abraços e muito sexo passaram-se horas. Ela deixava-me excitada como nunca ninguém me tinha deixado, ela fazia-me ter orgasmos como nunca tinha tido, mas olhar nos olhos dela e beija-la era tudo o que eu mais queria. Nunca tinha sentido nada assim, era tudo melhor com ela. Aliás era só com ela que eu queria aquilo tudo e no meio daqueles sentimentos todos veio-me a cabeça que eu continuava completamente apaixonada por ela, e soube tão bem saber isso, sorri, ela devolveu o sorriso como se soubesse o que eu estava a pensar.

A meio da tarde o meu telemóvel tocou mas nenhuma de nós ligava, era minha irmã, eu tinha ficado de ir a casa dos meus pais e ela estava lá de certeza e eles devem ter pedido para ela ligar. Ema estava abraçada a mim, com a cabeça no meu peito de olhos fechados, ao vê-la assim tão serena não queria que aquele momento acabasse, nem fiz um esforço para atender o telemóvel. Ema dormia. Noite anterior e esta de certeza que não tinha dormido nada, mais o dia e noite passada, foi vencida pelo cansaço. De todas as vezes que tínhamos estado juntas nunca tinha dormido assim tão próxima de mim. Sentia a respiração dela a dormir, as sardas da cara dela, os olhos com um pouco de lápis, o corpo dela colado ao meu, fazia-lhe caricias na cara no cabelo, beijava-lhe a testa, estava no paraíso por te-la ali nos meus braços.

Infinitos  (História Lésbica) -completa-Onde histórias criam vida. Descubra agora