O Trail

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Meu nome é Mara, a história que vou contar é pequena, mas é a melhor da minha vida, aquela que ainda faz o meu coração bater mais depressa sempre que lembro dela.

Sou de Aveiro, estudei em Aveiro, trabalho em Aveiro, sou Contabilista, sempre gostei de desporto, sempre pratiquei desporto, mais propriamente futebol, mas a alguns anos atrás apaixonei-me por corrida, comecei a correr praticamente todos os dias, quando dei por mim fazia meias maratonas e maratonas fácil. Foi quando comecei a participar em Trails para dificultar. Estava viciada. E num desses Trails a minha vida mudou.

Num domingo de manhã lá acordo o Renato para irmos para a Serra do Luso, ele odiava-me por isso, mas a Serra do Luso era relativamente perto, 1h de viagem, e como tinha de estar lá as 8h da manhã bastava acordarmos ás 7h, não foi muito grave, já o tinha feito levantar uma vez as 5h da manhã. Pois verdade, esqueci de dizer, Renato era o meu namorado, com quem vivia a 3 anos, com quem namorava a 4 anos. Antes dele tive o Miguel com quem namorei por 3 anos, antes do Miguel o Carlos que namorei por um tempo que já não me lembro quanto. Sempre namorei rapazes, sempre fui muito pretendida por rapazes, na escola secundaria namorei com o rapaz mais bonito da escola. Naquele momento, o Renato fazia-me bem, dava-me segurança, paz, tínhamos o mesmo grupo de amigos, conhecíamos as mesmas pessoas, jogamos futebol no mesmo clube, havia muita cumplicidade, tínhamos muita conversa em comum, era uma boa parte da minha vida, era o meu porto seguro.

Saímos de casa, apanhamos a minha irmã e o namorado e lá fomos para a Serra do Luso, eu contente e entusiasmada, eles com cara de quem me iam matar mais cedo ou mais tarde por os ter obrigado a levantar cedo. Deixaram-me no ponto de partida e lá foram eles passear pela Serra, tomar um bom café demorado primeiro, depois conhecer o sitio e depois esperar-me na meta. O costume quando iam comigo. Inicialmente corriam comigo, tanto Renato, como Júlio, o namorado da minha irmã, mas desistiram, diziam que eu era maluca e já há algum tempo que não me acompanhavam, nesses Trails principalmente. No entanto era gratificante chegar a meta e tê-los la a torcer por mim, por isso obrigava-os a ir comigo. O Trail começava as 9h, ia fazer 28km, o que em montanha era mais difícil, lá para a treze horas devia estar acabado.

Marquei a presença, deram o meu numero de identificação, o mapa, a altitude, parecia difícil mas não tanto quanto eu pensei que ia ser. No entanto tinha tido jogo de futebol sábado, dia anterior, e entre pisaduras e dores musculares estava um pouco dorida e naquele momento até sentia um pouco de preguiça. Era normal, era cedo, sabia que assim que começasse ia passar tudo. Fui para a partida. Bastante gente, não muitas raparigas, mas ainda eram algumas, na minha categoria já tinha ficado em 3 lugar, 2 lugar, queria o 1 lugar desta vez, fiz um scan geral sobre as minhas adversarias e só 5 ou 6 me pareceram qualificadas para me fazer frente. Deram o sinal de partida, os que não estavam habituados aos Trails correram logo como se ele fosse acabar em 5 min os outros preparados e a saber como era, começamos devagar, poupar e gerir energia é essencial. 

Uma hora de corrida, a paisagem era bonita, tinha chovido no dia anterior o que fazia tudo brilhar com o sol que estava. As nuvens não eram muitas, o calor também não, a correr estava sereno. Já tinha começado a subir, mas ainda não era a pior subida, a frente um posto de abastecimento, maças, água, vitaminas, sentia-me bem, peguei em água e segui caminho. Depois de duas horas a correr já se começa a passar por pessoas que já vão a caminhar, uma subida mais difícil, tenho a sensação que se caminho o meu corpo não vai reagir bem, mantenho o ritmo, chego a outro posto de abastecimento, já preciso de 5 min, bebo água, como uma banana, pego em vitaminas, olho o mapa e percebo que vamos começar a descer, passar um riacho, um terreno sem caminho. Eu gosto desses sítios sem caminhos, puramente montanha, com o tempo tinha aprendido a gostar deles e agora adorava, fiquei contente por ver que ia ser assim. Já só faltavam 12 km, comecei mentalmente a rastear as minhas adversarias, cheguei a conclusão que neste ponto não ia nenhuma rapariga a minha frente, só tinha de manter o ritmo e conseguia ser primeira, segui caminho. 

Infinitos  (História Lésbica) -completa-Onde histórias criam vida. Descubra agora