Capítulo 2

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" Não se espera por uma boa ou má notícia, essas coisas apenas entram e reviram sua vida"




Sabe quando parece que sua vida está uma loucura tão grande que você se perde em meio ao tempo? Isto estava acontecendo comigo ultimamente.

Desde que minha mãe faleceu, nosso restaurante havia sido fechado e colocar ele em funcionamento  estava me consumindo de tal modo que a ultima coisa que eu pensava era na falta que eu sentia da companhia da minha mãe.

Focar no trabalho de certa forma me animava, afastava os pensamentos ruins e me motivava a dar meu melhor para conseguir fazer dar certo o que quero.

Hoje era o primeiro dia de funcionamento do restaurante, depois de ter a dor de cabeça de ir atrás de funcionários, correr atrás de pendências burocráticas e me planejar financeiramente era muito bom, ver o restaurante enfim funcionando.

– Hey, pessoal, peço um momento da atenção de vocês – Caminho até o centro da cozinha, que era o local mais espaçoso e chamo todos os funcionários com um gesto com a mão – Eu gostaria de agradecer a presença de todos vocês aqui, é uma honra tê-los na equipe do Müller's Bistrô, quero  que vocês saibam, que a partir de hoje somos como uma família e eu sempre prezarei pelo bem de vocês, muito obrigada por tudo.

— Uma salva de palmas para a patroa mais gente boa do pedaço! – Disse Caio, um dos garçons e o resto do pessoal começaram a bater palmas animados.

Ainda não conhecia muito Caio, mas ele era um rapaz moreno e alto, chuto a dizer que é o homem mais alto e magro que conheço, só que o que ele tem de altura ele tem de bom humor, adora contar piadas e tirar sorriso das pessoas, é uma pessoa agradável de se manter por perto.

– Que isso gente, não sou nada demais, vocês que são, nada disso seria possível sem vocês  – Digo empolgada saindo da cozinha em rumo à área interna do restaurante onde estavam dispostas as mesas.

A decoração se mantia intacta, mesas redondas de madeira com 4 e 6 lugares, havia uma bandeira enorme da Itália pendurada em uma das paredes, fotos antigas de festas que meus pais tiraram em  na Itália. As toalhas e os utensílios eram todos da cor da bandeira da Itália, antigamente eu diria para minha mãe que era muito clichê e que ela deveria procurar inovar, mas agora eu gostava do jeito que estava, simplesmente perfeito.

Alguns clientes comiam calmamente, uns conversavam e outros ficavam ao celular, provavelmente resolvendo negócios de trabalho, a hora do almoço sempre era agitado, me lembro de quando minha mãe tocava o restaurante, mas agora era estranho  ver poucos clientes no estabelecimento.

Um dos ensinamentos que minha mãe me passou é que se você quer mandar alguém fazer algo, antes disso precisa saber fazer tal coisa. Ela dizia que conhecimento é tudo, pois é vivenciando que aprendemos sobre o que temos que avaliar . E por isso, eu passei todo expediente trabalhando um pouco em cada setor. Trabalhei como garçonete, trabalhei no caixa, trabalhei na recepção, fiz o papel de gerente, lavei as louças, só não me atrevi a mexer na cozinha.

Sim, eu era uma descendente de italianos e não sabia cozinhar, minha mãe tentou me ensinar de todas as formas possíveis, mas tudo que eu tentava fazer ficava impossível de comer, eu realmente não tinha mão para a cozinha.

O expediente se encerra, me despeço de todos os funcionários e caminho exausta para a minha casa, que ficava do outro lado da rua, ela era pintada de azul claro com as janelas azuis escuras, minhas mãe tinha desenhando margaridas brancas em todas as janelas, tinha ficado uma gracinha, jamais teria coragem de fazer isso, mas aquele detalhe, fazia nossa casa se destacar perto das outras.

Como de costume logo de frente com a porta da entrada, ergo meu braço e tento pegar as chaves no vaso que estava pendurado no canto superior direito, mas não as encontro. Procuro na minha bolsa e também não acho, o desespero meio que começa a tomar conta de mim, puxo a maçaneta e percebo que está destrancada.

Será que esqueci de trancar a casa?

Fico pensando, revirando minha memória e eu jurava que tinha colocado a chave no vaso como eu sempre fazia, aquilo era um hábito que compartilhava com minha mãe.

Resolvo deixar aquilo de lado, a exaustão tomava conta de meu corpo e minha mente, precisava urgente de um banho e dormir. Jogo minha bolsa em cima da mesa que ficava na copa,  conforme vou andando tiro meu salto alto nude e ao chegar à cozinha levo um susto.

Tinha um homem comendo um sanduíche  mastigando calmamente  sentado na cadeira e permanecia com os pés em cima da mesa. Eu não sabia o que tinha me deixado mais irritada, o desconhecido invadir minha casa, comer minha comida ou ser um maldito folgado colocando os pés em cima da mesa.

– Saia da minha casa agora ou eu vou chamar a polícia – Rosno deixando minha raiva bem evidente.

– Calma ai anjinha, vai receber convidados desse jeito? – O rapaz se levanta dizendo num tom convencido  carregado de sotaque no qual me deixa ainda mais irritada.

– Anjinha o seu rabo, quero você fora da minha casa agora! – Vociferei me aproximando dele tentando parecer o mais autoritária possível.

O que de fato era difícil, o estranho era alto e pior ainda, era mais forte do que eu, só sua presença era completamente autoritária, me sentia oprimida somente pela nossa diferença de altura, mas era obvio que não iria mostrar minha fraqueza para o loiro de olhos oceânicos .

– Olha anjinha, acabei de chegar da Itália, não tenho onde ficar e você por mais estranho que pareça é a única pessoa que eu conheço nesta cidade.

Fico pensando, onde eu poderia conhecer alguém que mora na Itália e é um incrivelmente insuportável, eu não conhecia aquele homem, ele só podia estar confundindo as coisas.

– Não me chama com a porcaria desse nome – Digo irritada – Eu eu não te conheço de lugar nenhum... não, espera... você é...

Continuo a pensar e é quando o lampejo me vem, minha mãe morava na Itália, depois veio para o Brasil.

Como eu podia ser tão lerda?

O rapaz insuportável na minha frente só podia ser o dono da metade do restaurante que eu tinha que infernizar.

Clichê italianoOnde histórias criam vida. Descubra agora