Capítulo 2

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Entre as quatro paredes da sala de aula, eu era o primeiro a entrar, como de costume. Sentado em minha carteira, sentia a apreensão tomar conta de mim ao pensar em falar com Tyler. O tempo passava, e a sala gradualmente se enchia de alunos animados, que se sentavam enquanto conversavam. O professor adentrou o recinto e se acomodou em sua cadeira, mas ainda não havia sinal do rapaz que eu esperava.

A aula transcorria rapidamente, e, para minha decepção, Tyler não dava as caras. Resolvi pegar minha bolsa e sair da sala, seguindo o caminho de casa. Pelas calçadas vizinhas, caminhava com a mão deslizando sobre cada muro e cerca, sentindo a brisa gélida acariciar meu rosto.

Ao chegar em casa, fui imediatamente invadido pelo delicioso aroma de panquecas. Fechei os olhos, respirando fundo e deixando um sorriso satisfatório se formar em meus lábios. Deixei minha mochila no sofá e segui em direção à cozinha, onde minha mãe estava de costas para mim, ocupada com o fogão. O cheiro das panquecas já despertava minha fome.

— Mãe, a senhora aqui? — Perguntei, e ela me olhou com um sorriso. Minha mãe não costumava cozinhar muito, já que normalmente encomendávamos a comida.

— Sim! Me deu vontade... Ah, Ed! Você tem visita! — Ela respondeu, e aquela informação me pegou de surpresa. Curioso, me dirigi ao meu quarto. Subi as escadas e abri a porta, deparando-me com Tyler observando meus desenhos.

— Tyler? — Chamei, e ele se virou rapidamente para me encarar.

— Oi Ed! — Cumprimentou-me timidamente.

— Oi! O que faz aqui? — Perguntei, intrigado, e ele sorriu envergonhado.

— Bom... Eu vim pegar a matéria que perdi e me desculpar por te deixar sozinho ontem na festa. Juro que não tinha a intenção de subir para o seu quarto. Foi sua mãe que me mandou entrar e te esperar... Aliás, ela é bem legal — Explicou, coçando a nuca, e eu ri.

— Aposto que ela pediu para ficar e experimentar as panquecas! — Brinquei, jogando-me na cama.

— Sim! — Tyler riu.

— Por que saiu da festa ontem? — Perguntei, e ele ficou visivelmente desconfortável.

— É que... aconteceu um negócio e... — Começou a dizer, ficando nervoso.

— Você tem algo a ver com o que aconteceu com o Kaio? — Questionei, e ele negou rapidamente.

— Não! O que faz você pensar isso? — Respondeu, parecendo indignado com a suposição.

— Sei lá! Você anda estranho e foi embora assim que tentaram afogá-lo. Além disso, faltou aula hoje — Desabafei, desconfiado.

— Eu ando estranho? — Perguntou ele, fingindo rir, mas depois continuou de forma séria: — Não sou eu que falo sozinho, que fico te olhando com medo, que te ignora!

Senti uma tempestade de emoções varrer minha mente. —Tyler!!! Eu..." Tentei dizer algo, mas minha mente estava embaralhada. Estaria eu ficando louco?

— Tudo bem, Josh! — Ele disse, com voz tranquila. — Já parou para pensar que pode ser tudo coisa da sua cabeça?

— Eu não sou louco — Murmurei.

— Oque? — Ele parece não ter ouvido oque eu disse

— Quer ficar para dormir? Assim, eu já te passo a matéria — Mudei abruptamente de assunto, buscando evitar um confronto.

— Depois eu que sou o estranho! —  Tyler riu, levantando-se para pegar o celular e sair do quarto.

Minutos depois, ele retornou com um sorriso simpático e um prato com uma panqueca em cima. —Hum... Minha mãe deixou eu dormir aqui — Disse, com a boca cheia. —As panquecas da sua mãe são uma delícia!

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