Lies- André Silva

Capítulo 1

-Ema. Ema, anda aqui depressa- grita a minha chefe do escritório ao lado. Digamos que a Clara, minha patroa, é um pouco, quer dizer, muito apressada e histérica. Aposto que está para aí aos gritos e não é nada de importante.

-Já estou aqui- digo quando chego ao seu escritório- A onde é que é o fogo?

-Que fogo, mulher? Em fogo vais ficar tu quando eu te disser onde é que tu vais amanhã- digamos que a Clara fala bastante alto e apressadamente, não fosse ela uma mulher típica do Norte.

-Não me digas que me arranjaste uma viagem ao Inferno. Eu sempre quis conhecer uns tipos de lá- rio-me com a minha própria frase.

-Nada disso. Amanhã vamos as duas cobrir o evento de lançamento das novas chuteiras da adidas. Então que me dizes? Não é fixe?

-Ya, mais ao menos- encolho os ombros.

-Mais ao menos? Eu vou conhecer aquele homão da porra. O meu querido Iker Casillas- diz Clara super animada. Ela tem 30 anos, mas às vezes comporta-se como se tivesse 15 e andasse com as hormonas aí aos saltos.

-Sabes que ele é casado e, só assim por acaso, tem dois filhos.

-Sei, por isso é que já tenho um plano B. Também lá vai estar o Felipe, ou como eu gosto de lhe chamar, segundo homão da porra, e, segundo o que me disseram, o Óliver Torres e o Diogo Jota também vão. Já pensei em tudo. Dois para mim e dois para ti- diz visivelmente orgulhosa do que acabou de dizer, como se fosse uma grande coisa.

-Tu realmente não existes- gargalho- Olha está na hora de ir para casa. Até amanhã- digo despedindo-me dela e entrando no meu carro começando a conduzir em direção ao meu apartamento. Para quem não sabe, nasci no Porto, vivo no Porto, e sou Portista. Podem estar a achar estranho eu ter 21 anos e dar-me tão bem com uma mulher de 30 anos, mas parece que todas as pessoas da minha idade só me trazem problemas, talvez por isso me dê com pessoas mais velhas. Nunca fui uma pessoas com muitos amigos. Quer dizer, já fui e deixei de ser. Talvez eu tenha de admitir que não sou uma pessoa fácil de aturar. Não gosto de modinhas, não gosto de falar da vida dos outros, principalmente mal, não gosto de não me toques, não gosto daquelas squads de gajas que tiram fotos para o instagram mas por trás andam aí enroladas com os namorados das outras. Já fui quase assim. Já fui muito de olhar apenas para o meu umbigo e fazer apenas o que me apetecia não querendo saber quem atingia ou mesmo quem magoava. Mas a vida mudou-me. Tudo o que me aconteceu mudou-me, mas para melhor. Encontrei-me a mim mesma ao perder outras pessoas. Segui o meu sonho, tornei-me numa mulher independente e forte, pelo menos, eu gosto de acreditar que sim. A vida às vezes magoa, e chegamos mesmo ao ponto de acreditar que não servimos para certas pessoas, que não somos suficientemente boas, que somos difíceis de amar. Ninguém é difícil de amar, não quando encontra a pessoa que sabe amar cada pedaço dessa dificuldade. O pior é que às vezes esse amor não dura, e ainda pior, às vezes nunca chega a existir. E, então, tu desmoronas. Perdes as tuas paredes, com elas perdes os teus pilares de equilíbrio e eventualmente perdes o teu teto. Mas sabes, sempre te podes voltar a construir. Com pilares mais fortes, com paredes à prova de segredos e com tetos à prova de mentiras. Custa, é preciso tempo mas tu vais lá. Saio dos meus pensamentos quando chego a casa, estacionando o carro e subindo. Mal abro a porta o meu cão e o meu gato vem a correr ter comigo. Sim, eu tenho um cão e um gato. Eles dão-se bem ao contrário do que muitas pessoas possam achar. O meu cão chama-se Bali, e o meu gato é o Tomás. Eu gosto, ok? Ok.

-Eu amo-vos tanto, meus amores- digo acariciando o pelo aos dois peludos que se encontram à minha frente. É por isto que eu gosto tanto de animais. Eles têm o poder de apenas com um simples olhar, com um simples ronronar, ou mesmo com uma simples lambidela emendar um coração partido e fazer-nos sentir especiais. Eles merecem este mundo, mas nós não os merecemos a eles - Vamos comer? Vamos- digo-lhes indo jantar e depois aterro na cama, caindo num sono profundo.

Olá. Gostaram do primeiro capítulo? Sei que ainda não avancei muito (ou quase nada) com a história, mas espero, sinceramente, que tenham gostado. Até depois
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