Capítulo 7

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Ema

Hoje é o meu primeiro dia de trabalho no Porto Canal e por isso quero chegar bem cedo e já estou a caminho. A Clara compreendeu perfeitamente quando lhe disse que ía sair da revista para o Porto Canal pois sempre soube que esse era o meu sonho e ficou tão feliz por mim que até realçou o facto de agora lhe poder arranjar o número do Casillas e do Felipe. Esta mulher não existe. Por outro lado, devo admitir que, para além de entusiasmada, estou um pouco nervosa, principalmente porque hoje vou ter de entrevistar o André. Não posso dizer que não fiquei abalada depois da conversa que tive com ele na festa do Óliver, porque fiquei, simplesmente não o quis admitir. Naquela altura ele não quis falar, agora quem não o quer fazer sou eu. Chego ao estádio do Dragão e saio do carro entrando no estúdio do canal.

-Bom dia- digo sorrindo.

-Bom dia, Ema- respondem todos os presentes- Preparada para o teu primeiro dia?

-Acho que sim.

-O André deve estar quase a chegar para a entrevista- diz Laura, uma senhora com os seus 40 anos, simpaticamente e eu aceno com a cabeça.

-Alguém falou em mim? Aqui estou- diz André entrando pela mesma porta que eu utilizei- Ema? O que é que estás aqui a fazer?

-Eu trabalho aqui- digo firmemente.

-A Ema é a nossa nova jornalista e é ela que te vai fazer a entrevista- afirma Laura.

Começamos a entrevista e quando já vamos em meia hora de entrevista é a minha vez de perguntar:

-O que é que te fez nunca desistir do futebol e deste teu grande sonho?

-Uma vez uma pessoa muito especial disse-me que que se eu queria isto tinha que lutar e que as oportunidades não surgem por acaso mas sou eu que as crio. Disse-me que eu nunca tinha falhado, apenas descobri 10 mil caminhos que não eram o certo mas que me levariam a onde eu sempre quis chegar e isso mexeu comigo, tanto é que desde esse dia guardei isso e foi o que me fez nunca desistir- diz o moreno olhando-me nos olhos e mais uma memória vem à minha cabeça.

Alguns anos atrás

No 11º ano

Estou a ver televisão deitada no sofá quando tocam à campaínha e vou rapidamente abrir a porta vendo André com o saco do treino e um pouco cabisbaixo.

-Olá, amor- digo dando-lhe um beijo.

-Olá, Ema- diz abraçando-me.

-O que é que se passa?- pergunto e ele apenas baixa o olhar- Anda comigo- digo puxando-o pelo braço para o meu quarto.

-André, estás aqui?- pergunta a minha mãe ao encontrar-nos pelo caminho- Queres comer alguma coisa, querido?

-Não, obrigada- força um sorriso.

-Tens a certeza?

-Mãe, nós precisamos de falar- digo baixo.

-Ha, ok. Se precisarem de alguma coisa já sabem.

-Sim, mãe- respondo e finalmente chegamos ao meu quarto e fecho a porta- Agora, diz-me o que se passa, meu amor?

-Eu sou uma merda, Ema- diz André atirando-se para a minha cama.

-Sabes que odeio de digas isso, André. Tu não és merda nenhuma- digo sentando-me na minha cama e André põe a cabeça nas minhas pernas o que me leva a fazer-lhe mimos no cabelo.

-Sou sim.

-Mas afinal o que é que se passou, meu amor?- pergunto calmamente.

-Foi no treino. Só fiz merda, ainda magoei sem querer um colega e o treinador disse que não me ía convocar para o próximo jogo.

-Oh, ele ainda vai pensar melhor, André. Todos temos dias maus e eu vou estar sempre aqui para te apoiar.

-Eu sei, e não sei como te agradecer pelo amor que me dás, Ema. Mas saber que o treinador não confia em mim só me faz querer desistir disto, desistir do futebol.

- Não digas isso nem a brincar, André.
Se queres isto tens que lutar. As oportunidades não surgem por acaso. És tu que as crias. Pensa assim, tu nunca falhaste, apenas descobriste 10 mil caminhos que não eram o certo mas que te vão levar a onde sempre quiseste chegar.

-Ema, o que seria de mim sem ti?- pergunta o moreno olhando-me nos olhos- Tu sabes sempre o que dizer para me fazeres sentir bem.

-Provavelmente serias muito infeliz e andarias por aí com uma galdéria qualquer- digo rindo e ele ri também.

-Eu amo-te tanto, meu amor- diz o moreno.

-Eu também te amo, André- respondo e o meu namorado beija-me.

Atualmente

-Muito obrigada pela entrevista, André. Tenho a certeza que vai ser muito motivadora para os jovens que estão agora a começar. Obrigada pela sua companhia, aqui, no Porto Canal. Até ao próximo programa- digo e finalmente acabam as gravações da entrevista e rapidamente vou ter com Laura.

-Que tal me saí?- pergunto.

-Lindamente. Nasceste para isto, Ema- responde a senhora.

-Acho que estavas um bocado nervosa- mete-se André.

-Mas alguém te perguntou alguma coisa?- tento manter a calma.

-Não referiste nomes, por isso perguntaste para quem quis ouvir. Mas é compreensível estares nervosa quando tens o André Silva à tua frente- gaba-se. Como eu odeio quando alguém fala de si próprio na terceira pessoa.

-E ainda queres que eu fale contigo, assim- reviro os olhos- Tu mudaste muito. Para pior. Vou à casa de banho, Laura- digo saindo e deixando o moreno a falar com as moléculas de oxigénio que o rodeiam.

Lies- André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora