Capítulo 10

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Ema

-Mas tu ainda continuas a insistir que a culpa é minha? E a burra sou eu por ter vindo falar contigo- grito com André.

-Não foi isso que eu quis dizer- tenta desculpar-se.

-Foi exatamente isso que tu quiseste dizer. Nunca mais me procures, André, nunca mais- saio de lá a correr, pegando nas minhas coisas e indo dar uma volta, afinal, o trabalho já está feito por hoje. Caminho por toda a cidade, até por sítios que não conheço, acabando por me sentar num banco situado num pequeno parque. Sinto os meus olhos marejados e rapidamente sinto lágrimas a escorrerem pelo meu rosto. Choro pelo filho que perdi, choro pela pessoa em que o André se tornou, choro pela vida que perdi, mesmo antes de ter. Choro até não poder chorar mais. De repente sinto uma mão a pousar no meu ombro.

-Ema?

Flashback

2 anos atrás

Faz uma semana desde que contei ao André que estou grávida e não podia pedir melhor reação por parte do meu namorado e pai do meu filho. Hoje vamos jantar com os meus pais e com os pais de André para lhes contarmos. Sei que eles vão reagir muito mal, afinal, temos 17 anos, somos menores. Acabo de pôr a mesa quando tocam à campaínha e a minha mãe vai abrir, cumprimentando a dona Anabela, o senhor Álvaro e o Afonso, assim como o André que depois se dirige a mim, dando-me um beijo nos lábios e um na testa.

-Estás preparada, meu amor?- pergunta o meu moreno ao meu ouvido.

-Não, mas vamos a isto- digo agarrando a mão de André e indo até à sala onde estão todos sentados nos sofás.

-Nós queremos, quer dizer, nós precisamos de falar com vocês- diz André com um ar sério.

-Só falta dizer que a Ema está grávida, queres ver?- goza Afonso, levando-nos a olhar um para o outro de forma preocupada.

-Espera, tu estás mesmo grávida? Eu vou ser tio?- vem abraçar-me de contente.

-Que conversa é essa de tu estares grávida?- pregunta o meu pai.

-Tu estás grávida, Ema? Como é que isso é possível?- pergunta a mãe de André.

-Estou. Estou grávida- digo baixando o rosto.

-Como é que achas que se fazem os bebés, mãe?- responde André ironicamente à mãe- Eu sei que fomos uns irresponsáveis.

-Irresponsáveis é favor, André. Vocês não têm noção do que fizeram- grita o senhor Álvaro com André, fazendo-me estremer e sinto lágrimas a escorrer pelo meu rosto, encostando-me a André que me abraça.

-Temos sim. Não foi planeado mas foi feito com muito amor, porra- grita André mais uma vez.

-E não importa o que vocês digam, não vou abortar. Não vou matar o nosso filho- digo convicta, dando a mão a André.

-Nós nunca vos íamos pedir isso- dizem as nossas mães vindo abraçar-nos.

-Nunca mesmo- juntam-se os nossos pais.

Atualmente

-Ema?

-Dona Anabela?- pergunto levantando o rosto e encarando a mãe de André que se encontra à minha frente.

-Estiveste a chorar, minha querida?- pergunta sentando-se à minha beira e limpando-me uma lágrima, ignorando totalmente o facto de já não me ver à imenso tempo.

-Não- tento disfarçar mas ela manda-me aquele olhar- Não foi nada demais. Gostei muito de a ver, mas tenho mesmo de ir.

-Temos que combinar alguma coisa. Andas tão desaparecida.

Lies- André Silva Onde histórias criam vida. Descubra agora