Capítulo 8

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Kurt pdv:

Algumas semanas depois...

Por incrível que pareça, durante essas duas semanas, nem eu, nem Blaine sofremos bullying de qualquer tipo, ainda assim não nos falávamos na escola, nem em lugares públicos, mas nos sentíamos mais seguros.

Era o dia do jogo de futebol, da nossa escola contra outras equipas da cidade, eu como sempre, ficava no banco até esperar a minha vez. Blaine observava-me nas bancadas, eu consegui-a vê-lo sorrir e iluminar o meu mundo... mesmo que ficasse no banco o jogo todo mais uma vez, nada poderia correr mal, ninguém poderia tirar aquele sorriso dos meus olhos. 

Contudo, estava enganado, pensando que nada iria acontecer, foi o meu erro. Não sei se foi algum tipo de provocação, mas com certeza não foi por acaso, Karofsky lança a bola, mesmo na direção do Pavarotti que estava numa mesa perto do treinador, ao acertar a gaiola de Pavarotti, ela cai com o passarinho dentro. Uma das grades da gaiola soltou-se e acertou-o. Furou Pavarotti bem na barriga... Nunca imaginei sentir tanta raiva de alguém na vida como senti naquele momento, queria arrancar cada tripa e veia de Dave com as minhas próprias mãos, ele não iria safar-se dessa!

Blaine pdv:

Era o dia do funeral de Pavarotti, apenas eu, Kurt e o irmão dele comparecemos para enterrá-lo... claro, quem mais iria aparecer no enterro de um pássaro? Mesmo tendo sido o primeiro de nós a ver Pavarotti e a conviver com ele, ninguém estava mais arrasado do que Kurt. Conseguia ver na sua cara, era como se a corda que uniu-me com ele, tivesse sido cortada com uma tesoura. A única diferença, é que as nossas mãos já estavam unidas durante esse acontecimento, o que impediu-nos de nos afastarmos... mas por quanto tempo..? Continuaria Kurt a amar-me?

Enquanto Finn com as mãos, tapava o buraco onde descansava Pavarotti, Kurt chorava no meu ombro, segurando a minha mão com força. Se Finn não perceber o quanto eu amo Kurt, não sei como poderemos continuar...

Após todas as lágrimas e tristezas, cada um foi para o seu lado, voltei para casa e Kurt para a sua também, Finn foi ter um encontro com uma tal de Rachel.

Eram duas da manhã, quando comecei a perceber o quanto Pavarotti era importante para unir-me a mim e Kurt. Trocamos mensagens, mas não o reconhecia mais, não como há uns dias atrás. Senti-me deprimido, e precisei apanhar um ar. Saí e fui até um bar, passei lá mais de uma hora e devo ter bebido demais, pois não era capaz de desvendar o caminho de volta para casa e estava escuro, também tinha-me esquecido do celular em casa ou em algum lugar, pois não estava no meu bolso. Segui pela estrada, andei em círculos, vi até um palhaço fazendo malabarismo com cobras, mas isso com certeza era efeito do álcool... Segui perdido, caminhando no meio da estrada, de costas tortas e os pés doíam, sentia vómitos... Então, avistei uma luz forte e branca vindo na minha direção.

- La la la preciso parar de beber, agora a luz vai-me comer, la la la. – cantarolei igual um maluco, no entanto aquele flash de luz não era efeito do álcool, quando consegui enxergar melhor, percebi que eram faróis de um carro, mas não fui capaz de desviar. Senti uma forte dor em todo o corpo e apaguei.

Kurt pdv:

Fiquei chocado quando atendi o celular e avisaram sobre Blaine. Senti o meu mundo desabar, era como ser esfaqueado no coração. Corri porta fora, depois de gritar pela casa, meu pai e Finn seguiram-me, pois estavam preocupados. Corri até o hospital, corri, corri sem parar, sem respirar, só corri.

Cheguei no hospital e depois de saber o número de seu quarto, subi até o andar e procurei por cada corredor. Vi uma senhora de bata segurar um senhor que tentava seguir uma maca com um paciente. Era o pai de Blaine e certamente o paciente era Blaine. Lágrimas escorriam pelo meu rosto e passei direto pela senhora e o pai de Blaine, entrei numa área restrita seguindo a maca. Tudo em volta estava desfocado e em câmara lenta, aproximei-me da maca e vi o seu rosto... Ouvia vozes há minha volta, mas não era capaz de entender o que diziam. A sua cara estava repleta de cicatrizes, ainda não sabia o que tinha acontecido com ele, mas ele estava ali. 

Alguma coisa agarrou-me pelos braços, eram os médicos tentando tirar-me dali, tentei resistir, mas as minhas forças tinha sido levadas pelo que acabara de ver, eu gritava, mas era como se o som não saísse. Tudo voltara ao normal quando atiram-me para o chão fora da sala.

Levantei-me e encostei-me à parede do corredor todo branco e estreito, apenas encarando as duas portas cinzentas na minha frente. Olhei para cima e li uma placa que dizia: "Sala de cirurgia". Entrei em pânico, ele precisava fazer uma cirurgia? Afinal o que aconteceu?

- Kurt! Kurt! – ouvi uma voz longínqua chamar pelo corredor que parecia não ter fim no meu campo de visão.

Virei-me para o lado e vi um homem sentado num banco com a cabeça nos joelhos e os braços a envolvendo. Conseguia ouvir os seus gritos de desespero e orações baixinho.

- Kurt! – ouvi novamente a voz, mas desta vez mais próxima.

Levantei o olhar e vi Finn e meu pai correndo na minha direção. Coloquei-me no centro no corredor e observava eles acelerando na minha direção. Cada vez mais próximos, a minha cara era feita de água de tanto que chorava, os meus braços estavam colados na vertical e os pés juntos. Finn pulo para cima de mim e abraçou-me com força seguido de meu pai. O pai de Blaine levantou-se e estendeu a mão para que meu pai a apertasse. Finn segurou meus ombros para ver a minha face, porém não fui capaz de dizer nada, as palavras estavam presas na garganta. Ele abraçou-me novamente.

Após uma hora, só tinha chegado mais uma pessoa, a mãe de Blaine. Que não disse nem uma palavra e nem falou com o Sr. Anderson. Uma das médicas saiu das portas e todos levantámo-nos para ouvir as notícias.

- Ele vai ficar bem? – perguntei antes que qualquer outra pessoa pudesse dizer alguma coisa.

- Ele está em estado crítico, o acidente não foi a causa principal, ele foi jogado para longe, mas o pior, foi os vidros do carro... eles furaram uma artéria. – ela explica.

- Que artéria? – pergunta Finn logo em seguida.

- O vidro perfurou uma artéria do coração... como não sabemos a hora exata do acidente, não sabemos por quando tempo ele sangrou e se ainda te-

- ELE VAI FICAR BEM?! – grita o Sr. Anderson impaciente e interrompendo a médica.

- Não temos a certeza. – admite e todos ficam calados, até eu. – Estamos fazendo o melhor possível... - Ela vai embora e só nos resta esperar.

Finn tenta abraçar-me novamente, porém recusei o abraço e saí correndo daquele lugar até passar por uma porta que levou-me até a varanda. Eu só queria... poder vê-lo mais uma vez. Só uma vez... Porquê isto estava acontecendo comigo? Com ele? O que eu fiz? Comecei a amar alguém de verdade pela primeira vez? É esse o meu maior pecado? Porque eu não entendo...


O Rapaz e o PássaroOnde histórias criam vida. Descubra agora