Capitulo 8 - Voz e pausas

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- Vou começar por contar um pouco - disse - Por favor, não me peças é para contar tudo de uma vez sim?

Ele sorriu e acenou. Conseguiu perceber que aquilo lhe tinha custado muito. 

- Os meus pais brigam desde que me lembro das coisas... - a voz ficou nervosa - Quando era pequena escondia-me em todos os sítios, como se isso pudesse ajudar em alguma coisa... 

Ele fazia-lhe festas com o polegar na bochecha dela, ela corava e tentava fazer-se falar.

- E foi assim toda a tua infância? - questionou-a.

- Bem, sim, sim foi... E depois não faziamos nada, eu... O meu pai não fazia nada comigo. Sempre me senti um fardo. Todos os meus amigos pareciam ter familias tão felizes e unidas, enquanto a minha mãe simplesmente acordava e tentava passar o dia. - ele abraçou-a sem dizer nada.

Nunca lhe pediria para dizer mais, nunca lhe pediria no entanto para parar de contar. Sentiu a dor que ela devia sofrer e fez-lhe um nó na garganta, que pais não defendem os filhos? Que pais magoam as familias?

Ela não aguentou.

Daniela chorou, caiu em lágrimas. Ele apenas se deixou estar ali enquanto ela chorava. Teria ela alguma tido palavras de que alguém gostasse dela? De que fosse amada? Não fosse apenas um fardo?

Começou a cantar baixinho para ela. Não tinha um tema, apenas trauteou palavras. Ela tinha ficado menos tensa, mas continuava na mesma nos braços dele. Não queria que acabasse, sentia-se protegida.

Olhou para ele.

Ele estava ali, sem nenhuma razão, sem nenhuma necessidade. 

- Estás melhor? - sorriu para ela.

- É só que... Eu só queria alguém que gostasse de mim, são meus pais e em vez de me querer juntar a eles, tudo o que quero é afastar-me.

Ele olhou para ela e fez a primeira coisa que sonhava fazer desde que a vira, beijou-a.

Ela não sabia como reagir, mas ela sabia que queria aquilo... Deixou-se levar. Era o primeiro beijo, tinha dezassete anos, mas tinha medo de ter alguém como o pai. Queria que tivesse a certeza de que a pessoa nada tinha a ver com o pai, e Liam não era parecido nem um pouco.

Ele encostou a testa dele à dela, olhou para ela e sorriu corando e baixando o olhar.

Ele limpou-lhe as lágrimas que se formavam no olhos e sorriu dando-lhe outro beijo.

- Acho que assim a constipação passa melhor... - levantou-se e levou o tabuleiro que agora estava apenas em cima da mesinha sem comida para a cozinha.

- Liam o que foi aquilo? - perguntou enquanto voltava para a sala.

- Aquilo foi o que te queria fazer - sorriu. - Queres vir comigo ao baile transferida?

- Queres mesmo que vá contigo? E a Leslie?

- Claro que quero - afirmou.- A Leslie é uma miuda que achas que faz o que quer e que eu a quero. Bem, pode fazer o que quer, mas eu não a quero.

- Ah e queres-me a mim que me conheces há três dias? - riu.

- És bem mais interessante! - beijou-a novamente.

Daniela voltou a rir.

- Alguém já está melhor da constipação.

- Assumes isso porque ri ? - disse secamente.

Ele não conseguiu perceber logo que ela estava brincar com ele, e por momentos temeu que ela não o aceitasse. Por fim, ela riu. 

- Isso significa que terás de dançar comigo - advertiu-lhe.

- Nunca me senti mais lisonjeado por isso. Agora a sério, estás melhor? - fez uma cara preocupada.

- Sim estou... Tens de ir às aulas, falamos depois sim?

- E tu ficas mesmo bem? 

- Sim fico - assegurou.

Ele levantou-se, vestiu o casaco pôs o cachecol à volta do pescoço, não sem antes se despedir dela e enrolar a manta à volta dela.

- Qualquer coisa liga-me sim? Manda mensagem, qualquer coisa - sorriu e saiu.

Daniela estava feliz por o que tinha acontecido, fnalmente deu sentido à expressão "nas nuvens".

Viu um pouco de televisão e pensou no sotaque, aquele belo sotaque que Liam tinha e que a fazia querer ouvir mais e mais.

Adormeceu. Quando acordou foi com o barulho da porta a fechar. A tia tinha chegado a casa. Eram cinco da tarde e ainda estava completamente enrolada na manta. Dormira desde a uma da tarde e irremediavelmente não conseguia parar de pensar em Liam.

Sorriso InesperadoOnde histórias criam vida. Descubra agora