Aos nove anos, Hayden cortou-se pela primeira vez. Ele não gostava da cidade nova. Tinha saudades de Elsa, dos seus amigos da escola, da avó, do mar, do miradouro. De si mesmo e da sua inocência.
Quando mudou de escola, os outros alunos tornaram as piadas sobre a sua voz extremamente aguda ainda mais frequentes do que já eram na sua antiga escola. Essas piadas começaram a atingi-lo. Hayden sentia medo ao entrar na escola, mas não considerava aquilo bullying. Afinal, eles não se dedicavam à atormentá-lo como nós filmes. Talvez eles estivessem certos, ele era demasiado sentimental. Talvez ele fosse gay, como eles diziam... E então começou a criar uma certa homofobia involuntariamente.
Não gostou disso, nem dos cortes, e como o bullying o tornou uma criança diferente, entrou em pânico. Mostrou os cortes à sua melhor amiga, Dilany. Ela assustou-se e, como também era muito jovem, teve de falar com alguém sobre isso. Alguém que era da sua confiança, mas não da de Hayden. No diz que disse, o assunto foi parar aos ouvidos da diretora de turma do rapaz, levada pelo outro melhor amigo de Hayden. Esta ligou aos seus pais e ele entrou em pânico. Se eles gritavam com ele por tossir, quem diria por se cortar?
O dia da reunião chegou e só a mãe dele apareceu. Ela agiu docemente, derramou algumas lágrimas, ficou preocupada. Isto é, até que Hayden voltou a casa... Lá, esperavam-no dois pais muito zangados.
Esses pais gritaram, falaram entre dentes, chamaram-no maluco, ressaltaram o trabalho e os gastos de que ele era fonte. Enquanto isso, Hayden observava tudo, sentado no sofá amarelo da sala, perplexo com a dissimulação do comportamento da sua mãe.
Ele sempre amara a sua vida. O seu pai costumava ser o seu melhor amigo. Mas naquele momento? Ele sentia que eles lhe tinham arrancado a voz e, pela primeira vez, sentiu a falta dela.
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Adultos
Short StoryEstes são os contos sobre a sociedade a degradar-se aos olhos de uma criança. #652