Chegada

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Aquelas palavras ainda ecoavam em minha mente, "não dessa vez". Não fazia sentido, Miguel era meu guardião, meu anjo, sua queda foi por minha causa, então ele tinha obrigação de me proteger né? Ele não conseguiria ficar longe de mim. Pelo menos é nisso que eu tentava me fazer acreditar, criar uma ilusão, era mais fácil de aceitar do que o fato de o Arcanjo ter desistido de mim, de nós.

Balancei a cabeça negativamente tentando afastar os pensamentos.

Chegando na portaria, o portão estava bloqueado e não tinha comigo nenhum cartão de passagem, nada que desbloqueasse. Procuro então algum jeito de chamar a atenção do carinha que estava dentro da pequena casinha com vidro fumê.

~Nome? -Disse um homem através do interfone.

~Serena Nonsen. -Semicerrei os olhos tentando enxergar além da escuridão do vidro.

~Onde estava hospedada, Nonsen?

~Na casa de Morgana Mason.

O silêncio predominou por alguns segundos. Pela silhueta do homem, pude vê-lo com um telefone na mão, deveria estar ligando pra Morgana ou confirmando com alguém se eu não era uma intrusa em uma fortaleza.

O portão marrom que estava na minha frente se ergueu, revelando uma rodovia, carros passando dos dois lados da via, havia também arvores grandes e um ponto de ônibus do outro lado.

~Que droga! -Bufei.

Atravessar a rodovia não era como atravessar uma simples rua, ou até mesmo uma avenida, o fluxo de carros que passavam dos dois lados era intenso.

Olhei os dois lados e atravessei praticamente correndo. Enquanto eu olhava pro lado esquerdo, ouvi um barulho de buzina que se aproximava rapidamente do lado oposto. Eu estava a poucos centímetros da calçada, mas não iria alcançar se continuasse correndo, o carro estava bem próximo, então para não ser atropelada, me joguei com mala e tudo.

Abri os olhos e lá estava eu, salva e jogada no chão, minhas malas abertas e com algumas roupas fora dela. Sorri pensando: que merda acabou de acontecer?

Após me levantar me deparei com alguns arranhões pelo corpo, e rasgos na calça e blusa, mas não me importei, a adrenalina que estava no meu corpo, não me deixou sentir nada, eu poderia estar com algum osso quebrado, mas naquele momento, tudo que sentia era euforia por estar viva.

Bati na blusa e na calça para tirar a poeira e fui até a mala colocando as roupas que estavam no chão novamente nela.

Enquanto o ônibus não passava, fiquei pensando por que Miguel não havia me salvo, quer dizer.. Eu podia ter morrido ali, será que ele realmente não ia mais me proteger? Não fazia sentido, não é possível que ele teria tanta força pra se manter longe de mim.

Vi um ônibus se aproximando, não sabia se era aquele que eu deveria pegar, mas qualquer qualquer que seja o destino, ele sempre iria parar no terminal no final; Me levantei e fiz o sinal para que ele parasse.

Antes de subir, dei um última olhada no condomínio, memorizei seus portões marrons, seus símbolos desenhados por todos os muros e a placa a poucos metros da entrada dizendo:

Condomínio la paz.

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Após ter chegado em casa finalmente e de ter tomado um banho relaxante, vesti um vestido bem folgado no corpo e fui fazer algo para comer.

Cozinhar nunca foi meu forte, sempre conseguia queimar aquilo que era fisicamente impossível. Resolvi fazer a única coisa que sabia fazer, miojo.

A Lua do meio-diaOnde histórias criam vida. Descubra agora