O lírio que me cativas

°Capítulo 1°

    Depois de 7 anos, Sophie Cooper voltou para casa...

    Quando terminou o ensino médio, aquela garota de olhar viajante e sonhador, que imaginava sua carreira decolando de puro e instável sucesso. Conhecendo pessoas novas e criando amizades. Morando em Nova York, e viajando a trabalho ou até, as tão sonhadas e merecidas férias. Abrindo sua escola de dança e ensinando outras mulheres, o quão libertador era dançar e envolver seu corpo, num vai e vem entre sua mente e seus pés, entre seu coração e sua alma. Visitaria seus pais, em Forks, a cada 2 meses, no final de semana e adotaria um cachorro e o levaria para conhecer sua nova família.

     Mas nem tudo são flores, ela entendeu que no mundo valores e sonhos, ficam num lugar distantes, bem distantes. Seus amigos estão começando suas vidas com outras pessoas. As viagens se transformaram em um outro nome... videoconferência toda semana com seus pais, e o Zeus, seu Husky siberiano, de pelos pretos e olhos escuros e que dorme na sua cama e é super protetor com ela, começou a ser seu melhor amigo. Para ela, a dança ainda é vida e paixão, então deu algumas aulas em estúdios que não eram o seu, e até começou a dar aulas para quem não tinha condições. Quando podia, fazia bicos para juntar dinheiro para o seu sonho.

     Sophie só queria ter mais...tempo.

     O céu estava cinzento e com nuvens pesadas, mas caía uma garoa fina sob sua cabeça. Ela estava de frente ao túmulo dos pais... Usando um vestido preto solto, que vai até o joelhos, com camadas, que ganhou de presente de aniversário dos deles. Com luvas pretas de couro, sapatilhas novas que comprou durante a viagem e como acompanhante, seu fiel amigo, Zeus. Ele estava deitado na sua frente, vestido com uma capa de chuva transparente improvisada, amarrada no seu pescoço e com o capuz na cabeça, para acomodar um cachorro de porte médio. Os caixões já haviam descido, dentro das covas. Já podia se ver a terra quase no topo do buraco.

      As pessoas ao seu redor, começaram a se despedir e ela se lembrava de algumas que conheceu quando criança, outras nem se lembrava de onde vieram. Mas,ela reconheceu uma senhora, com os cabelos lisos e grisalhos na raiz e preto fosco nas pontas, tinha bochechas proeminentes e rosadas, com o seu nariz fino e pequeno, do jeito que se lembrava, quando era mais nova. Sophie precisou abaixar um pouco o olhar e chegar mais perto dela, que falava baixo e num tom rouco. Era sua vizinha, Mary, que lhe pagava com chocolate quente para que cuidasse de suas flores. Ela tinha problemas nos joelhos, então não fazia muito esforço físico, mas gostava de caminhar pelo seu jardim, enquanto Sophie abria buracos para plantar mudas, cortar ervas daninhas, arrancar alguns matos da cerca e borrifar inseticidas nas flores.

     A Sra.Mary gostava do jardim bem cuidado e Sophie de chocolate quente.

     Quando a senhorinha se virou, com a ajuda de uma bengala e de sua neta.  Sophie percebeu que o tempo passou rápido demais para ela e sua família, e para alguns, ainda não havia terminado o seu propósito. Cada um foi indo em direção aos seus veículos, enquanto, Sophie e Zeus se despediram...uma última vez. Antes de se virarem e caminharam em direção ao Ford Ka cinza, que seu pai deixou no testamento, junto com a casa e outros bens materiais. Uma última lembrança...  Sophie pegou o molho de chaves, que tinha também as chaves de casa, destravou o veículo e abriu a porta do passageiro, e acomodou seu leal amigo no banco, tirou a capa e a colocou no banco ao lado. Afivelou a coleira no assento e fechou a porta.

      Entrou no carro, fez alguns ajustes no banco e retrovisores, colocou a chave na ignição e o motor fez seu barulho natural. Olhando no painel e marcava 11h30. Já tinha planejado arrumar as coisas da mudança ainda hoje e ainda dar um passeio com Zeus e almoçar. Ela verificou os cintos e engatou a primeira marcha, saindo devagar da vaga e olhando uma última vez, pela janela, onde o túmulo dos pais estava.