DECEPÇÃO
Eu fico perplexa com a minha incrível capacidade de fingir que tudo está bem quando o mundo desaba na minha cabeça. Às vezes, eu só queria abrir o portão de casa e correr para o mais longe possível, até não ter mais fôlego.
Estou no terceiro ano do ensino médio e muita pressão cai sobre mim por esse ser um ano de muitas decisões importantes. Gosto muito de estudar e consequentemente sempre sou a melhor aluna da turma. Meus pais já decidiram meu futuro: serei uma grande engenheira. Eles me dizem que essa vai ser a minha profissão desde que eu tinha dez anos de idade. O certo era eu escolher, não é mesmo? Mas aqui em minha casa eu não tenho direito de escolha, não tenho direito a expôr a minha opinião.
— Luana, você sabe onde está o meu celular? — Minha mãe pergunta ao entrar no meu quarto sem bater, como de costume.
— Não, provavelmente o Davi deve ter pegado pra ficar jogando aquele joguinho. — respondo sem tirar os olhos do livro que estou lendo.
Escuto o som da porta bater e deduzo que ela saiu do quarto.
Estou completamente focada e concentrada no livro até que meu celular toca. O pego emburrada, mas minha expressão facial muda no instante que vejo de quem se trata.
— Alô. — Alguém diz do outro lado da linha assim que atendo.
— Pietro! Está tudo bem, amor? Que saudades! Eu estava preocupada com você. — afirmo animada ao ouvir a voz do meu namorado.
Há cinco meses iniciei o meu namoro com o Pietro, meu melhor amigo. Somos amigos de infância, nossa amizade cresceu com o passar dos anos e acabou se transformando em um amor gigantesco de ambas as partes. Quando completamos três meses de namoro, ele teve que viajar para o Rio Grande do Sul para ficar com sua mãe, que não está muito bem de saúde. Não foi fácil, mas eu aceitei e me orgulhei da decisão dele. Ele está lá até hoje e não tenho ideia de quando volta. Decidimos continuar nossa relação à distância enquanto ele não retorna.
— Está sim. Desculpa não ter te ligado essa semana. — Ele afirma. — Estou voltando para o Rio de Janeiro hoje, quando eu chegar conversamos.
Sinto que tem algo estranho, ele está sério demais. Geralmente, ele é carinhoso e atencioso, mas hoje ele está o contrário.
— Não dá pra falar por aqui? — pergunto ao levantar da cama contorcendo os lábios.
Odeio ficar ansiosa ou nervosa, porque quando fico assim tenho crises de ansiedade. Isso é algo que que somente a minha mãe sabe sobre mim, mas ela acha que é frescura e que eu consigo controlar.
— Não dá, desculpa. Preciso desligar agora, tenho que terminar de fazer as malas.
— Tudo bem. Me liga quando estiver chegando, tá bom? Te amo. — Começo a andar pelo quarto.
— Ligo sim. Beijos, também te amo. — Ele encerra a ligação.
Está tudo bem... Está tudo bem...
Repito pra mim mesma inspirando e expirando enquanto ando ao redor do quarto.
Resolvo sair do cômodo para tomar um copo d'água, então abro a porta e caminho até a cozinha.
Assim que chego no meu destino, vejo minha mãe preparando o jantar. Ela me olha e depois volta a cozinhar.
Eu me sinto invisível perto dela e do meu pai. Eles não notam que eu preciso deles, que às vezes a única coisa que eu quero é ser ouvida e ter atenção por pelo menos alguns minutos.
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Alicerce | HIATUS
Teen Fiction" - Sério, Carol? Sério que você está me dizendo isso? - Suspiro tentando segurar o choro. - Lembra quando nos conhecemos? Nós tínhamos seis anos, eu havia acabado de me mudar pra cá e quando eu fui naquela pracinha... - Aponto para a pracinha ond...