Nojo (Capítulo quatro)

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NOJO

   Meu coração se parte ao ver os olhinhos dela.

   — Não queria te deixar preocupada, foi mal. — Ela abaixa o rosto novamente.  

    — Ei... — Levanto o rosto dela. — Conversa comigo, eu fiz algo de errado? 

    — Não, você não fez nada. — Ela seca o  rosto com as mãos. — Sua mãe sempre esteve certa, eu não sou uma boa influência pra você, na verdade, nunca fui. Acho melhor nos afastarmos. Minha amizade prejudica você, eu não quero mais isso.

   Ela só pode estar brincando comigo! Nos afastarmos? 

   — Sério, Carol? Sério que você está me dizendo isso? — Suspiro tentando segurar o choro. — Lembra quando nos conhecemos? Nós tínhamos seis anos, eu havia acabado de me mudar pra cá e quando eu fui naquela pracinha... — Aponto para a pracinha onde nossos irmãos estão brincando. — ... eu vi você brincando no balanço sozinha, eu pensei em ir te chamar pra brincar comigo, mas cinco meninas me cercaram, elas me xingavam, me zoavam por causa do meu cabelo e da minha cor, foi o momento em que me senti mais frágil e sozinha desde que nasci. Aí você chegou, com toda a sua audácia, dizendo que aquilo era preconceito e que se mexessem comigo mais uma vez, você iria bater nas cinco. Sua  coragem deixou elas assustadas e elas foram embora. — Começo a chorar.

   Carol me olha, também chorando.

   — Foi o meu primeiro contato com o racismo, eu tava me sentindo um lixo e você me ajudou a seguir em frente e a me amar. — Seco o rosto com a mão. — É nas chuvas e trovões da vida, que sempre aparece alguém para ser seu arco-íris. Você é meu arco-íris, meu porto-seguro, meu alicerce. — digo ao abrir um meio sorriso.

   — Ter te conhecido foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu te amo, Lu. Obrigada por ter aparecido naquela pracinha, obrigada por estar aqui, obrigada por me aturar, obrigada por tudo! Eu faria tudo de novo. — Ela diz sorrindo e me abraça.

    Ficamos abraçadas por um bom tempo, até que percebo que tenho que ir embora.

    — Preciso ir agora. — Me levanto da calçada e ela se levanta depois. — Estamos bem? 

    — Sim. — Ela responde sorrindo.

    Chamo o Davi, que corre em minha direção junto com o Carlinhos. Abraço Carol novamente e depois abraço seu irmão.

   — Deixa ele ficar mais um pouco. — Carlinhos pede.

    — Não dá, temos que ir, a nossa mãe está nos esperando.  

   Os dois se despedem e eu sorrio vendo a cena.

   Em seguida, eu e Davi seguimos em direção a nossa casa.

    Assim que chegamos, já entramos imaginando que ficaríamos de castigo, porém, ao gritar nossa mãe percebo que ela não está em casa.

    — Ela deve ter ido no mercado. — Davi afirma.

    Realmente, hoje é o dia de fazer compras. Eu havia esquecido completamente. Que sorte!

   Caminhamos para nossos quartos e trocamos de roupa.

    Depois de alguns minutos, caminho até a sala e depois Davi vem ao meu encontro.

   — Faz pipoca doce com leite condensado e suco de maracujá? — Ele pede ao se sentar.

   — Está na hora do almoço. — afirmo ao me sentar do lado dele.

   — Já almocei na escola.

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