Primeiro jogo da temporada

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O resto da semana transcorreu calmo, apesar de notar os olhares assassinos dirigidos a minha pessoa por metade do time de futebol nos corredores. Eu e Jill nos tornamos ainda mais próximos, conversávamos muito, trocávamos mensagens quando ela estava nos intervalos do trabalho. Falávamos sobre absolutamente tudo, exceto a família dela. Eu comecei a ser arrastado para a mesa onde ela e seus outros amigos sentavam-se durante o almoço.

No começo fiquei muito desconfortável. Nos dois primeiros dias fui até James antes do almoço acabar para não ficar tanto tempo com eles. Eu nunca fui muito sociável com pessoas desconhecidas em grupos, sempre fui quieto e tentava ficar longe de aglomerações. Um grupo conversando comigo era uma coisa quase inédita porque eu evitava insistentemente essas ocasiões por receio de dizer algo que os fizesse questionar quem eu realmente era.

Mas tenho que admitir que aquele grupo de pessoas era discreto, apesar de animado. Nunca tentaram forçar a conversa comigo e mantinham-se sempre o respeito ao fato de eu não falar muito de mim. Talvez já estivessem acostumados com a forma reclusa de Jill e por isso não me questionavam nada. Com tempo eu acabei gostando de estar com eles, mesmo que ainda permanecesse um tanto a margem do grupo. Passei a conhece-los melhor e descobrir particularidades que antes me passavam despercebidas.

Carlos era irmão mais velho de Lillian, os pais de ambos haviam se mudado do México quando ela criança. Mesmo um ano mais velho Carlos estava na mesma sala que Lillian porque perdeu seu primeiro ano de estudos quando a família se mudou. Os dois eram pessoas simples, não eram pobres, mas também não conseguiam morar em um lugar melhor então continuavam em um dos bairros mais pobres que era conhecidamente cheio de latinos.

Frederick um ano mais velho que eu e estava para terminar o ensino médio, ele era ótimo em matemática e pretendia cursar algo relacionado a computação. Sua família era de classe média e seus pais trabalhavam incansavelmente para manterem um padrão de vida melhor do que a maioria, mas Frederick não parecia preferir o tipo de coisa que seus pais almejavam. Um pouco mais para o fim da semana entendi que toda a reclusão dele para com o resto das pessoas era devido ao fato de que achavam que ele fosse gay. Não poderia dizer se os boatos dos veteranos sobre ele eram verdadeiros ou não, mas o fato é que isso não me importava muito.

Lillian e Carlos estavam em um ano anterior ao meu, aparentemente haviam sido incluídos no grupo por conta de um ex-aluno que morava no mesmo bairro que eles e havia se formado no ano anterior. Havia também uma outra garota chamada Georgia no grupo. Ela tinha a minha idade, mas nuca tivemos uma aula juntos, era inteligente, mas se vestia de um modo um tanto menos "feminino" do que as outras garotas aceitariam. Motivo pelo qual ela não conseguiu se encaixar no grupo dos mais inteligentes que geralmente faziam parte dos clubes de matemática, física, química ou outros do mesmo estilo.

Havia também um rapaz, ele era menor do que eu e bem magro também. Estava no ultimo ano e era assumidamente gay. Seu nome era Louis e ele tinha praticamente todas as aulas com Frederick o que aumentava a desconfiança dos ignorantes a respeito da sexualidade do mais alto; mas os dois eram realmente apenas amigos. Louis se vestia de forma um tanto mais extravagante, sempre com roupas combinando e acessórios que ele dizia estarem na moda.

Depois dessa semana de observações acabei por compreender que a proximidade deles com certos elementos duvidosos que frequentavam nossa instituição de ensino era apenas uma questão de coincidência. Carlos e Lillian acabavam tendo que manter uma relação cordial com alguns alunos latinos que moravam no mesmo bairro que eles. Eram um grupo que todos os alunos sabiam ser problemáticos e não muito confiáveis.

Esse grupo e o grupo dos amigos de Jill acabavam um tanto misturados pelo fato de estarem sempre próximos o que gerava uma confusão entre eles que fazia, aos que viam de fora, parecer que eram uma coisa só. Como a escola não tinha muitos alunos homossexuais, ao menos não assumidos, os que acabavam sendo taxados dessa forma eram empurrados para esse pequeno grupo; que foi o que havia acontecido com Louis e Frederick.

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