CONTOS DE FADAS e BRUXAS

Capítulo V - Estela

Terminei meu banho, desliguei o chuveiro e ouvi Helena conversando com alguém. A voz parecia a de minha mãe. Não podia ser. Mamãe morreu a 10 anos!

Depressa coloquei a roupa e fui ver quem era.

Na varanda, conversando com minha filha estava a versão "hippie" de mamãe: vestido florido, chapéu de palha e bicicleta de cestinha. A mulher ria muito com minha filha.

- Olá, parece que temos uma visita!

- É tia Sonnia mamãe!

- Sonnia, a irmã de mamãe?

- Acho que sou. Se você é a Estela.

- Sim, muito prazer, Entra! Fiz um café ainda agora. Vou buscar.

- Senta aqui tia, disse a pequena pegando a mão de Sombria e indicando o sofá.

- Como sua casa é linda!

- Obrigada, ainda faltam pequenas coisinhas. Quando cheguei estava muito abandonada.

Conversamos muito. Sonnia explicou que a avó tinha levado ela para estudar no exterior, que ficou muito tempo fora e que estava ali para conhecer o que restava de sua família pois minha mãe nunca se interessou em apresentar-me.

- Sua avó ainda está viva? perguntei lembrando do que lera nos papéis da escrivaninha do sótão.

- Não, vovó morreu num acidente de carro (vassoura) a uns 15 anos. E sua mãe?

- Mamãe também já morreu. De câncer, a uns 5 anos. Morávamos no Rio de Janeiro, então os advogados de mamãe me contaram que eu tinha herdado essa casa. Não sabia que você ainda estava viva. Mamãe nunca falava nada nem de vovó nem de você. Esta casa também é sua!

- Oh não, não se preocupe. Já tenho coisas demais com que me preocupar. Vovó me deixou sua herança.

- Fico mais tranquila, falei servindo o café. Esta casa é tudo que tenho e agora é a minha vida. Mas vamos trocar de assunto.

- Eu soube que aqui tem um ritual que é feito na lua Nova de Maio?

- Sim, a fabricação de fadas- quase me arrependi de ter falado, mas pensei: Ela é da família, não preciso me preocupar.

- O que vocês fazem? Nunca ouvi falar de "fabricação de fadas".

- Vovó Maria é quem fazia. Depois que achei o baú dela fazemos todos os anos. Elas cuidam das flores e da floresta.

- Baú? perguntou sombria

- Sim, Um baú mágico. Estava no sótão.

- A gente vai para o mundo encantado por ele, disse Helena que até agora tinha ficado muito quieta observando nossa conversa.

- É mesmo? Puxa, você precisa me mostrar como se faz.

Fiquei muito preocupada com o interesse que Sonnia mostrou. Algo me dizia que seu interesse ia além de conhecer nossa família. Mas não posso julgar. Acho que eu também me interessaria por algo tão fora do comum.

- Onde você está hospedada? perguntei

- Na pousada da praça, a do Hecktor, mas só larguei minha bagagem lá. Queria conhecê-las. Sou muito só, e quando soube da sua existência vim voando - feitiço de transferência, mas elas não precisavam saber - para cá.

- De avião? Tia?

- Sim, de avião. Você já andou de avião Helena?

- Ainda não.

Por que aquilo me deixou encucada? Então não sabia da nossa existência? Sei que mamãe era muito radical, que não queria envolvimentos com a família de vovô, mas jamais permitiria não ter notícias. Preciso parar de pensar mal dessa pessoa. Afinal até agora não fez mal nenhum que eu saiba. E se fizer tenho meu bruxo para nos defender.

Hecktor, será que Quincas conhece?

-Vou pedir para o Quincas passar lá e pegar suas bagagens. Você fica aqui com a gente.

- Que bom. Obrigada. Só não quero dar trabalho.

- Você pode brincar comigo!

- Claro! Vou adorar!

- Vou ligar para seu pai. Com licença Sonnia.