Festa do pijama...e lembranças do passado

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               CAPÍTULO QUATRO

Algumas horas depois, o avião em que o Marcos estava desembarcou em Brasília. Com a mala cheia de roupas, e andando pelo aeroporto Internacional de Brasília, ele trazia outra bagagem: a esperança de reencontrar Gabriella e explicar o porquê não telefonou, como prometeu.
Sentia-se apreensivo, pois não podia imaginar o que encontraria pela frente, afinal, estava em um lugar totalmente desconhecido e estava atrás de algo que parecia loucura para muitos. Como ir atrás de alguém que viu apenas uma vez? Como explicar o sentimento por uma pessoa que pouco conhecia? Uma coisa era certa, sentia o coração acelerar toda vez que se lembrava do rosto de Gabriella. Bastava fechar os olhos e podia ouvir a sua voz suave, sentir o gosto doce dos seus lábios e o calor de suas mãos. Gaby era morena café com leite cabelos cacheados até os ombros, olhos verdes corpo de violão e lábios carnudos. Combinados a uma delicadeza e bom humor que a tornava extremamente atraente.
Precisava dela e apenas dela, urgentemente!
De todo modo, foi passar a noite em um hotel próximo do aeroporto e no dia seguinte iria a Águas Lindas, procurar uma pousada para alugar e começar a busca por sua amada. Lembrava-se de algumas coisas que Gabriella havia dito, como por exemplo, o nome da empresa em que trabalhava, os locais que gostava de frequentar em Águas Lindas e em Brasília, informações essas que seriam de grande ajuda para ele.
Deitou-se na cama do quarto do hotel e ficou pensativo por alguns instantes. Não conseguia acreditar no que havia feito, mas esperava ser bem sucedido. E se ela fosse o grande amor de sua vida? Se tivessem sido feitos um para o outro? Não lutaria por esse amor? Sim, definitivamente lutaria e só desistiria depois que houvesse razões válidas.
              Enquanto isso na casa de Cristiny...                                                                                                                                                                           

Gabriella foi dormir na casa de Cristiny, aliás, passar a noite, pois quando uma amiga vai dormir na casa da outra a conversa dura horas e o sono é o ultimo a aparecer.
Estavam deitadas no mesmo quarto. Cris em sua cama e Gaby no cochão ao lado. Apenas o abajur estava ligado. Haviam assistido ao filme “um amor para recordar” aos prantos e com brigadeiro de panela, cuja especialidade Gaby dominava. Um verdadeiro programa de mulherzinha.
- Cris, o Josué falou que você foi ontem lá em casa.
- É verdade, esqueci de comentar isso pra você. – Cris olhou para o teto, lembrando-se dos olhos verdes de Josué.
- Eu fui jantar na casa do meu tio com minha mãe e os meus irmãos.
- Nós lemos o bilhete. O Josué havia me chamado para jantar com vocês, mas aí quando eu vi que vocês não estavam, achei melhor ir embora.
- Mas por quê? Poderia ter nos esperado chegar, a gente até poderia ter visto um filmezinho na “tela quente”. 
- Seu irmão insistiu pra eu ficar, mas eu preferi vir logo para casa. Você disse no bilhete que chagaria apenas às 22h, ficaria tarde para mim. Ele fez questão de me trazer até aqui... Sabe Gaby, seu irmão é mesmo um amor, tão prestativo, preocupado. – Suspirou – impressionante como me tratou tão bem e sem me conhecer direito.
- O Josué é assim mesmo, tem hora que dá até raiva, por que de todos os meus irmãos ele é o mais calmo, sabe?  O Samuel é sem paciência, impulsivo, eu sou mais ansiosa, às vezes até grosseira e o Josué fica sempre tentando apaziguar as coisas, e o Calebe pelo visto tá puxando o jeito do Samuel – Completa ela sorrindo.
- Mas ele é ser humano, tem hora que deve estourar também, né?
- Ah sim, com certeza! Pra ele perder a paciência demora, mas também quando perde é pior que eu e o Samuel. – Ela bocejou. – Amiga, por incrível que pareça, estou com sono. – Olhou o relógio do celular e viu a hora, duas da manhã – Acho que vou dormir, amanhã acordarei cedo para ir trabalhar. O engarrafamento parece que aumenta a cada dia, quanto mais cedo eu sair daqui melhor para chegar ao trabalho.
- Entendo amiga, pode dormir. Ainda bem que eu trabalho por aqui mesmo, não preciso pegar ônibus ou muito menos engarrafamento.
- De compensação tem que suportar aquelas pestinhas! – Elas sorriram.
- Coitados Gaby! Não fala assim dos meus alunos, são uns anjinhos, para não falar outra coisa.
- Não sei como você aguenta, eu suporto o meu irmão mais novo, o Calebe, na marra, imagina trinta crianças de uma vez!
- Quem dera fossem trinta! São quarenta e três alunos, meu bem. O prefeito tem construído muitas casas e poucas escolas. Daqui uns dias não haverá escola que suporte a demanda de crianças. Mas eu amo ser professora.
- Têm que amar mesmo! – Virou-se para o lado. – Agora vou dormir. Boa noite.
- Boa noite. – Cris fechou os olhos, mas não sentia sono. De repente começou a pensar na sua vida no Rio de Janeiro. Cidade essa que nasceu e viveu até os seus 18 anos. Quando veio para Águas Lindas, passou no concurso público para a Secretaria de Educação e se tornou uma professora efetiva. Agora, aos 23 anos, tinha sua própria casa, era independente e feliz. Ao contrário do que era no Rio de Janeiro. Quer dizer, era feliz lá também, mas depois do que aconteceu, não queria mais pisar os pés naquela cidade e de fato não o fez.
Seu celular tocou. Quem poderia ser a essa hora?  Ela levantou-se da cama e foi para a cozinha, não queria atrapalhar o sono da Gaby.
- Alô?
- Cris!!!!! – Gritou uma voz feminina.
- Quem é? – Ela olhou no visor para ver se conhecia o número, mas em vão. Apenas reconheceu o DDD 21 do Rio de Janeiro.
- Sou eu, não acredito que não reconhece minha voz, sua vaca!
- Só podia ser você para me chamar de vaca, Débora.
- Prima, desculpe a hora, mas eu tinha que te ligar para compartilhar uma noticia boa.
- Por que não compartilhou no facebook em vez de me ligar a essa hora? – Cris falou querendo irritá-la.
- O Victor me pediu em casamento! – Gritou novamente, desconsiderando o que a Cris havia dito.
- Que ótimo, nega! Estou feliz por você, de verdade.
- Estou tão feliz!
- Desculpe a indelicadeza, mas eu me lembro que há três meses atrás vocês quase colocaram um ponto final em tudo...
- Nem me lembre Cris! Nem gosto de me lembrar dessa época.
- Você nem me contou o que exatamente havia acontecido naquela época. Aliás, você nunca mais tinha me ligado, sua égua. – Essa era a forma que elas se tratavam carinhosamente, por nomes de animais.
- Bem, eu e o Victor já estávamos com dois anos de noivado, mas ele nunca falava de marcar uma data para o casamento, ficava só enrolando, quando eu tocava no assunto ele dizia que era melhor esperar mais um pouco, que nós ainda éramos muito jovens, que precisávamos de uma estabilidade maior, enfim, ficava inventando mil desculpas, fazendo doce. Aí eu fui me cansando de tudo aquilo sabe? Beleza; se passaram uns seis meses e eu nuca mais toquei no assunto.
- E ele? – Cris foi ao banheiro, estava com a bexiga cheia.
- Ele também não. Então eu comecei a pensar que talvez ele não me amasse o suficiente para se casar, e o carinho que eu sentia por ele foi só diminuindo. Eu não tinha mais assunto com ele. Ele ficava tentando puxar assunto, mas eu não dava muita corda. Tadinho dele, nem beijá-lo mais eu queria.
- Tadinho mesmo, sua malvada! E você dizia o que para ele, quando não queria beijá-lo? – Cris levantou da privada, deu descarga e segurando o celular com o ombro, lavou as mãos e voltou para a cozinha.
- Eu inventava uma dor de cabeça.
- Prima, essa desculpa aí, a gente inventa só depois de casada.
Elas sorriram por alguns minutos.
- Tem razão! É uma desculpa esfarrapada. – Fizeram uma pausa – Então, depois de uma conversa que a gente teve eu resolvi dar um tempo. – Continuou a relatar o caso.
- Ele aceitou? – Cris mordeu uma maçã.
- Ele não queria aceitar, ficou muito triste, mas acabou cedendo. Mas os dias foram passando e eu comecei a sentir falta dele, das nossas conversas, do jeito que ele me olhava e de todo o resto... Aí eu resolvi procura-lo e então voltamos e hoje ele me pediu em casamento e marcamos a data.
- Será que a Dâmarys vai para o seu casamento?
- Ai se essa zebra não for. – Cris riu nesse momento, sentia saudades da Débora, na verdade, da época em que saiam juntas e de como atentava sua amiga Dâmarys, que hoje estava casada e morando em outro Estado. – Eu já mandei um recado para ela pelo bate papo do facebook convidando-a. Tomara que ela possa vir com o Eduardo. Eu tenho tanta saudade dela. Aliás, da gente.
- Eu também! Desde que ela casou não deu noticias, esqueceu da gente. E quando vai ser mesmo seu casamento?
- Dia 13 de Junho. Você vem né?
- Não sei... – Ela ficou triste.
- Está com medo de encontrar o...
- Não fale o nome desse ordinário! Não quero nem me lembrar dele.
- Desculpe! Mas esses dias eu o vi e ele parecia tão...
- Irei desligar o celular se continuar a falar dele!
- E a Justine? Tem noticias dela? – Mudou de assunto.
- Pois é ela é outra ingrata. Depois que ela e o Leandro se casaram e foram embora do Rio de Janeiro me ligaram apenas duas vezes, mas de vez em quando conversamos pelo whatsapp.
- Depois me passa o número dela. Quero convidá-la também para o casamento.
- Ok, passo sim. E sobre eu ir ao seu casamento, depois te dou uma resposta. Não sei se estou pronta para voltar ao Rio de Janeiro depois de tanto tempo.
- Ok, primona! Entendo perfeitamente, mas gostaria muito de sua presença, é importante para mim.
Cris se espreguiçou – Obrigada pelo convite, Débora! Você sabe que além de primas, somos amigas, e sua felicidade é a minha também. Não vou prometer agora, mas vou pensar direitinho e depois lhe darei a resposta.
- Beleza! Sua vaca sentimental!
- Sua égua boba!
Após trocarem essas caricias, Cris voltou ao seu quarto onde pôde ver e ouvir a Gaby roncar. Riu em silêncio, deitou na cama e suspirou. Haviam muitas coisas do passado que ainda teria que superar, mas, por agora, pensar nisso lhe dava certo pavor. Por isso sempre adiou. Mas agora com esse convite para o casamento de sua prima, que era sua amiga de infância, não teria outra escolha. Dentre alguns meses precisaria encarar aquilo que deixara no passado. Não estava pronta, mas precisaria enfrentar. E fosse feita a vontade de Deus.







ETERNO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora