O que me leva até você...

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Fechei os olhos com força, meus pensamentos estavam fortes demais. Fortes o bastante para me atingirem de uma maneira como nunca antes. As sensações que um dia senti voltaram e uma espécie de claustrofobia me atingiu. Uma massa densa se apoderou de mim e não importava o que eu fizesse, o quanto tempo passasse, nada nunca era o suficiente para apagar.

As mémorias, não havia um jeito de as apagar...

E com cada memória, uma sensação...

Me afogando, consumindo, dia após dia... 

A solidão, a multidão, o sol e a noite. Tudo me levava àqueles dias, aqueles dias em que eu sabia que estava tudo perdido e ao mesmo tempo me davam esperança.

Ouvi um grito e eu logo me levantei. Adentrei o aposento a vi ali, sentada na cama com os olhos castanhos vidrados em lugar nenhum. Me aproximei e segurei a pequena mão. Não demorou muito e eu passei a ser o foco de seu olhar. Amedrontada, mesmo que estivesse acostumada. 

- Aquelas visões de novo? - perguntei sentando ao seu lado. Encostou a cabeça em meu ombro e eu apertei gentilmente as mãos dela.

- Não param. - se queixou - Mas essa é diferente, mais dolorida e confusa. Aqueles olhos, eu não consigo esquecer daqueles olhos claros. A sensação de que ele está se aproximando ou o nosso encontro, não entendo... Ouço a voz dele me chamando, aquela voz fria. 

- O que a voz diz? - perguntei franzindo o cenho, o maxilar trincado.

- "Finalmente eu te encontrei. Depois de tantas vidas."... Eu não entendo. É como se eu sentisse o mal personificado, mas quando eu chego o mais perto que eu consigo, é como se eu quebrasse isso. Há alguma coisa que me chama pra ele...

- Sei que conseguimos fazer você se aprofundar em cada visão, mas enquanto não soubermos o que é e nem quem é, não quero mais que faça isso. 

- Eu sinto que eu preciso. 

Assisti a garota baixa caminhar em círculos no quarto. Apesar de não ser, ela tinha manias tão humanas. 

- Não posso deixar que faça isso. - confessei - Eu te encontrei e eu sabia o porquê. Minha razão é te proteger, cuidar de você. 

E de repente eu estava no passado, anos atrás. O grito esganiçado me chamou a atenção e eu jamais conseguiria esquecer. Corri com o grito me guiando na escuridão da floresta. Algo me chamava para andar naquela noite, uma sensação, como se algo me puxasse e eu descobri o porquê quando eu a encontrei encolhida, ferida e confusa. Ela não lembrava de seu nome e nem o que estava fazendo ali e quando ela me olhou eu vi o que ela era. Uma híbrida. Bruxa-vampira. Uma das mais poderosas misturas que há. Não combinava com o estado que se encontrava. Eu não podia a deixar ali, não quando ela claramente não tinha a condição de se virar.

Apesar de não ter nenhuma ligação, eu me vi responsável por ela. E isso se intensificou quando fui a fundo procurando quem era ela. A minha surpresa trascendeu minha consciência. Ela não havia sido transformada. Ela havia nascido híbrida. O pai um vampiro e a mãe uma bruxa. Eu nem sabia que era possível, mas a garota de cabelos escuros que me encarava confusa ao ler todos os documentos que tínhamos me provava que eu ainda poderia me surpreender. 

Não descobrimos muito mais que isso. Até as visões aparecerem. 

- Eu sinto que eu preciso. - ela me olhou novamente e suspirou - Uma sensação que talvez eu possa parar com alguma coisa muito maior que eu, entende? 

Ela era tão teimosa...

- Acho que já não é o momento em que temos que estudar e recuar. Acho que é o momento de ir fundo. 

- Não temos nada no que nos apoiar. Estamos completamente vendados e no escuro! 

- Talvez não tanto quanto pensamos... - ela molhou os lábios e correu para a sua escrivanhia, mexeu em seus inúmeros papéis e desenhos até que encontrou um sketchbook, o último que eu havia lhe dado. Se aproximou novamente folheando e me mostrou a página.

Minha alma, naquele momento, poderia muito bem ter saído de meu corpo. Aquela imagem... Não, não poderia ser! A olhei atônito e ela mordia o dedo em apreensão.

- Tem mais nas outras folhas. 

Com receio passei página por página. Mas eu parei quando eu vi o desenho perfeito dela, ali, naquela página amarelada...

- Onde você viu essas pessoas? - perguntei e ela sabia que havia alguma coisa. Eu nunca me senti tão atingido quanto agora. Não depois de tudo...

- Nas visões, achei que pudessem ser pessoas aleatórias, mas não consigo parar de pensar nisso e nem no que aquela voz disse, "Em Mystic Falls, é lá que vamos nos encontrar." 

Fechei os olhos.

- Então não é para lá que vamos! - afirmei.

- Mas é lá que vamos poder ou entender o que não conseguimos ainda! - ela falou deixando clara o seu desespero - Ou ao menos, por onde começar e com sorte, terminar.

Não, eu estava disposto a deixar tudo para trás e porque eu sentia que não importa o que acontecesse, o que eu passasse, tudo me arrastava para lá. Quis afogar tudo o que tinha vivido e tudo o que eu causei. Me permiti uma segunda chance e me afastei. 

Mas, tudo me leva a você, né?

- Eu jamais pediria nada disso se eu não soubesse que posso lidar com isso. - ela falou sentando na cadeira a minha frente, apoiou os braços no encosto da cadeira e eu revirei os olhos com aquele jeito moleca que ela tinha. 

A olhei com toda a seriedade.

- Você tem a certeza disso? - ergui o sketchbook e ela assentiu.

Olhei o caderno em minhas mãos como se ali, estivesse todas as respostas e decisões corretas, as decisões corretas que muitas vezes não tomei. 

Encarei a garota e eu sei que faria tudo pelo seu bem estar. Se voltar praquela cidade, voltar a conviver com aquelas pessaos era o preço a se pagar para que a sua dor passasse e ter as respostas de suas perguntas, então que seja.

- Então é para Mystic Falls que vamos.



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NOTAS DA AUTORA

Mais um capítulo, mas com mais interrogações que respostas... 

Até o próximo! ♥


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