Capítulo 2 - A Puta

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POR QUANTO TEMPO MAIS HUMILHAÇÃO?

***

Depois de alguns minutos, a professora entra na sala, olha e diz:

- Para os seus lugares, acabou a farra! - piscou para mim. É a professora que mais gosto da escola, a de português. Tem um nome lindo, Íris, ela é tão doce.

Faz a chamada e então começa a passar tarefa na lousa. Eu estava tão chateada​ e brava, não consegui fazer a lição, apenas fiquei olhando pro caderno, fingindo estar escrevendo. A minha mente estava confusa, eu estava com medo. Tive lembranças, lembrei de como me chamam... "PUTA, VADIA, PIRANHA, VOCÊ NÃO PRESTA". Senti as lágrimas chegarem, mas não podia chorar ali, não na frente deles, não podia dar esse gosto para eles. Vou até a professora, que estava corrigindo provas.

- Professora. - Falei com um nó na garganta, quase não consegui falar, saiu difícil. Ela olhou pra mim, percebeu o que estava acontecendo.

- Vai. - Me olhou com uma expressão de quem entendeu.

Sai da sala, ninguém entendeu, sorte minha. O inspetor me viu sair correndo, já com as lágrimas escorrendo. Estava tão desesperada. Corri para o banheiro feminino, entrando lá tinha aquelas meninas populares, me olharam como se eu fosse uma louca. Eu estava chorando, então riram e saíram de lá, trombando em mim.

Abri a porta de uma das cabines, entrei e sentei no chão do banheiro, chorei mais ainda. Até a hora que resolvi parar, já chega! Sai, lavei o rosto e subi as escadas de novo. A professora me olhou, vi um sorriso, um sorriso de alívio.

A aula dela acabou e então foi embora. As outras aulas não fizeram muito sentido, não prestei atenção, estava desnorteada. Queria que chegasse logo o intervalo, estar com meu melhor amigo, que por muito azar é de outra sala.

Depois de horas de aula, intervalo. Ótimo, isso significa ver o Allan. No intervalo não comi novamente. Apenas conversei e tentei me distrair, ele estava muito estranho hoje, não me disse o porquê, mas tenho o pressentimento de que logo vou descobrir.

Como sempre subi aquelas malditas escadas, estou cansada, tentei fazer cócegas nele, mas me impediu. Como disse eu sabia que iria descobrir. Ele gritou comigo:

- Sai daqui puta! Não quero mais sua companhia! Pra que continuar sendo seu amigo?!

Depois disso, desabei. Foi como se tivessem me dado uma facada, doía muito. Continuei subindo, sozinha. Sentei no meu canto e continuei o dia, não falei com mais ninguém. Depois de muita espera, tocou o sinal. Vou embora, para minha alegria. Sai para fora e minha madrasta estava me esperando, com a pior cara possível.

O que será que aconteceu? O que eu fiz agora? De quem mais eu estraguei a vida?

***

A minha família descobriu que sou chamada de puta, acho que finalmente vai acabar.

- Me chamaram na escola, agora sei o que fazem com você, como você é puta. Como consegue? - Eu não acreditei nisso.

- Mas eu... - Ela me cortou.

- Você nada, seu pai está muito bravo e decepcionado. - Eu acho que pensei cedo de mais.

Voltei para casa e lá estava meu pai, com uma cara que nunca vi e preferia não ver. Doeu ver ele assim. Ele começou:

- Isso é coisa que se faz! Como você pode fazer isso?! Você não presta mesmo! Vai virar uma prostituta! Se continuar assim vai ficar grávida com 16 anos! Sobe pro seu quarto agora! - Subi desconcertada.

Quando cheguei no meu quarto não aguentei, chorei novamente, estava cansada disso, acho que qualquer dia vou desidratar de tanto chorar. Vi a lâmina na minha cômoda, hoje estava mais tentadora, não aguentei, não sabia mais o que fazer, dói. Peguei a lâmina e então fiz o primeiro corte, cada corte gritava comigo mesma "PUTA", não estava doendo me cortar, dói mais as palavras que ouvi, dói mais do que os próprios cortes.

Observei o sangue em meu braço por um tempo, ainda chorando limpei ele. Eu ainda chorava, soluçava, não conseguia me acalmar. Comecei a mexer em meu cabelo, puxar ele, bagunçar, como se eu fosse louca, já pensam que sou isso, então por que não me tornar?

Deitei em minha cama, não conseguia mais chorar, estava fraca, sem forças, estava começando a ficar sem ar. Fiquei lá apenas observando o teto. Acabei dormindo, acordei apenas na hora do jantar, estava cansada, não tinha dormido a noite.

Desci a primeira escada, espiei pela porta pra ver se havia alguém no quarto, como não tinha abri a porta que tinha mais uma escada, que levava para a sala e a cozinha. Chamei meu pai e perguntei se podia descer:

- P... Pai... Posso descer? - Estava quase chorando novamente, não queria mais chorar hoje.

- Pode. - Falou seco.

Desci, ele me olhava de um jeito estranho, não gostei desse olhar. Fui até a cozinha, precisava comer, já estava horas sem comer, um dia inteiro. Peguei comida, jantei, sem dizer nada, escovei os dentes, peguei meus cadernos, me despedi e subi para meu quarto novamente, dessa vez só desceria amanhã.

Fiz a lição que não quis fazer em sala, coloquei um pijama bem confortável e voltei a tentar dormir. Geralmente a noite é pior pra mim. Estava muito frio, me cobri e fiquei encolhida em minha cama, como sempre INSÔNIA.

Já tinha virado rotina, sempre a mesma coisa.

AMOR NA DOROnde histórias criam vida. Descubra agora