2 Capítulo - Nossa primeira conversa

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Naquele mesmo dia, eu vim durante todo o percurso do ônibus com a imagem daqueles dois na minha cabeça. Ao chegar em casa, meu entusiasmo era tão grande que eu não liguei para a festa que estava acontecendo em toda esquina que eu passava. Na verdade eu só queria dormir, pois estava com aquele mesmo pensamento que tinha quando criança: Eu vou dormir logo, para que amanhã chegue mais rápido. E foi exatamente isso que eu fiz. Cheguei, tomei banho, comi alguma coisa e fui direto para a cama.

No dia seguinte, eu já acordei pensando neles. O que está acontecendo comigo? Será que eu estou apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo? "Mas ela não faz o meu perfil de garota". "Ele é gay. Como posso sentir isso?" (...)

Todas aquelas perguntas, duvidas e questionamentos tomavam conta da minha cabeça, pois de fato eu não sabia o que estava acontecendo comigo naquele exato momento. Foi então que chegou a hora de ir ao treinamento e consequentemente rever aqueles dois. Ao chegar no local, mais uma vez eu sentei nas primeiras cadeiras e os dois juntos nas penúltimas. O tempo ia passando muito rápido e eu já não estava prestando tanta atenção nos assuntos que estava sendo passado. Isso estava mexendo muito comigo, pois meu foco era absorver o máximo de conhecimento para ter sucesso naquele trabalho. Mas infelizmente eu não sabia que ia sentir tudo aquilo que estava sentindo.

No final do dia, fiquei sabendo que aquele treinamento só iria durar 12 dias e que no termino daquilo tudo, seriamos colocados em setores e horários diferentes. Porém, tudo isso só iria ser divulgado no ultimo dia. Depois de ouvir aquela notícia, me bateu muito medo, pois em depois de tudo não conseguir falar com eles. Então pensei em criar coragem para falar com um deles enquanto eu estava tendo oportunidades. Mas o inacreditável estava acontecendo, eu estava sentindo vergonha. Eu realmente estava mudando.

O dia acabou, mas as expectativas eram as mesmas. No dia seguinte, ao chegar na sala, havia 5 cadeiras vazias, pois as pessoas estavam desistindo e mais uma vez eu sentir algo que fazia tempo que não sentia: medo. Medo de não ver mais aqueles dois, de que eles desistissem ou apenas não alcançasse minhas expectativas. Nesse terceiro dia, eu já não estava conseguindo disfarçar que algo estava acontecendo comigo, pois eu não parava de olhar na direção deles. O engraçado é que a menina nunca olhava e todas as vezes era o menino que retribuía o olhar. Por qual motivo eu não sei, mas o sorriso daquele menino me chamava muito atenção e tendo ideia ridícula e boba, eu acabei tirando uma foto dele sorrindo.

Voltando para casa, naquele ônibus lotado, lembrei que havia tirado aquela foto, então tirei o celular da bolsa e durante todo o caminho de volta pra casa fui olhando aquela foto e várias vezes me pegava com um sorriso bobo no canto da boca...

O quarto dia chegou, e todos da sala já estava familiarizados, menos eu, claro. No intervalo, foram todos para o andar de baixo e de longe eu observava os dois tirando fotos, e como de costume ,eu estava sozinho (por opção), comendo um salgado que havia comprado. Quando todos estavam voltando pra sala, eu tive a coragem e a cara de pau de pedir para o menino me adicionar em uma rede social. Mas a reação dele não foi das melhores, percebi isso pois ele cruzou os braços, franziu a testa, bateu a perna e fez uma cara de que iria me dizer poucas e boas. Mas não, ele simplesmente não falou nada, então eu corri para a sala e comecei a suar de tão nervoso. Pois eu havia pago um maior mico da história.

Com o passar dos dias, eu já havia começado a interagir melhor com as pessoas. Já havia deixado de sentar na frente igual um nerd e fui para a parte de trás como sempre fui desde o ensino médio (bagunceiro). Eu tinha trocado de lugar, pois havia conhecido umas garotas lésbicas e super me identifiquei com o jeito grosso e masculino daquelas garotas. Também estava podendo sentar na cadeira atrás daqueles dois. Conforme os dias foram passando, eu descobri os nomes deles, descobri o ônibus que eles pegavam.

Cheguei até pegar o ônibus com eles um dia, mas até então não consegui dirigir nenhuma palavra para eles. Foi então que chegou o 10° (décimo) dia e uma pessoa da sala resolveu pedir o número de todos para colocar no grupo do whatsapp. A lista foi passando conforme os lugares onde todos estavam sentados. Então chegou a vez da menina (Bianca), mas ela não quis colocar o número e passou o papel para o amigo (Gustavo), que resolveu colocar seu número e o próximo seria eu (Miguel). Então eu decorei o número de Gustavo antes de colocar o meu e repassar o papel para o próximo.

No fim do dia, eu ouvi Bianca dizer que iria para o mesmo bairro que eu, então eu sair correndo, quase cai da escada. Ao chegar perto dela, perguntei se ela realmente iria para o mesmo lugar que eu. Antes que ela pudesse responder, Gustavo a puxou pelo braço e falou em alto e bom som que ela teria namorado. Os dois viraram as costas e foram em bora, me deixando numa saia super justa, pois algumas das minhas "amigas" estavam próximas e começaram e rir de mim. Eu não liguei muito e ao chegar em casa. decidi tomar coragem novamente e falar com Gustavo na rede social. Afinal, o período de treinamento estava faltando dois dias para acabar e eu não estava bem comigo mesmo se deixassem eles dois desaparecerem da minha vida. Durante a conversa no whatsapp, eu dei entender que estava afim de Gustavo. Eu não sabia de fato se estava ou não, se era dele ou da garota. Mesmo assim eu vi isso como uma oportunidade de aproximação. Mas de qualquer forma, eu pedi segredo a ele, pois não queria que ninguém da turma soubesse, inclusive, Bianca.

No dia seguinte (11° décimo primeiro dia), percebi que tanto ele quando Bianca, estavam me olhando diferentes. Me deu um certo medo, pois já imaginava que ele teria dito a ela sobre nossa conversa e ela poderia espalhar para o resto da sala. Mesmo assim eu me acalmei e fui para casa. Foi então que eu percebi que tinha uma garota que havia me adicionado em todas as redes sociais. Como ela descobriu? Não sei, pois eu já havia procurado eles e não tive sucesso. Após aceitar as solicitações, imaginei que não duraria muito tempo até que ela viesse falar comigo, e foi justamente isso que aconteceu. Mas as primeiras frases da conversa foi descrita por perguntas diretas e bem objetivas:

— Oi, você está afim de mim ou do meu amigo? Você é gay ou hétero? – Pergunta, Bianca.

Eu não sabia o que responder, fiquei super nervoso, onde terminei dizendo que estava afim dela e Inventei uma conversa, dizendo:

— Eu imaginava que Gustavo iria comentar sobre a conversa com você, mas tive que fazer isso, pois queria muito conversar contigo e não estava tendo oportunidades. – Tentei deixar bem claro de que tudo aquilo não passou de uma mentira para chamar atenção.

Depois de muita conversas e histórias inventadas, decidimos que no dia seguinte, no último dia de treinamento, iríamos ficar para "conversar"...

Três em umOnde histórias criam vida. Descubra agora