EU SOU O AMOR DE SOUTA

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-Por que você fica sentada perto da janela desse jeito dramático todo dia? - Lucas entrou no quarto e se encostou na parede.

-Porque eu preciso tomar sol.

-Você é uma mulher vaidosa Lauren, eu te vejo belíssima quando chegar aos cinquenta.

-Primeiro que Deus me livre viver tanto tempo com você. - resmunguei com os olhos fechados sem demonstrar entusiasmo - Segundo que eu tomo sol porque essa é a única entrada de luz do quarto que eu fico vinte e quatro horas, eu preciso de vitamina D.

-Marquei nosso casamento para semana que vem.

-O que? - meu estômago se apertou, Mila me pediu para atrasar o máximo possível, e não saí mais nos últimos dias, então não sei se ela já descobriu alguma coisa.

-Pra que esperar? Eu contratei uma pessoa para organizar tudo, então não teremos preocupações.

-Eu não quero semana que vem.

-Então quando você quer?

-Seu possível nunca. - remexi a tornozeleira.

-Então que diferença vai fazer?

-Eu não tenho um vestido. - lembrei na tentativa de ser uma desculpa boa o suficiente.

-Ah não! Eu me esqueci completamente! Ficamos esperando seu braço sarar.

-Já que eu não tenho escolha mesmo... - suspirei e rapidamente me lembrei do que Souta disse.

Há uma crença de que quando se suspira deixa escapar um pouco de felicidade.

-Eu vou remarcar então, que tal para dia quatro de março? - o dia seguinte a entrega do suposto carregamento?

-Um domingo?

-Eu tenho bom pressentimento pra esse dia. - sorriu confiante, isso me fez sorrir também, até porque o plano estava entrando em prática.

-Que seja então.

-Vamos tomar café no jardim hoje, termine de tomar seu sol lá.

Caminhamos tranquilamente até o jardim de trás, haviam duas empregadas pondo a mesa, o vento fresco da manhã agitava meus cabelos agora ressecados, Lucas me observava de maneira estranha, apanhou uma mecha e deslizou os dedos por ela, lembrei-me de Souta, ele tinha hábito de fazer isso, a memória se expressou de maneira triste, se o plano de Mila der errado eu terei que esperar muito pra talvez ficar livre. A possibilidade de ser eternamente a esposa de Lucas fazia meu estômago revirar.

-Que cara triste Lauren, achei que te trazendo pra fora você ia se animar.

-Com você na minha frente é impossível.

Remexi a xícara de café freneticamente sobre o pires, era o típico "café de fazenda", o café é quente, a xícara é quente, o pires é quente, a colher de mexer é quente. Lucas se comportava de forma pacífica e isso me incomodava de certa forma, eu não entendo como ele pode se manter tão tranquilo me mantendo aprisionada numa casa no meio do nada.

-Eu quero te dar um presente de casamento. - ele se ajeitou na cadeira.

-Faz o que quiser.

-Eu deixarei que faça uma carta para Souta, ela será entregue mesmo que eu odeie o que tiver escrito, será seu último contato com ele.

-Quem me garante que você vai entregar mesmo? - murmurei sem o menor entusiasmo.

-Eu nunca descumpro uma promessa.

-Que seja então. - levantei da mesa e sai caminhando de volta para a casa sem ao menos provar nada da mesa do café.

As empregadas me davam bom dia e eu simplesmente sorria torto e acenava, apesar do jantar no final de semana ter sido um grande passo algo em mim estava desanimando, eu me sentia um fantasma, oca por dentro, desleixada por fora, era como me assistir morrendo e não poder fazer nada.

LAURENOnde histórias criam vida. Descubra agora