Impossível não pensar. A Colheita é em dois dias. Não sei do que mais tenho medo. Da Colheita, deixar minha família, de umas das minhas irmãs deixar a família ou dos meus cabelos caírem de tanto stress.
Pelo menos a salada tava boa. Francis vai chegar em poucos minutos. Mas já está tarde. Já passa das 22:00.
O toque de recolher é as 23:30.
Desde pequena que eu espero Francis chegar para poder dormir. Fico com medo de acontecer algo com ele ou ele ir embora.
Sei que ele jamais iria nos deixar. Mas esse medo é desde criança.
Ouço alguém destrancar a porta. Ele chegou.
Quando Francis entra com seu macacão todo sujo, meu coração se enche de alívio e orgulho.
-Tá atrasado senhor! -disse, enquanto cruzava os braços.
-Desculpe meu atraso senhorita. -ele sorri com desdém.
Seus cabelos são iguais aos meus. Mas os olhos azuis ele puxou da mamãe. Assim como Felicity e Helena. Sou a única que puxou os olhos do pai.
-Sobrou jantar? -ele pergunta-Vai lá ver senhor atrasado.
Ele sai da sala dando gargalhadas. Francis sempre ri com qualquer coisa que eu falo.
-Vou dormir. Fiz o jantar e ajudei a mamãe com o almoço. Não estou cansada mas quero minha cama
-Vai lá pequena. Daqui a pouco eu vou dormir também.
-Depois de um banho.
Ele solta mais gargalhadas como se minha ordem fosse uma brincadeira.
Fiz um gesto de "estou de olho em voce" e fui para minha cama.
Felicity e Helena roncam felizes em suas camas. Pela primeira vez, estou com medo. Medo de perder minhas irmãs. Medo de nunca mais ver minha mãe, Francis e elas. Medo de não ouvir esses roncos nunca mais.
Sorri comigo mesma. Sou tão ridícula.
É melhor ir dormir. Sei que não vou chorar enquanto estiver dormindo.
《》 《》 《》 《》 《》
Alguma coisa está me balançando. Felicity.
-Acorda pra vida pequena. Hora de levantar. -ela pressiona alguma coisa na minha testa. Seu dedo. Com saliva.
Sorri.
-Eca!- gritei
-Nem vem com "eca" porque minha boca tá limpinha. Agora você deve levantar.
Fiz isso. E fui me arrumar para mais um dia.
Quando entro na sala tem uma papelada em cima do sofá. Olhei para os lados a procura de alguém que pudesse estar me espionando. Ninguém.
Quando me atrevo a ler a primeira folha, Francis surge atrás de mim. E me pega no ato.
-O que é isso?-perguntei enquanto erguia a papelada.
-Um contrato. Estão querendo que eu administre a produção da indústria. Eu tenho até amanhã para dizer se aceito ou não.
-É claro que você vai aceitar. Isso vai aumentar seu salário. O que seria uma coisa boa.
Francis me encara com tristeza nos olhos. Minha mãe entra pela porta da frente com frutas que ela comprou na feira.
-Bom dia meu bem!- ela me da um beijo na testa. -onde está Felicity e Helena?
Foi só a mamãe pronunciar seus nomes que elas vieram na sala.
-Estamos aqui mãe. -diz Felicity com serenidade.
Minha mãe encara cada um de nós. Até que finalmente resolve finalmente falar alguma coisa.
-Como vocês sabem a Colheita será amanhã. Quero que vocês fiquem descansadas.
Estremeço.
-Mãe, a chance de uma de nós ser escolhida e é quase zero. Não vamos nos preocupar com o amanhã quando ainda temos o hoje nas mãos.-os olhos de Helena estavam marejados assim como os meus.
-Sei disso. Mas quero que estejam prontas caso aconteça.
Minha cabeça é tomada por uma dor extremamente forte. Francis me abraça e começa a acariciar meus cabelos.
Assim que ele me solta, sua camisa roxa está molhada. Meus olhos molharam a roupa dele. Eu estava chorando.
-Hoje quero Felicity e Francis me ajudando. -minha mãe anuncia ao entrar na cozinha. -Celinne, preciso que vá até a feira e compre duas cebolas.
Assenti. Ela me entrega duas moedas. E eu vou.
A feira estava mais cheia do que o normal. Com certeza é porque os produtos já estavam acabando e as pessoas adorariam estocar o máximo até a próxima feira.
Esbarro com um. Esbarro com outro. Todos apressados e suados.
Esbarrei em mais um. No total eu devo ter esbarrado em mais de vinte pessoas.
-Bom dia Gregory!- disse ao feirante
-Muito bom dia Celinne! O que vai levar?-Quero duas cebolas. -respondi com um sorriso de orelha a orelha.
Ele escolhe as cebolas e me entrega na verdade 7 cebolas.
-Gregory, não tenho tanto dinheiro.
-Tudo bem. Você e sua família são minhas clientes especiais.
Só consigo sorrir e dizer um "Obrigada " .
No caminho de volta, as ruas estavam mais vazias. Não havia absolutamente ninguém. Ninguém.
Estranhei.
Abri a porta de casa e tudo estava revirado. Não levaram nada. Mas deixaram a casa uma desordem completa.
Arregalei os olhos e corri pela casa a procura da minha família. Estavam no quarto. Chorando.
Quando entrei vi Felicity, Helena e minha mãe abraçadas. Aos prantos.
-O que aconteceu?!- perguntei desesperada
-Francis - gaguejou Felicity.
Só pensei no pior. Onde estava meu irmão? O que tinha acontecido quando eu sai?
Sai do quarto e procurei na casa toda. Francis havia sumido.
Minha mãe e minhas irmãs vieram correndo até mim.
-Assim que você saiu, entraram umas pessoas aqui procurando o Francis. Dissemos que ele havia saído. E então eles começaram a revirar as coisas. -minha mãe estava tremendo.Olhei para elas com uma expressão de choque.
Onde está meu irmão? O que aqueles homens queriam com ele?
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Soberania de Ferro
DiversosHá muitos anos após a guerra,o governo dos Estados Unidos decidiram criar uma divisão social. De um lado, os pobres que vivem em péssimas condições e do outro a elite que vive na conforto. Sabendo que a população mais pobre poderia se rebelar e c...