Prólogo

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 ...Eu me perdi,

Perdi você,

Perdi a voz,

O teu querer.

Agora sou

Somente um,

Longe de nós

Um ser comum

— Sensações, Paula Fernandes.

Luz colocava os pratos sobre a mesa ao passo em que analisava a lasanha congelada sendo assada no forno micro-ondas. Não era um bom dia e não podia se dar ao luxo de perder um minuto que fosse, por isso corria para conseguir dar conta de todos os afazeres. Contou os segundos para ouvir a campainha que indicava o final do cozimento para finalmente chamar a filha para comer.

— Sofia! Venha almoçar, querida! — Terminava de arrumar a mesa quando ligou a pequena televisão que Grace costumava manter na cozinha — Sofia, por favor! Não posso me atrasar hoje para as aulas!

— Já estou aqui, mamãe — A bela garotinha de olhos esverdeados aparece na cozinha usando uniforme escolar e com o longo cabelo escuro devidamente penteado. Senta-se ao lado da mãe na mesa e assiste a mesma preparar seu prato — Lasanha de novo, mamãe? — A menina sorri quando Luz deposita o prato a sua frente.

— Não reclame, Sofia. Foi o que deu para fazer na correria de hoje e você sabe que já tivemos bem menos do que isso para comer — Luz repreende colocando suco para a filha, que apenas concorda.

— Sei sim, mamãe. Não estou reclamando, pelo contrário! Eu adoro lasanha! — Luz acaricia o cabelo da menina e as duas fazem uma breve oração antes de iniciarem o almoço.

Para Sofia a refeição segue normalmente, mas Luz logo recebe uma chamada da Diretora da escola onde dá aulas de Artes e precisa se ausentar alguns instantes. Não estava sendo fácil conciliar a carreira de professora com uma filha de sete anos para tomar conta sozinha, mas precisava do trabalho. Há pouco mais de sete anos vivia uma constante luta para criar Sofia e nada no mundo parecia estar ao seu favor. Considerava-se uma sortuda apenas por ter um trabalho mediano e um teto sobre a cabeça.

Morava em um pequeno apartamento na periferia que pertencia a sua melhor amiga, Grace, que mais viajava a trabalho do que parava em casa. Grace as abrigou ali visando ter alguém para cuidar da casa em sua ausência, dar comida para o gato e dividir as despesas. Era muito mais do que Luz podia esperar após ter sido expulsa de casa pelo pai quando estava grávida e perder todo seu dinheiro no tratamento de Sofia, que nasceu com uma pequena doença e teve de ser tratada nos primeiros anos de vida. Hoje, com sete anos, já estava curada e saudável.

Luz desligou o telefone e suspirou para si mesma quando se deu conta de que precisava estar na escola em uma hora e meia, não em três como antes havia previsto. Precisava cobrir uma aula acima da sua, mas como faria com Sofia? Observou a pequena comendo e assistindo televisão totalmente concentrada e se colocou a pensar. Ligou para a escola dela em seguida e pediu para deixá-la mais cedo, algo que foi aceito com relutância. Todos sabiam da situação de Luz, mas a escola já fazia muito em lhe conceder uma boa porcentagem de bolsa para Sofia, que cursava o segundo ano do ensino fundamental.

— Tudo bem filha? — Sentando-se a mesa novamente, Luz volta a comer com pressa dobrada — Não demore muito porque temos que sair mais cedo. É o tempo de você escovar os dentes e sairmos!

Falsas Intenções (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora