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🙏😥

Atualmente

Os aparelhos que monitoravam os sinais vitais do pequeno Pablo causavam um ruído perturbador aos ouvidos de Santiago, que encontrou o pequeno sentado sobre a cama alta rabiscando alguns papéis.

— O que está fazendo hoje, campeão? — Sentando-se no pequeno sofá a frente da cama, bebericou seu café expresso enquanto aguardava a resposta do garotinho.

— Estou colorindo minha obra de arte, papai — Seguia concentrado e pintava com muito entusiasmo apesar de suas limitações pelos fios ligados a seus bracinhos — Acredito que essa será a melhor entre todas!

— Ah, claro... Você se chama Pablo por isso, porque eu sempre soube que seria um segundo Picasso — Brincou e arrancou um sorriso do filho, que nem sequer desviava os olhos do desenho em questão.

Ergueu-se da poltrona e caminhou lentamente até a beira da cama, observando por cima dos ombros de Pablo as linhas tortas e rabiscadas por ele. Surpreendeu-se quando notou que não se tratava de um trabalho puramente infantil, mas sim algo muito mais inspirador. As curvas dos traços já não eram tão desengonçadas e podia enxergar perfeitamente duas figuras pequenas de mãos dadas tomando forma a partir da pintura.

— Uau... Foi mesmo você quem desenhou isso, Pablinho?

Os olhos castanhos do garotinho se dirigiram ao pai o repreendendo.

— Não me chame assim, pai. Esse é meu apelido de bebê e agora sou um homem! — Santiago riu e bagunçou o cabelo farto do garoto.

— Me desculpe, mas você só tem sete anos... Devo te lembrar, afinal — Pablo deu de ombros e voltou a pintar.

— Oito anos, pai. Dizem que já é muito para os anos que posso viver, por isso já posso me considerar grande.

— Quem foi que te disse isso? — A voz enraivecida de Santiago fez o menino encará-lo novamente.

— Os médicos dizem isso todo o tempo... Amora também.

Santiago engoliu a respiração e não soube o que responder. Sabia que era uma verdade, por isso não havia como contestar as inocentes e certeiras palavras. Perante a expectativa de vida que haviam recebido após o nascimento de Pablo, o marco de viver oito anos já podia ser considerado uma grande vitória.

Ajeitou-se ao lado do filho e seguiu com o olhar no desenho.

— Ainda não me respondeu... Foi mesmo você quem o fez?

— Sim... Fui eu mesmo — Seguia pintando, cada vez deixando a pequena obra ainda mais formosa.

— Quando foi que aprendeu a desenhar tão rápido? Antes eram grandes desastres... — Pablo riu baixinho e mostrou o desenho para o pai poder apreciá-lo ainda mais.

— Faz tempo que você não me vê desenhando, papai, mas não posso dizer que é sua culpa. Já fazia um ano que eu não precisava ficar trancado aqui... — Referia-se ao hospital, olhando pelas paredes azuis enquanto Santiago analisava o desenho.

— Quem são essas pessoas? — Apontava para as figuras retratadas no papel — Eu e Amora?

— Não... O menino sou eu com um anjo que vi em meu sonho — Explicou docemente.

— Um anjo? Seu anjo é uma bela menina, então? Pelo que eu saiba os anjos do Senhor não são divididos em meninos e meninas, filho... — Pablo pensa alguns segundos.

— Esse anjo não é um anjo que vive no céu, pai. Ela vive na terra, junto de nós — Parece convicto no que fala, por isso Santiago apenas o escuta e admira o belo desenho.

Falsas Intenções (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora