Falsas Intenções (Degustação)

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Santiago não fazia mais questão de esconder qualquer sentimento enquanto ouvia Luz contando sobre suas origens. Descobriu em pouco tempo que a garota era filha de um agricultor com uma professora e tinha um irmão mais velho que havia se afogado no mundo das drogas ainda muito jovem. Júnior, como ela o chamava, havia sido preso várias vezes e expulso da casa dos pais quando aconteceu.

— Meu irmão tinha uma namorada que engravidou e teve um filho dele. Fatalmente a moça também andava no mundo das drogas, não tinha família e também foi presa. Meu sobrinho mora com meus pais desde o nascimento e hoje tem três anos — Explicava enquanto ambos estavam reclusos na sala tomando uma xícara de chocolate quente preparado pela máquina. Havia uma bacia de chocolate com frutas ao lado também.

— Então você é o orgulho da família Lasques? — Santiago a encarava com doçura.

— Sim! Dá para acreditar? — Gargalhou bebericando a xicara. A tempestade continuava forte e persistente.

— Claro que sim, mas tenho uma dúvida — Luz assentiu e ele se aproximou um pouco mais — Todas as pessoas de sua família são tão bonitas quando você?

Luz se calou e engoliu em seco pelo tom sensual que a voz de Santiago adquiria ao se referir a sua beleza. Os olhos dele queimavam em sua direção e as palavras lhe faltavam. Apenas podia ouvir o soar da tempestade em sintonia com as batidas vigorosas de seu coração.

— Eu...

— Não precisa responder. Acredito que seja impossível tamanha beleza se repetir diversas vezes... É algo único... Incomparável — Os rostos de ambos se aproximava a cada palavra de Santiago, que era atraído para Luz cada segundo mais.

— Talvez seus olhos enxerguem demais — Abaixou o rosto cortando o contato e colocando o dedo dentro da bacia de chocolate ao lado — Devo dizer que você também é bonito... Mesmo com o rostinho manchado!

Luz passou o dedo sujo de chocolate no nariz de Santiago, que se afastou rindo e com expressão de desgosto. Ambos gargalhavam juntos enquanto ele também pegava a bacia em mãos e sujava os dedos com ainda mais chocolate.

— Acha que pode sujar um homem e sair impune dessa, garotinha? — Luz se ergueu correndo do sofá para longe de Santiago ainda gargalhando pelo rosto dele sujo — Meu signo é vingativo, Luz Lasques... Você não vai escapar dessa!

A moça ria enquanto corria dele em meio ao amplo apartamento. Santiago a perseguia de maneira bem-humorada e as gargalhadas dela eram ouvidas por todo o ambiente, enchendo o lugar de vida como há muito não se via. Luz abriu a primeira porta que encontrou e adentrou rapidamente, empurrando-a para ser fechada. Santiago empurrou do outro lado e demorou apenas alguns segundos para vencer a força de Luz, que gargalhava enquanto corria para dentro do box do banheiro buscando se esquivar de seu caçador.

— Não Santi! — Dizia em meio à brincadeira, escorando-se perto do chuveiro.

Santiago a alcançou rapidamente e passou o chocolate de seu dedo na bochecha rosada da garota, que ria alto, presa contra a parede fria pelos braços fortes dele. Não demorou muito para se encararem e a tensão se instalar entre ambos. O rosto de Luz estava ainda mais sujo que o de Santiago, porém ainda era a coisa mais encantadora do mundo aos olhos dele.

Queria beijá-la agora mesmo e tê-la em seus braços... Os olhos azuis se abaixaram como se Luz sentisse medo e Santiago se aproximou no limite do aceitável, prensando o corpo dela contra a parede fria de modo a nenhum espaço sequer lhes separar o ar.

— Porque não olha para mim?

O calor do corpo dele a embriagava. A proximidade dos lábios firmes a confundia... Ergueu os olhos com o pouco de coragem que lhe restava e sustentou o olhar esverdeando de maneira hesitante.