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A manhã ensolarada reflete a olhos nus como a mais bela paisagem. As montanhas sinuosas de uma belíssima cidade no interior de São Paulo desenham a beira do riacho, que desce tranquilo e sereno rodeado por flores coloridas, perdendo-se de vista na divisa das fazendas das famílias protagonistas daquela história.

Clara caminhava a beira do riacho descalça, com os delicados pés tocando a grama que cobria o chão em grande parte. Eram poucas às vezes em que conseguia escapar da fazenda sem ser vista pelo pai, que acreditava que sua criação deveria ser feita longe dos olhos do mundo. Era a moça mais bonita que habitava a cidade fictícia de Lua Bonita, porém sua beleza vivia encarcerada pelo medo que seus pais tinham de a moça sofrer algo por parte da família inimiga... A família dos Velasco. A família de Pedro Paulo.

Há muitos anos não se viam, desde quando eram apenas duas crianças. Seus pais, Alaor e Apolo, eram amigos de infância e foram separados pelo amor incomum que nutriam por Emperatriz, a mulher que escolheu Alaor por dinheiro e sempre amou Apolo em segredo.

Apolo, pai de Clara, antes era um empregado de Alaor - o maior fazendeiro da região - e enriqueceu após se casar com Victoria, uma jovem cigana que vivia fugindo de uma vida sem raízes. Após o casamento do verdadeiro amor, Emperatriz Velasco jurou fazer da vida de Apolo e Victoria um inferno. O motivo? Nunca foi capaz de esquecer Apolo e muito menos se perdoar por não ter o escolhido no passo, optando pelo dinheiro garantido de Alaor.

Alaor e Emperatriz tiveram três filhos, Pedro Paulo, Fernando e Aurora. Já Apolo e Victoria apenas trouxeram a doce Clara ao mundo, já que quando Victoria gestava sua única filha foi acometida por um acidente causado por Emperatriz e quase perdeu a vida. Como consequência não pôde ter outros filhos.

Clara cresceu protegida pelos pais, mas nem isso impediu que fosse vista como "a filha da bruxa". Emperatriz - a mulher mais influente da região - espalhava pela cidade que a menina era fruto de uma magia cigana e apenas por isso Victoria ficou estéreo após seu nascimento. Apontada e sempre hostilizada, Clara podia contar com a amizade de apenas uma pessoa na pequena cidade... Pedro Paulo Velasco.

Alaor e Apolo, ignorando as rixas entre as esposas, restabeleceram os laços após o nascimento dos filhos criando-os juntos. A pequena Clara via em Pedro um irmão mais velho que a protegia das más línguas na cidade e Pedro via nela uma menina doce e injustiçada.

Pedro era mais velho, por isso Clara nutria seu amor por ele em segredo. Aos doze anos criou coragem de contar a ele que estava apaixonada e, sendo retribuída pelo amigo, conversaram com os pais e Alaor e Apolo viram ali a oportunidade perfeita de juntarem as fazendas e se tornarem finalmente parentes! Clara e Pedro Paulo, então com doze e dezessete anos, foram prometidos em casamento após a maior idade da menina.

Sabendo da história, Emperatriz jurou jamais permitir que seu primogênito se casasse com a filha de Apolo - seu verdadeiro amor - com Victoria! Já havia perdido o homem que amava para sempre e agora não abriria mão de seu filho para o fruto daquele casamento que tanto invejava!

Em uma noite obscura em que sabia que Victoria estaria sozinha com Clara, mandou um capataz desalmado invadir a fazenda de Apolo e atacar mãe e filha, de modo a marcá-las para sempre com a maldade de Emperatriz Velasco. O capataz, seduzido por Emperatriz, surrou Victoria até deixa-la cega em frente a sua pequena filha, a quem não teve coragem de lastimar.

Alaor e Apolo travaram uma briga de vida ou morte na disputa pela palavra real. Quem dizia a verdade? Emperatriz ou Victoria? De fato havia Emperatriz mandado atacar Victoria? Em quem deviam acreditar? Os amigos brigaram até a inconsciência e apenas pararam porque Emperatriz não permitiu que Alaor matasse seu verdadeiro amor.

Falsas Intenções (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora