Capítulo 27

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Abro meus olhos e encaro o teto branco acima de mim. Minhas costas doem e estico minha mão para o lado, atingindo o piso gelado. O que está acontecendo?

Ainda me sinto tonta, mas consigo me sentar no chão da sala. Não vejo nada de diferente, muito menos Anna. Mas estar deitada no chão com uma almofada abaixo da cabeça, realmente me assusta.

"Até que enfim!" Ouço uma voz atrás de mim e me viro rapidamente. "Quase que me mata." Ela apoia a mão no peito.

"Minha cabeça está explodindo." Reclamo.

"É fome." Ela responde. "A pizza está em cima da bancada."

Franzo a testa e ela solta uma risadinha. Anna não está confortável e percebo isso pelo movimento que faz com suas mãos. Ela está super nervosa e tenta aliviar o clima pesado sendo engraçada.

"Aquilo que você disse." Engulo em seco. "É... É verdade?" Tento me levantar do chão e ela estica o braço para me ajudar.

"É." Ela abre um pequeno sorriso.

"Mas... Por quê? Eu não entendo. Por que ele nos deixou?" Passo as mãos nos cabelos ainda suados.

"Eu não sei." Anna diz e encara o chão, como se buscasse respostas para minha pergunta. "Mas sei que é difícil para você entender isso agora." Ela volta a me encarar. "Precisamos fazer um teste de DNA para provar que é mesmo filha dele, e minha irmã."

Eu pensava que Anna não gostaria da ideia de eu ser sua irmã, no entanto, seu sorriso largo me surpreende.

Já estávamos sentadas no sofá há algum tempo, e no seu olhar, eu não conseguia encontrar nenhum ponto de arrependimento, ela estava feliz por ter me contado.

Mas nada ainda estava certo em minha cabeça. Era como se meu cérebro negasse a imagem da figura paterna, ainda mais sendo meu chefe, Senhor William.

"Então, era por isso que sua mãe não queria que ficássemos juntas?" Me viro para a morena. "Por que ela não queria que eu descobrisse ser da família."

"Sim." Anna passa a mão em seus cachos. "Ela ficou em choque quando descobriu que meu pai tinha outra filha. E as brigas pioraram quando ele decidiu que iria procurá-la."

Eu ainda não sentia como se Anna fosse minha irmã. Era como se fôssemos amigas compartilhando um segredo em uma sala de estar. A pizza já deve estar fria e sinto mais fome, mas estou curiosa o bastante para interromper o assunto.

"Meu... Nosso pai está realmente doente." Ela engole em seco. "E talvez, não vá sobreviver. A doença está o corroendo por dentro." Ela me olha. "Maldito câncer!" Ela bate a mão no sofá. "A última coisa que ele queria era isso: as duas filhas juntas."

Muitas coisas ainda não faziam sentido para mim, mas eu já estava conseguindo entender o motivo de tudo. Quando Anna aceitou meu convite para um jantar, quando Margareth me demitiu pelo jantar, os olhares de raiva da mesma, minha mesa ser na sala de Sr. William e não no corredor, como acontecia com todos os outros secretários.

"Eu sei que é coisa demais para sua cabeça, mas..." Ela abre um sorriso. "Caralho, somos irmãs!"

Os saltos da garota fazem o som ecoar pelo salão. Seus lábios estão de uma cor avermelhada provocante, do jeito que ela sabia que ele gostava. Antes de abrir os portões de vidro, ela retoca o batom em seus lábios e murmura palavras encorajadoras para si mesma.

Ela empurra uma das portas de vidro e alguns olhares se viram para a garota. Ela veste seu usual vestido vermelho longo que esconde suas cicatrizes que a deixam tão insegura sobre si mesma.

Seus olhos percorrem pelo salão a procura do rosto tão bem conhecido. Ele estava tão bonito, mais velho, mais adulto. E lá estava ele, com um sorriso nos lábios e um copo de wisky nas mãos.

Em poucos minutos, ele larga o copo em cima da mesa e caminha com passos largos até a morena. Ele segura seu braço com força e a leva até o canto do salão, onde o mesmo não imagina que as pessoas possam ver.

"O que está fazendo aqui?" Ele pergunta, com os dentes serrados. "O que está fazendo aqui, Megan?"

A música está alta e as pessoas dançam pelo salão a fora. Megan só deveria ser mais uma pessoa em busca de diversão, essa noite.

"O que acha que vim fazer em uma boate?!" Ela ergue uma das sobrancelhas. "Nem tudo o que eu faço tem a ver com você, amor." Seus dedos alisam o rosto raivoso de Shawn. "Boates foram feitas para as pessoas dançarem, se divertirem..." Seus dedos acariciam os lábios rosados dele. "Me dê licença."

Ela esbarra no ombro de Shawn propositalmente e caminha até o bar ao fundo da balada, bebendo duas doses da vodca mais forte assim que se apoia no balcão.

Megan sempre dançou muito bem, e pelo o que parecia, ela nunca havia perdido o jeito de balançar seu corpo. A cada instante, ela encarava o garoto que amou durante anos conversar com seus amigos, ela também sabia dos olhares que ele costumava lançar quando ela rebolava ao som das músicas.

Ela já estava se cansando e tendo total certeza de que não aguentaria mais um minuto com aqueles saltos que machucam seus pés. Ela o encara uma última vez. Talvez, ele, finalmente, faça algo antes que ela vá embora.

E ele faz. Megan sente os lábios quentes de seu ex-namorado tocarem os seus com voracidade. Suas peles suadas e os corações batendo forte dentro do peito.

Ele havia voltado para ela. E ela por ele.

Memories of Love || Shawn Mendes [book 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora