CAPÍTULO XXIV

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Após um ensaio desconfortável, Adam puxou Astrid pelo braço até o banheiro apertado do galpão, enquanto Colin fora trocar as cordas de sua guitarra no intervalo.

- Astrid... Não é possível...

Ele a olhou da cabeça aos pés, como se estivesse vendo uma criatura sobrenatural.
Ela sorriu docemente.

- Oi, amor. Você passou na cafeteria da minha mãe semana passada, não é?

- Como você sabe? Você havia sumido! Ela mesma havia dito!

- E sumi. - ela disparou, encarando uma unha - Se você tivesse ido até lá uns dois dias depois, talvez teria me assistido ser expulsa por ela aos gritos.

Ele engoliu seco, passando ambas mãos por seus cabelos, e tentando encontrar a lógica em tudo aquilo.

- Eu havia passado lá porque aqueles dois filhos da puta me expulsaram do projeto musical deles. Me deixaram no meio de uma rua deserta. Tive sorte, pois encontrei um velho tarado de caminhão ali perto, que me deixou em um local mais aproximado de casa.

- Astrid... Isso é muito confuso... Quem foram os caras com quem você saiu de casa acompanhada?

- Henry e Johnson. Eles estavam com um projeto de criar um grupo musical em mente. Viram que eu tinha uma boa voz, e me propuseram a fugir de casa para viver em uma van com eles. Beleza, eu dormi com o Henry várias vezes, se quer saber. Mas nunca esqueci de você. - ela franziu as sombrancelhas - Nunca esqueci que você me deixou por conta de uma bandinha. À princípio, eu me juntei à eles para fazer sucesso, e passar por cima da sua banda como vingança, até eles encontrarem uma puta de cabelos roxos em um bar que nós paramos cantando karaokê. Me substituíram. Pela segunda vez em minha vida, eu fui substituída.

- Astrid, não foi assim. Eu não te abandonei.

- Eu fui muito estúpida. Eu era uma garota estúpida. Eu te deixei ir, fingi que estava tudo bem, mas por dentro, eu estava chorando, estava berrando seu nome aos quatro ventos. Sabe quantas vezes eu fui humilhada na escola, pois voltei a andar sem sua companhia e proteção?

Suas palavras o machucavam, e de alguma forma, ele se sentia culpado por apenas ter descoberto tudo aquilo anos depois.
Astrid sempre fora uma alemã linda e formosa, mas como sempre as pessoas procuram defeitos nas outras, sua heterocromia era vista como um defeito culposo; as pessoas riam ao vê-la andar sozinha. Sua vida era o clichê de fanfiction de uma garota que perdeu seus pais em um acidente: ruiva, olhos claros, e rosto sardado, mas mesmo assim, era a feiosa julgada da história.
Adam percebeu seus olhos marejados.

- Eu não sabia... Não sabia de nada daquilo... Me perdoa, por favor...

Ela engoliu o choro, e secou seu nariz, cruzando os braços.

- Eu não quero que você me peça meu perdão. Já passou.

- Eu não tinha noção de nada.

- Eu também não.

Ela disse, olhando para seus sapatos.
Adam examinou por alguns segundos como seu estilo havia mudado; seu rosto havia apenas se esticado um pouco, mas seus cabelos, suas roupas, suas unhas que antes eram roídas e agora estavam lindas e cuidadas... ela realmente se assemelhava à uma personagem de novela que superou todo o seu drama e está passando por cima de cada otário que antes riu de seu paradeiro.

- Eu... Eu senti muito a sua falta, galego.

- Também senti a sua. Agora você está tocando em minha banda. Eu não sei como isso faz sentido, sinceramente.

Music Breastfeed ( Is It Love? Colin Spencer )Onde histórias criam vida. Descubra agora