2º Capítulo

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Sempre quis contar a minha história às pessoas, mas é claro que aqui só foi possível contar a uma e essa pessoa já foi embora, injustamente...queria que todo o mundo soubesse pelo que eu passei, queria que soubessem as razões pelas quais eu me isolava, queria principalmente que os meus pais soubessem da minha vida, é verdade que nunca os deixei aproximarem-se de mim, mas foi por medo...medo de ser magoada, eu sei que eram os meus pais, e então? Há imensas pessoas da minha idade ou até mais novas que são maltratadas pelos pais, eu tinha medo de ser maltratada também em casa...mas vamos ao que interessa...

Tudo começou quando eu fiz 15 anos, eu era uma rapariga muito feliz, tinha amigos que gostavam imenso de mim, nessa altura não estava muito com os meus pais, eles andavam sempre a viajar por causa do trabalho, tinha de ficar com a minha tia, só me dava de comer e de dormir, não me ligava nenhuma, só pensava no dia em que eu ia sair de casa dela. A minha tia decidiu mudar de casa, arranjou um namorado e queria mais privacidade, não encontrou nenhuma casa do seu agrado e quando encontrou uma "perfeita" tive que mudar de escola e foi nessa altura que o meu pesadelo começou...

Primeiro dia de aulas, eu era a novata, as pessoas olhavam-me com caras estranhas do tipo "quem é esta?" eu simplesmente baixava a cabeça e continuava a andar até à sala onde ia ter aula. Tive que me apresentar, claro.

   - Olá, o meu nome é Taylor Coleman, tenho 15 anos e sou de Nova Iorque, vim para a Califórnia porque a minha tia mora cá e os meus pais estão sempre a viajar por causa do trabalho, vim para esta escola porque a minha tia teve de mudar de casa.

   - Obrigada Taylor, podes voltar a sentar-te.

Haviam três raparigas loiras na minha turma, deviam ser muito amigas, pois estavam sempre a conversar e a rir. Nos intervalos eu ia para o pátio desenhar e ouvir música, sentava-me num canto sozinha e passava o tempo, isto não durou nem uma semana, dois dias depois de eu ter entrado naquela escola as pessoas começaram a aproximar-se de mim, parecia que tinham deixado de ter "medo" e aproximaram-se simplesmente.

   - Então, Taylor? Como estás?

   - Estou bem, e quem és tu?

   - Eu sou a Lucy, não sou da tua turma mas ando no mesmo ano que tu.

   - Prazer...e já agora, como sabias o meu nome?

   - Toda a gente anda a falar de ti pela escola, estão todos muito curiosos por te conhecer.

   - Eu estou aqui o dia todo e o que me parece é que me acham estranha.

   - Não és assim muito normal, ninguém se senta num canto a desenhar e a ouvir música.

   - Dizes isso porque se calhar tens mais facilidade em arranjar amigos e provavelmente nunca tiveste de mudar de escola sozinha.

   - Talvez tenhas razão...e porque te vestes sempre de preto?

   - Porque gosto da cor.

   - Também te vestias assim na outra escola?

   - Sim, porquê? Algum problema?

   - Não, não há problema nenhum.

   - Ainda bem.

   - Que música é que estás a ouvir?

   - Coffin dos Black Veil Brides.

   - Quem são os Black não sei quê?

   - São uma das melhores bandas de rock.

   - Não gosto de rock, prefiro rap e pop.

   - Preferes Lil Wayne e Kate Perry?

   - Sim, se bem que não são esses os meus preferidos.

   - Está bem.

   - Tu preferes estar sozinha do que fazer amigos...

   - Não...

   - Parece...

   - Pois, mas nem tudo o que parece é, e além disso eu ainda me estou a habituar em estar aqui.

   - Eu percebo. Queres sair depois das aulas?

   - Desculpa, mas não gosto muito de sair, prefiro ficar em casa a desenhar.

   - Que anti-social.

   - Sim, tornei-me anti-social.

   - Porquê?

   - Porque não gosto de estar aqui e não gosto desta gente.

   - Somos iguais aos outros todos.

   - Aí é que te enganas, aqui olham-me como se fosse uma psicopata.

   - É porque não te conhecem.

   - Então antes de me olharem dessa maneira tentem conhecer-me.

   - Eu vou embora, tu precisas de te acalmar.

   - É isso é...ainda mal cheguei à escola e as pessoas julgam-me com os olhos.

   A Lucy acabou por se ir embora...eu consegui memso assustá-la...eu queria fazer amigos, mas ainda não me sentia preparada para tal. Eu só tinha um desejo, poder voltar para a minha escola, para os meus amigos, a minha sorte é ter telemóvel e poder falar com eles todos os dias. No final das aulas ia para casa a pé, com os fones nos ouvidos e com o meu caderno de desenhos na mão, sempre que tinha uma ideia parava num canto e começava a desenhar, à conta disso chegava sempre tarde a casa, bem o tarde para a minha tia é 18h concordando com o meu horário. Entrava em casa e ia para o meu quarto, ligava o computador e escrevia como tinha sido o meu dia, escrevia sempre as palavras "secante", "insuportável" e "horrível", nunca saía do meu quarto a não ser para ir à casa de banho e comer, tinha televisão e tudo o que eu precisava para sair o minímo de vezes possível. A minha tia, dia sim dia não, saía com o namorado e chegava de madrugada, o que queria dizer que ficava sozinha em casa durante a noite, podia fazer tudo o que quisesse, um adolescente normal fazia festas para os amigos, mas eu ficava acordada no computador a falar com os meus amigos e a ver fotos deles, dos momentos que tínhamos passado juntos, aqueles dias felizes.

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