11º Capitulo

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Em 2 anos tanta coisa mudou, até eu, que pensava que não podia mudar mais, mudei. Dois anos de tortura, dois anos a sentir-me sem vida, ligava cada vez mais às bocas que as pessoas mandavam, mas o que me partia mesmo o coração, o que me deixava acordada todas as noites, era o facto do Jeremy não estar comigo, era o facto dos pais dele serem tão estúpidos ao ponto de o mandarem para um hospital psiquiátrico só por ser diferente das outras pessoas, que pais tão nojentos.

Recebi uma carta dos meus pais a dizer que chegavam hoje e que vinham para ficar, o quer dizer que vou deixar a minha tia e vou voltar para Nova Iorque. Nova Iorque, a cidade que estava na lista do Jeremy, a cidade onde ele me queria levar para recordar os meus momentos de infância.

Como era sábado decidi ir de comboio a São Francisco. Não conseguia pensar em mais nada senão no Jeremy e em como o ia encontrar. Fui para a praia e sentei-me na areia a sentir a brisa fresca que me passava pela pele, que me deixava o cabelo inquieto, que me dava arrepios, olhei para o mar a ver aquelas pequenas ondas na arrebentação, senti uma lágrima a escorrer-me pelo rosto, esta era fria, tão fria como a minha pele branca, fria da dor que permanecia dentro dela. Levantei-me e fui em direção ao mar, entrei e andei até a água me dar na cintura, mergulhei e deixei-me flutuar na água, o céu coberto de núvens deixava-me sem forças, fechei os olhos e lentamente puxei-me para baixo até ficar completamente coberta de água, lembrei-me de uma frase que o Jeremy me disse que eu não a mencionei..."tu não estás sozinha, estarei sempre contigo mesmo quando não estiver"...fiquei um bocado confusa no inicio, e percebi o que ele quis dizer quando voltei acima, saí da água e deitei-me na areia a chorar quando começou a chover, para piorar o clima.

Voltei para casa da minha tia, os meus pais já tinham chegado, estavam sentados na sala a falar.

      - Taylor...

      - O que te aconteceu?

      - Eu vou tomar um duche.

      - Vai e veste roupas alegres, vamos lanchar juntos.

      - Nunca mais me digas isso.

      - Taylor...

      - Deixem-me em paz...

Fui para a casa de banho, tomei um duche e fui-me arranjar para ir lanchar com os meus pais.

      - Porque estás vestida de preto? Parece que vais a um funeral!

      - Se eu fosse a ti calava-me.

      - Taylor!

      - Deixas a tua filha com uma pessoa que não quer saber dela para nada, que só pensa no namorado, que mudou de casa só por causa dele, que me afastou dos meus amigos e depois chegas aqui, ao fim de tantos anos e finges que está tudo bem?

       - Nós estivemos a trabalhar Taylor!

       - E um telefonema, era pedir muito?

       - Nós estávamos cheios de trabalho!

       - Nem tempo para mim têm, se querem que eu mude de roupa bem podem esperar sentados, este é o meu estilo e vocês não têm nada haver com isso.

      - A nossa filha não era assim, o que te aconteceu?

      - Se vocês tivessem acompanhado o meu cescimento, que ninguém acompanhou, vocês sabiam o que me aconteceu.

      - Qual é a parte de que estávamos a trabalhar que não percebeste?

      - Qual é a parte de que há vários empregos que vocês não percebem?

      - Não nos respondas com uma pergunta Taylor!

      - Vão lá lanchar vocês, eu fico em casa. E não vou para Nova Iorque.

      - Sobre isso...vendemos a casa e comprámos uma cá.

      - Melhor!

Fui para o meu quarto, tranquei-me lá dentro, pus os fones, fechei os estores e sentei-me no chão encostada à porta a chorar e a ouvir música, as músicas que o Jeremy me tinha mostrado, as músicas dos nossos momentos inesquecíveis.

                                                                             ***

Estou preso neste hospital, lugar onde os meus pais deviam de estar e não eu. Aqui só oiço pessoas a gritar, a fazer barulhos irritantes, a falarem sozinhas. Aqui não me deixam fazer nada, não posso ouvir música porque me posso "enforcar" com os auscultadores, não posso ter nada aqui, só tenho uma televisão quase presa ao teto. Este sitio estava a dar comigo em louco, não podia conversar com ninguém porque eram todos malucos, tinha de estar constantemente calado e quieto.

Pergunto-me como está a Taylor, será que está bem? Passaram-se 2 anos, muita coisa deve ter ascontecido, será que sente a minha falta? Eu não devia ter ido para casa naquela noite, devia ter ficado com a Taylor, depois daquele beijo...o que é que ela pensa sobre isso? Deve estar tão confusa quanto eu, somos amigos ou namorados? Eu quero-a comigo, não aqui, este sítio é horrível para uma pessoa estar, quero sair daqui e levá-la para outro lado, onde ninguém nos chateie. Preciso de ajuda, preciso de sair daqui, mas é impossível, ninguém sai daqui, nunca ninguém saiu porque haveria alguém sair agora?

      - Está na hora do jantar, tens aqui a comida.

      - Obrigado.

      - O que é que tu fizeste para estares aqui?

      - Nada.

      - Então porque estás aqui?

      - O meu estilo condenou-me a isto.

      - É por causa do teu estilo que estás aqui?

      - Sim, eu nunca fiz nada de mal a ninguém. Ter pensamentos suicidas conta?

      - Tu tens?

      - Já tive.

      - Não vejo razão em estares aqui, mas como não sou eu que trato de pôr aqui as pessoas.

      - Eu quero ter uma vida normal com a pessoa que amo a meu lado.

      - Tens namorada?

      - Eu não sei se somos namorados ou não, mas eu amo-a muito e...

      - E?

      - E só quero sair daqui e viver uma vida normal com ela.

      - Como é que ela se chama?

      - Taylor.

      - Nome lindo.

      - Ela é linda, loira de olhos azuis claros, é como eu, veste-se de preto e sofre bullying.

      - Coitada.

      - Eu estava a ajudá-la a ultrapassar aquela fase mas acabaram por me pôr aqui.

      - Vida complicada rapaz. Eu tenho de voltar ao trabalho.

      - Obrigado por me ouvir.

      - Eu acredito que vais conseguir a tua namorada de volta.

Como é que eu vou tê-la de volta? Eu não a quero neste lugar horrível. Jantei e deitei-me, não tenho dormido nada desde que vim para aqui.

Preciso dela, preciso de lhe dizer o que sinto, preciso dela ao meu lado, quem precisa de ajuda agora sou eu, quero sair daqui o mais depressa possível, mas como?

Don't Trust The PeopleOnde histórias criam vida. Descubra agora