18º Capítulo

180 11 2
                                    

Passaram-se dois dias, era a consulta do Jeremy com o psiquiatra. Eu estava cada vez mais preocupada, não sabia se o plano ia dar certo, tinha medo que descobrissem tudo e fizessem ainda pior.

Estava sentada na cama à espera que um guarda decidesse aparecer e levar-me para o refeitório, estava cheia de fome, o que não era normal mas finalmente um guarda, que nunca tinha visto na vida, chamou-me e levou-me para o refeitório. Sentei-me na mesa habitual com o tabuleiro à minha frente, estava à espera de ver a Emily e, por isso, comecei a comer muito devagar até ela aparecer.

     - Bom dia Emily.

     - Bom dia Taylor.

     - Estás bem?

     - Sim e tu?

     - Também. O Jeremy vai ter hoje outra consulta com o psiquiatra.

     - Espero que esteja a correr tudo como planeado.

     - Espero bem que sim.

     - O que achas de esquecer por hoje o assunto "Jeremy" e irmos vasculhar este edifício?

     - É uma boa ideia, tenho que desanuviar.

     - Ótimo! Começamos agora?

     - Sim, vou só pôr ali o tabuleiro e já vamos.

     - Vamos começar lá por baixo.

     - Lá por baixo? Isso é um pouco assustador, é a cave.

     - Não está lá ninguém, guardam coisas na cave, como é normal.

     - Por isso mesmo! As caves são um bocado assustadoras.

     - Queres começar pelo sótão?

     - Não, prefiro a cave.

     - Então vamos.

Saímos do refeitório e fomos, com o maior cuidado possível, em direção à cave, fomos de escadas porque iriam achar estranho ver o elevador na cave.

     - Emily, está muito escuro aqui e eu não quero estar aqui quando acenderes as luzes.

     - O que é que achas que pode haver aqui?

     - Pessoas, pessoas queimadas.

     - Cadáveres?

     - Sim!

     - Fecha os olhos, eu vou acender a luz.

     - Antes de me dizeres para os abrir diz-me primeiro o que está aqui.

     - Ok, só estão aqui caixas de cartão.

     - A sério?

     - Sim, abre os olhos e confirma.

     

Eu abri os olhos e vi que a Emily dizia a verdade.

     - Porque estão aqui tantas caixas de cartão?

     - Não faço a miníma ideia mas também não precisamos de saber.

     - Esta cave é muito grande?

     - Já estiveram aqui pessoas, deve ter outras divisões.

     - E devem ser nessas divisões que estão os cadáveres!

     - Uma rapariga como tu tem medo de cadáveres?

     - Eu não tenho medo.

     - As pessoas já estão mortas, não te podem fazer nada!

     - E se houver aqui alguém ainda vivo?

     - Isso é quase impossível.

     - Mas é possível.

     - Porque iriam deixar aqui uma pessoa viva?

     - Sei lá! Castigo!

     - Que filmes é que andaste a ver antes de vires para aqui?

     - Não vi absolutamente nada, estive sempre às escuras.

     - A tua imaginação é enorme.

     - Vamos ver o resto ou não?     

     - Claro, claro.

Continuámos a andar, haviam muitos corredores e quartos, tal como a Emily tinha dito. Às vezes parecia que a Emily já tinha cá estado muito antes, ela sabia coisas incríveis acerca deste hospital psiquiatrico, coisas que eram muito difíceis de explicar.

     - Vamos entrar nesta divisão.

     - Até tenho medo do que pode estar aí.

     - Medricas.

A Emily acendeu a luz e só haviam camas de hospital, estas tinham um gênero de cintos para amarrar as pessoas nas mãos e nos pés.

     - Que bárbaro.

     - Há coisas piores neste hospital e tu sabes.

     - Sim.

     - Vamos embora daqui, as outras divisões devem ter as mesmas coisas.

     - Haviam assim tantos malucos?

     - Não te esqueças que também vinham pessoas normais para aqui, como tu.

     - Pois.

     

Saímos daquela horrenda divisão e fomos para dois andares acima da cave, estes também só tinham quartos com macas, algumas com pessoas. Por fim, chegámos ao sótão, este era frio e muito escuro mas parecia-me pequeno. A Emily acendeu as luzes e nada, não havia nada no sótão, estava completamente vazio, as paredes a cair e o chão rachado.

     - Pensei que houvesse aqui alguma coisa mas não.

     - É o único sítio que está vazio, porquê?

     - Não sei.

     - Bem, mas também não interessa.

     - E com isto conseguimos passar o dia.

     - É verdade.

     - É mehor irmos lá para baixo, já devem estar à nossa procura.

     

Fomos diretas ao nosso andar e fomos para o pátio, ficámos pouco tempo porque rapidamente chegou o fim da tarde e tivemos de ir para os quartos.

Durante o dia ocupei a minha cabeça com medo do que podia estar em cada andar mas agora que a noite chegou os pensamentos habituais voltaram e as perguntas também, já estava cansada das mesmas perguntas e de nunca obter respostas. O que mais me preocupava era o Jeremy, ele já teve duas consultas com o psiquiatra depois de eu ter ido falar com ele, não sei como estão as coisas e isso não me deixa dormir.

Don't Trust The PeopleOnde histórias criam vida. Descubra agora