15º Capitulo

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Sonhava com a promessa que o Jeremy me tivera feito, chorava ansiosa para que esse dia chegasse. Dentro daquela cela onde havia um colchão duro, preferia dormir no chão do que em cima daquela tábua branca. Todos os dias falava com o Jeremy, contáva-lhe as coisas que tinham acontecido na ausência dele, ficara chocado com cada palavra.

As três semanas passaram depressa, logo pela manhã os guardas foram-me buscar e levaram-me para o meu antigo quarto onde fiquei uma hora à espera que fossem chamar para ir tomar o pequeno-almoço mas, só eu é que saí daquele lugar, o Jeremy ficou. Não fazia a menor ideia do porquê de ele ter ficado lá mas estava pronta para o descobrir.

Chegou a hora de tomar o pequeno-amoço, os guardas abriram a porta do meu quarto e acompanharam-me até ao refeitório. Sentei-me na mesa mais longe possível das pessoas, como era habitual, e comecei a comer o meu croissant com fiambre e o meu sumo de laranja. Os guardas de cinco em cinco minutos olhavam para mim, era muito incómodo, então, comecei a olhar-lhes diretamente, não desviava o olhar nem pestanejava, sempre com um ar sério, até eles ficarem incomodados mas a Emily chegou e eu não pude ver qual a reação deles.

    - Taylor! Enontráste o Jeremy?

    - Sim.

    - E correu tudo bem?

    - Sim.

    - Passa-se alguma coisa?

    - Porque é que o Jeremy não saiu? Ele está lá há quanto tempo?

    - Ok, acho que está na atura de saberes o que se passa mesmo aqui dentro em relação ao Jeremy.

    - Conta lá.

    - Tudo começou quando o Jeremy entrou aqui, como já te tinha falado, ele era muito calado e estava sempre sozinho, não queria a companhia de ninguém, vi-o a chorar pela primeira vez, foi nessa altura que tentei falar com ele, nunca me respondeu às perguntas que lhe fazia mas eu sabia que ele ouvia tudo o que lhe dizia.

     - O que é que lhe dizias?

   - Dizia-lhe que tudo ia correr bem, que tudo ia ficar bem e que ele não se podia ir abaixo qualquer que fosse o seu problema. Tinham-se passado três semanas desde que ele tinha entrado aqui. No dia que ele agrediu uma pessoa foi para a cela, tal como eu já te tinha dito, mas o Jeremy não fez isso sem razão, ele em menos de uma semana criou um enimigo muito forte aqui, um dos guardas.

     - Um dos guardas?

     - Sim. Esse guarda foi expulso daqui e o Jeremy foi levado para a cela, uma cela especial, ele tem consultas com um psiquiatra, estão a tentar pôr coisas na cabeça dele para se portar bem e não ter pensamentos suicidas.

     - O Jeremy não tem pensamentos suicidas.

     - Foi uma das razões que levou o Jeremy a vir para este lugar.

     - Eu tenho pensamentos suicidas e não tenho essas consultas.

     - O Jeremy não veio para aqui só por essa razão, tem outras razões muito fortes e, por isso, tem consultas com um psiquiatra.

     - Pois...Saiem pessoas daqui?

     - Muito poucas, quatro ou cinco por ano.

     - E quanto tempo elas tiveram de esperar para sair daqui?

     - Algumas saiem porque vêm aqui familiares buscá-las outras ficam pelo menos 4 anos e se estiverem bem saiem e outras ficam a vida toda aqui.

     - Quer dizer que eu e o Jeremy vamos ter de esperar 4 anos?

     - Se ninguém vos vier buscar, provavelmente.

     - E se nós formos muito bem comportados e virem que não andamos a fazer nada?

     - Nesse caso, acho que podem sair mais cedo, acho eu.

     - Quando é que o Jeremy sai dali?

     - Quando acharem que ele já não é uma ameaça para estas pessoas.

     - Tem de fazer tudo o que eles lhe dizem.

     - Exato.

     - Tenho de voltar para aquela cela.

     - Sabes que te podem mudar de cela, para uma pior.

     - Eu só quero avisar o Jeremy.

    - Vai lá discretamente.

    - Mas é muito arriscado.

    - Estás num hospital psiquiátrico, acho que os guardas vão pensar que estás perdida.

    - Porque é que não me dizes a razão pela qual vieste aqui parar?

    - Porque não me lembro do que fiz.

    - Acho que fica na memória de qualquer pessoa as suas ações.

    - Não se não tiver feito nada.

    - Então tu não fizeste nada, estás aqui como eu e o Jeremy.

    - Eu não disse isso.

    - Mas estamos a falar de ti.

    - Eu devo ter feito alguma coisa, não me lembro do quê.

    - Está bem...     

A Emily acabou por se levantar e saiu do refeitório. Assim que vi a Emily desaparecer o guarda começou a olhar para mim, outra vez, fitei-o com o olhar mais sério que conseguia, o guarda, já incomodado, veio ter comigo e sentou-se à minha frente.

     - Tens algum problema?

     - Não.

     - Então porque me olhas dessa maneira?

     - Porque não gosto de si.

     - Não me conheces.

     - Ainda bem.

     - Irias gostar.

     - Penso que não.

     - Eu sei que não fizeste nada para estar aqui.

     - Ai sim? E como é que sabe que eu não fiz nada? Andou a espiar-me?

     - Sim.

     - Eu estava a ser irónica.

     - Mas é verdade.

     - E porque me andou a espiar?

     - Porque acho que és uma rapariga interessante.

     - Desde quando é que me anda a espiar?

     - Há muito tempo, acredita.

     - O que quer de mim?

     - Muita coisa.

     - Eu de si quero distância, se faz favor vá-se embora.

     - Quando esfaqueáste aquela rapariga...não foi muito simpático da tua parte.

     - E acha que foi simpático da parte dela ter-me batido na escola?

     - Claro que não.

     - Se não se importa, eu quero ficar sozinha.

     - Está bem, havemos de nos encontrar mais vezes por aqui.

     - Acho que é normal, o senhor trabalha aqui e eu sou uma paciente.

     

O guarda curvou um pouco a boca e foi para o sitio onde estava antes de vir ter comigo. Estava assustada, nunca vira aquele homem na vida, nunca me senti observada ou a ser seguida.

Acabei por me levantar e ir para o meu quarto, sempre acompanhada por dois guardas, deitei-me na cama e fiquei lá até o anoitecer. Levantava-me muitas vezes durante a noite, chorava por tudo o que era canto e muitas vezes subia-me um ódio terrível à cabeça, pensava imensas vezes nas coisas que me tinham acontecido e ter conhecido o Jeremy foi a única coisa boa que me aconteceu.

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