O ronco grave de um motor me acordou. Minha cabeça latejava e eu sentia a um gosto estranho na boca. Parecia que algo estava muito errado; minha mente ainda estava confusa. Eu queria despertar, mas sabia que, do outro lado, um novo tipo de horror me aguardava, então me permiti afundar um pouco mais de volta à escuridão e me deixei ficar ali, covardemente. Eu precisava de alguma coisa em que me agarrar, uma muleta em que pudesse me amparar a fim de reunir força suficiente para encarar o que eu tinha pela frente.
Estava deitada numa cama. Senti os lençóis macios e estendi a mão, hesitante. Uma cabeça peluda se esfregou em meus dedos. Ren. Ele estava ali. Ele era a motivação de que eu precisava para me erguer da escuridão e entrar na luz.
Abri os olhos.
— Ren? Onde estou? Todo o meu corpo doía.
Um rosto bonito me olhou de cima.
— Kelsey? Como está se sentindo?
— Nilima? Ah, estamos no avião.
Ela pressionou um pano molhado e frio em minha testa e eu murmurei:
— Escapamos. Estou tão feliz.
Acariciei a cabeça do tigre. Nilima olhou brevemente para o tigre ao meu lado e então assentiu.
— Vou buscar um pouco de água para você, Kelsey.
Ela saiu e tornei a fechar os olhos, pressionando a mão sobre minha testa latejante.
— Tive tanto medo de você não conseguir — Acho que agora isso não tem importância. A sorte nos ajudou. Nunca mais vamos nos separar. Prefiro ser capturada com você do que sermos separados.
Deslizei os dedos por seu pelo. Nilima retornou trazendo água. Ela me ajudou a sentar e eu tomei um grande gole de água. Esfreguei a toalha moIhada sobre os olhos e o rosto.
— Tome... também lhe trouxe aspirina — disse ela.
Engoli os comprimidos, agradecida, e tentei abrir os olhos mais uma vez. Fitei o rosto preocupado de Nilima e sorri.
— Obrigada. Já me sinto melhor. Pelo menos, todos conseguimos escapar. Isso é o que importa. Certo?
Olhei para o tigre. Não! Não! Comecei a arquejar, em busca de ar. Meus pulmões se fecharam.
— Kishan? — supliquei com a voz áspera. — Onde ele está? Diga-me que não o deixamos para trás! Ren? — gritei. — Ren? Você está aqui? Ren? Ren?
O tigre negro apenas me observava com olhos dourados e tristes. Agarrei a mão de Nilima.
— Nilima, me fale! Ele está aqui?
Ela sacudiu a cabeça, as lágrimas enchendo seus olhos. Minha visão tornou-se turva e percebi que eu também estava chorando.
Apertei sua mão, desesperada.
— Não! Precisamos voltar! Peça que deem meia-volta. Não podemos simplesmente deixá-lo lá! Não podemos!
Nilima não reagiu. Virei-me para o tigre.
— Kishan! Isso não está certo! Ele não deixaria você. Eles vão torturá-lo. Vão matá-lo! Precisamos fazer alguma coisa! Não podemos deixar que isso aconteça!
Kishan se transformou em homem e se sentou na beira da cama. Ele fez um gesto com a cabeça para Nilima e ela nos deixou a sós.
Ele pegou minha mão e falou baixinho: