Lar provisório

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Constantinopla, não era exatamente o que Dafne havia imaginado durante a viagem, era mais que qualquer possível imaginação precipitada poderia fazer, havia muito mais diversidade do que ela ouvia falar, e se encantava a cada passo que dava, naquele reino odiado por sua família há gerações. Era tudo muito diferente do que já vira até então, as casas eram misturadas, e os seres muito receptivos com a sua chegada. As ruas eram estreitas, como um  pequeno corredor que só conseguia passar cavalos ou pessoas andando à pé. Chegaram numa rua movimentada onde  encontrava-se a feira, era o dia de todos os habitantes se reunirem  para comprar mantimentos.
Eles enfeitavam a rua, pintavam os muros, e além de alimentos os artistas ofereciam arte de graça para aqueles que passavam. Observavam as pinturas, desenhos feitos a mão que mais pareciam obras super avançadas.
As fadas dançavam balé clássico, e alguns lobos cantavam maravilhosamente bem. Os vampiros tocavam piano,  todos na mesma sintonia como se estivessem ensaiado, à muito tempo para apresentarem. 
Dafne havia chegado num dia de festa e estava gostando de tudo que via.

_- É tudo tão incrível.--Dafne comentou com Zackiel que apenas sorriu  de forma casta, observando o encantamento da princesa.

_- Ao contrário do que muitos pensam, não somos mortos vivos apagados! Temos nossos momentos de alegria sim.--
Ele estava com um brilho diferenciado nos olhos, era como se pela primeira vez... sentisse esperança.

_- Vocês são assim o tempo todo? -- A princesa estava curiosa e interessada naquele povo, como criaturas tão alegres poderiam oferecer perigo pra sua gente... Não tinha muita lógica essa linha de pensamento. Eles eram bons, isso era nítido em seus olhos.

_- Não, só temos liberdade uma vez por mês. Que no caso é hoje.
--O vampiro fechou os olhos com raiva e ao abri-los, eles estavam vermelhos novamente. Dafne se espantou, e sentiu falta do azul que a tranquilizava.

_- Porque vocês querem? --- Sentiu suas palavras pesarem como rochas no ouvido do vampiro, que evitando um temperamento mais explosivo disse a Dafne:

_- Fique aí, e não saia até eu voltar.
A princesa não disse nada, apenas sentou-se em uma das pedras mais próximas de onde os artistas pintavam. Ficou olhando pro nada sem compreender a reação inesperada do seu amigo.  Mas ele não era um humano, e sim um vampiro, uma criatura que foi feita para matar, para consumir a vida de pessoas como ela. Mas ao invés de fazer isso, ele estava ajudando-a, isso mostra que ninguém é mal por consequência, e sim opção. A natureza dos vampiros é matar pessoas, eles vivem do sangue que os humanos carregam na veia, mas se eles conseguiram mudar sua natureza, se adaptar a um novo hábito só para poderem viver pacificamente com as pessoas, isso significa que sim, que todo mundo pode mudar. Só é ter muita força de vontade e querer. Naquele instante Dafne lembrou do seu pai, será que ele  poderia mudar por amor a ela? Vampiros foram capazes de fugir de sua natureza má para não se tornarem assassinos a vida toda, e será que seu pai não era capaz de ser apenas pai. Sem elevar a coroa acima de todas coisas, até acima da sua família.
Dafne estava sonhando demais. Seu pai jamais mudaria, e nem a perdoaria por ter engravidado e fugido, e não sabia quando veria ele de novo.

Mentalmente fazia orações para Tyo voltar vivo, mas também não sabia se o veria novamente. Seu futuro era incerto, e isso a incomodava. Não sabia como seria sua vida daqui pra frente, era tudo muito estranho ainda, naquela terra ela era uma estrangeira, uma inimiga na verdade, não esperava ser  bem acolhida como foi por Zackiel, quando descobrissem que era filha do rei, a expulsariam à pontapés!

Talvez o vampiro conseguisse convencer os outros a aceita-la, não conhecia as leis de Constantinopla, e torcia para não serem iguais às leis do seu reino. Em NotDan as leis eram muito severas, o rei dizia ser bom para o povo, para existir paz e uma organização no reino.  Mas Dafne sempre achou um tanto exageradas, e se um dia fosse rainha mudaria algumas coisas, impostas a muitos anos por seus antepassados. Tudo bem que é algo de família... mas as vezes é necessário romper essas tradições que se perpétuam. Pois o tempo avança, e assim como o tempo as ideias também precisam evoluir, coisa que falta em NotDan.

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