Louco Amor

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Quando eu era criança, ensinaram-me a canção Jesus me ama: "Jesus me ama/Eu sei disso sim...". Mesmo que você não tenha sido criado em uma igreja, é provável que saiba como essa música termina: "... porque a Bíblia diz assim".
Quem passou pelo menos algum tempo em uma igreja certamente ouviu falar desse conceito, expressado de um jeito ou de outro: Deus nos ama. Durante anos, eu acreditei nisso pelo motivo citado na canção: "... porque a Bíblia diz assim". O único problema era o seguinte: tratava-se de um conceito que aprendi, e não de alguma coisa que eu soubesse implicitamente ser verdade. Por muitos anos, procurei me convencer mentalmente do amor do Senhor. Tinha uma resposta apropriada para a pergunta "como é Deus?"; no fundo do coração, porém, não conseguia entender que amor era aquele.
Não acho que eu era a única pessoa que não entendia direito o amor do Senhor. A maioria de nós, em maior ou menor grau, encontra certa dificuldade para entender, acreditar ou aceitar o amor absoluto e ilimitado de Deus por nós. As razões por que não recebemos, não vemos o amor divino ou não confiamos nele variam de uma pessoa para outra, mas todos nós perdemos com isso.
Para mim, tinha um bocado a ver com meu relacionamento com meu pai.

Meu pai e meu PAI

A idéia de ser desejado por um pai era estranha para mim. Durante o período em que cresci, eu me sentia como se o meu pai não me quisesse. Minha mãe morreu durante o meu parto, por isso é possível que ele me visse como a causa da morte dela. Não tenho certeza disso.
Nunca tive uma conversa muito significativa com meu pai. Na verdade, o único sinal de afeição do qual consigo me lembrar ocorreu quando eu tinha nove anos: ele me envolveu nos braços por aproximadamente noventa segundos enquanto estávamos a caminho do funeral de minha madrasta. Além disso, o único toque físico que eu sentia eram as surras que recebia quando desobedecia a meu pai ou o aborrecia.
Meu único objetivo em nosso relacionamento era não irritá-lo. Eu chegava a ficar caminhando em volta da casa só para não aborrecê-lo.
Ele morreu quando eu tinha 12 anos. Chorei, mas, ao mesmo tempo, senti certo alívio.
O impacto desse relacionamento afetou minha vida durante anos, e acho que muitas daquelas emoções foram transferidas para o meu relacionamento com Deus. Por exemplo, eu fazia o possível para não irritar Deus com meu pecado, ou aborrecê-lo com meus probleminhas. Não tinha nenhuma aspiração a ser desejado por Deus; só o fato de ele não me odiar ou magoar era suficiente para me deixar satisfeito.
Não me entenda mal. Nem tudo o que diz respeito a meu pai era ruim. Eu realmente agradeço a Deus pela vida dele, pois me ensinou princípios como disciplina, respeito, temor e obediência.
Também acredito que ele me amava. Mas não posso minimizar o efeito negativo que meu relacionamento com ele exerceu por vários anos sobre minha visão de Deus.
Felizmente, meu relacionamento com Deus passou por uma grande mudança quando eu mesmo me tornei pai. Depois do nascimento de minha filha mais velha, comecei a ver como estava errado meu raciocínio em relação a Deus. Pela primeira vez, senti um gostinho do que acredito ser o sentimento de Deus por nós. Pensava em minha filha com freqüência. Orava por ela enquanto dormia à noite. Mostrava o retrato dela a qualquer pessoa que quisesse ver. Queria dar o mundo inteiro para ela.
Às vezes, quando volto do trabalho para casa, minha garotinha me recebe correndo pela calçada e pulando em meus braços antes mesmo que eu saia do carro. Como você pode imaginar, voltar para casa se tornou um de meus momentos favoritos do dia.
Meu amor e o desejo pelo amor de meus filhos é tão forte que fez os meus olhos se abrirem para enxergar quanto Deus nos deseja e ama. A maneira de minha filha expressar seu amor por mim e o desejo que ela demonstra de estar comigo é o que há de mais extraordinário. Nada se compara à sensação de ser desejado de modo tão verdadeiro e intenso por nossos filhos.
Por causa dessa experiência, consegui entender que meu amor por meus filhos não é nada além de um débil reflexo do grande amor de Deus por mim e por todas as pessoas que ele criou. Sou apenas um pai terreno e pecador, e amo tanto meus filhos que chega a doer. Como eu seria capaz de não confiar em um Pai celestial e perfeito, que me ama infinitamente mais do que jamais conseguirei amar os meus filhos? "Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!" (Mt 7:11).
Deus é mais digno de confiança que qualquer outra pessoa. ainda que eu tenha questionado seu amor e duvidado de seu cuidado e de sua provisão para minha vida durante muito tempo.

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