Diante do Trono

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Até agora, falamos sobre coisas que podemos ver com os próprios olhos — coisas que sabemos a respeito da criação e alguns dos atributos de Deus de acordo com aquilo que a Bíblia nos revela. Mas muitas facetas de Deus ultrapassam nossa compreensão. Ele não pode ser contido por este mundo, explicado por meio de nosso vocabulário nem assimilado por nossa compreensão.

Ainda assim, em Apocalipse 4 e Isaías 6, temos dois vislumbres distintos da sala do trono celestial. Permita-me desenhar uma imagem descritiva dessas passagens.

Em Apocalipse, quando João relata sua experiência de contemplar o próprio Deus, é como se ele tivesse dificuldade para encontrar palavras terrenas que descrevam de maneira adequada a visão com a qual foi privilegiado. O apóstolo descreve o Ser sentado no trono comparando seu aspecto ao de duas pedras, "jaspe e sardônio", e a área em torno do trono como um arco-íris "parecendo uma esmeralda". Deus, aquele que estava no trono, tem um aspecto mais parecido com o de pedras radiantes do que com carne e sangue.

Esse tipo de imagem poética e artística pode ser de difícil compreensão para aqueles que não pensam da mesma maneira. Por isso, tente imaginar o mais extraordinário pôr-do-sol que já tenha visto. Consegue se lembrar das cores radiantes espalhadas pelo céu e de como você parou para admirar aquele cenário? E de como as palavras "puxa" e "lindo" pareciam insuficientes para descrever a cena? Aí está um pouquinho do que João está falando, em Apocalipse 4, ao tentar articular sua visão da sala do trono celestial.

O apóstolo descreve "relâmpagos" e "trovões" vindos do trono de Deus, um trono que não deve parecer com nenhum outro já visto. Ele escreve que, diante do trono, estão colocadas sete lâmpadas de fogo e algo como um mar de vidro, cuja semelhança era a do cristal. Usando palavras comuns, ele faz o melhor que pode para descrever um lugar celestial e um Deus santo.

O mais intrigante para mim é como João descreve aqueles que estão em volta do trono. Primeiro, há 24 anciãos vestidos de branco e usando coroas de ouro. Em seguida, o apóstolo relata a presença de quatro seres alados com olhos cobrindo todo o corpo e as seis asas que cada um possui. Um tem o rosto de um leão, o outro de um boi, o terceiro de um homem e o quarto de uma águia.

Tento imaginar como seria se eu visse uma dessas criaturas no meio da floresta ou em uma praia. E bem provável que eu desmaiasse! Seria aterradora a visão de um ser com o rosto de um leão e coberto de olhos por todo o corpo.

Como se a visão de João já não fosse suficientemente estranha e extravagante, ele nos diz, em seguida, o que os seres estavam dizendo. Os 24 anciãos lançam suas coroas de ouro diante daquele que estava sentado sobre o trono, se prostram em sua presença e dizem: "Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas". Ao mesmo tempo, as quatro criaturas não param (noite e dia) de dizer: "Santo, santo, santo é o Senhor, o Deus todo-poderoso, que era, que é e que há de vir". Tente se imaginar dentro daquela sala, cercado pelos anciãos declarando que Deus é digno de glória, honra e poder, e as criaturas afirmando que Deus é santo.

O profeta Isaías também teve uma visão de Deus na sala do trono, mas dessa vez a imagem é mais objetiva: "... eu vi o Senhor assentado num trono...".
Uau! Isaías viu aquilo e sobreviveu? Os israelitas se escondiam toda vez que Deus passava pelo campo porque temiam muito olhar para ele, mesmo que pelas costas, conforme se afastava. Tinham medo de que a visão de Deus os levasse à morte.

Isaías, porém, olhou e viu Deus. Ele escreve que "a aba de sua veste enchia o templo", e que "acima dele estavam serafins". Cada serafim tinha seis asas, como as criaturas que João descreve no livro de Apocalipse. Isaías diz que eles proclamavam uns aos outros: "Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória". Em seguida, os fundamentos foram abalados e uma fumaça tomou conta da casa, o que se assemelha à descrição que João faz a respeito de raios e trovões.

O relato de Isaías é menos detalhado que o de João, mas o profeta fala mais sobre sua reação ao se encontrar na sala do trono de Deus. Suas palavras reverberam no rastro da descrição da sala cheia de fumaça e dos fundamentos abalados: "Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!" Então, um dos serafins leva a Isaías uma brasa viva que estava queimando no altar. A criatura toca a boca do profeta com o carvão ardente e diz que a culpa de Isaías foi "removida".

Ambas as descrições servem ao mesmo propósito. A de João nos ajuda a imaginar como é a sala do trono de Deus, enquanto a de Isaías nos faz lembrar como deve ser nossa única reação diante de um Deus como esse.
Que o clamor de Isaías possa ser o nosso também. Ai de nós... somos um povo de lábios impuros!

Talvez você precise respirar fundo depois de refletir a respeito do Deus que criou as galáxias e as lagartas, aquele que está entronizado e que é eternamente louvado por seres tão fascinantes que se fossem fotografados, seriam assunto dos principais programas jornalísticos durante semanas. Se você não ficou impressionado com o que acabou de ler, abra sua Bíblia em Isaías 6 e Apocalipse 4; leia os relatos em voz alta e bem devagar, fazendo o melhor que puder para imaginar o que os autores estão tentando descrever.

A maneira mais apropriada de terminar este capítulo é a mesma que usamos no começo: permanecendo em silêncio reverente diante de um Deus poderoso e temível, cuja tremenda glória se torna cada vez mais evidente conforme a comparamos com nossa insignificância.

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