Servindo Resto A Um Deus Santo

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De todos os capítulos deste livro, este foi o que tive mais dificuldade de escrever. Não quero que as minhas palavras sejam duras demais para serem assimiladas nem dêem a impressão de que desejo causar controvérsia. Mas eu tinha de escrever este capítulo porque acredito na importância e na verdade daquilo que estou prestes a dizer.
No capítulo anterior, discutimos várias reações inapropriadas ao amor de Deus. Agora vamos dar uma olhada em exemplos bíblicos de reações ruins à dádiva de amor do Senhor. Antes de você subestimar ou ignorar o que vou dizer, leia essas passagens bíbli- cas de modo objetivo, sem opiniões preconcebidas e arraigadas.
A análise que fiz de cristãos mornos no capítulo 4 foi, sem dúvida alguma, muito profunda e exaustiva. No entanto, serviu como uma convocação para que você examine seu coração à luz das questões que mencionei. De acordo com meu ponto de vista, um cristão morno é uma contradição; na verdade, esse conceito não existe. Sendo bem objetivo, o que quero dizer é: as pessoas que freqüentam a igreja, mas são mornas, não podem ser consideradas cristãs. Nós não as veremos quando chegarmos ao céu.
Em Apocalipse 3:15-18, Jesus diz:
Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca. Você diz: "Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada". Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e que está nu. Dou-lhe este conselho: Compre de mim ouro refinado no fogo, e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar.
Essa passagem é a origem de nossa compreensão moderna do conceito de indiferença. Jesus está dizendo à igreja que, por ela ser morna, ele a vomitará de sua boca.
Não existe nenhuma forma de interpretar de maneira mais suave a palavra "vomitar" no original grego. Essa é a única vez que é usada no Novo Testamento, e tem a conotação de esforço para vomitar, náusea, ânsia de vômito. Muita gente lê essa passagem bíblica e presume que Jesus está se dirigindo a pessoas salvas. Por quê?
Quando você lê essa passagem, será que conclui naturalmente que ser "vomitado" da boca de Jesus significa fazer parte do reino de Deus? Ao ler as palavras "miserável, digno de compaixão, pobre, cego, e que está nu", você acha que Cristo está descrevendo pessoas santas? Quando ele as aconselha a comprar "roupas brancas" e vesti-las para "cobrir a sua vergonhosa nudez", isso soa como um conselho para quem já está salvo?
Sempre achei que as pessoas salvas fossem purificadas e vestidas de branco pelo sangue de Cristo.
Em um rascunho prévio deste capítulo, citei vários comentaristas que concordaram com meu ponto de vista. Mas todos nós sabemos que é possível encontrar comentários e citações que sustentem qualquer posição assumida. Você pode até elaborar estudos que lhe ajudem em seu esforço. Não sou contra o trabalho acadêmico, mas acredito que, em determinados momentos, chegamos a conclusões mais precisas por meio da simples leitura da Palavra de Deus.
Assim, passei os últimos dias lendo os evangelhos. Em vez de analisar um versículo e dissecá-lo, optei por ler atentamente um evangelho de cada vez. Além disso, procurei fazer essa leitura sob a perspectiva de uma criança de 12 anos que não sabia nada sobre Jesus. Minha intenção era redescobrir as conclusões razoáveis a que uma pessoa chega quando lê os evangelhos de modo objetivo pela primeira vez. Em outras palavras, li a Bíblia como se nunca a tivesse lido antes.
Sabe qual foi minha conclusão? A de que o chamado de Deus a um compromisso com ele é bem claro: ele quer tudo ou nada. A idéia de uma pessoa se considerar "cristã" sem ser uma seguidora dedicada de Cristo é absurda.
Durante anos, lutei para entender a parábola dos solos. Eu queria saber se a pessoa que representa o solo rochoso é salva, embora não forme raízes. Aí eu ficava pensando sobre
o solo cheio de espinhos: será que essa pessoa é salva, considerando que ela forma raízes?
Tenho dúvidas sobre se as pessoas sequer pensavam nessas coisas no tempo de Jesus! Será que esse conceito de um cristão que não dá frutos é algo que inventamos para tornar o cristianismo mais "fácil"? Quer dizer então que podemos seguir nosso curso à vontade e, mesmo assim, continuar nos considerando seguidores de Cristo? Sendo assim, é possível, por assim dizer, se alistar no Corpo de Fuzileiros Navais sem ter de fazer todos aqueles exercícios, certo?
A intenção de Jesus nessa parábola era comparar o único solo bom com os que não constituíam alternativas legítimas. Para ele, havia apenas uma opção para o verdadeiro cristão.
Vamos encarar os fatos: só estamos dispostos a realizar mudanças em nossa vida se acharmos que isso afeta a nossa salvação. É por essa razão que tanta gente me faz perguntas como: "Posso me divorciar de minha esposa e, ainda assim, entrar no céu?"; "Preciso ser batizado para ser salvo?"; "Será que posso me considerar cristão, mesmo tendo relações sexuais com minha namorada?"; "Se eu cometer suicídio, ainda posso ir para o céu?"; "Se eu sentir vergonha de falar de Cristo, será que ele vai mesmo negar que me conhece?".
Para mim, essas perguntas constituem uma tragédia, pois revelam muito sobre a situação de nosso coração. Elas demonstram que nossa preocupação é muito maior com a garantia do céu do que com o amor pelo Rei. Jesus disse: "Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos" (Jo 14:15). A partir daí, a pergunta logo se torna ainda mais absurda: "Posso ir para o céu sem crer e amar Jesus de verdade?".
Não vejo em nenhum lugar das Escrituras como a resposta a essa pergunta possa ser "sim".
Tiago 2:19 diz: "Você crê que existe um só Deus? Muito bem! Até mesmo os demônios crêem — e tremem!". Deus não deseja apenas que tenhamos uma boa teologia; ele quer também que o conheçamos e o amemos. Em I João 2:3-4, lemos: "Sabemos que o conhecemos, se obedecemos aos seus mandamentos. Aquele que diz: 'Eu o conheço', mas não obedece aos seus mandamentos, é mentiroso, e a verdade não está nele".
Você pode dizer que sou doido, mas acho que esses versículos significam o seguinte: a pessoa que afirma conhecer Deus, mas não obedece aos seus mandamentos é mentirosa, e a verdade não está nela.
Em Mateus 16:24-25, Jesus afirma: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará". E em Lucas 14:33, ele diz: "Da mesma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo".
Algumas pessoas afirmam que podemos ser cristãos sem termos necessariamente de ser discípulos. Fico pensando, então: por que a última coisa que Jesus nos disse para fazer foi ir ao mundo, fazer discípulos de todas as nações e ensiná-los a obedecer a todos os seus mandamentos? Você vai perceber que ele não acrescentou: "Mas, veja bem, se isso for pedir muito, diga a eles que basta se tornarem cristãos — sabe como é, aquelas pessoas que vão para o céu sem assumir nenhum compromisso com nada".
Ore. Em seguida, leia os evangelhos. Feche este livro e pegue a sua Bíblia. Minha oração por você é que consiga entender as Escrituras não como eu as vejo, mas como Deus deseja que elas sejam compreendidas.
Não quero que os cristãos genuínos duvidem de sua salvação quando lerem este livro. Em meio a nossas tentativas imperfeitas de amar Jesus, sua graça nos cobre.
Cada um de nós tem elementos e práticas típicos dos mornos na vida; e é aí que reside a graça sem sentido e extraordinária de tudo isso. As Escrituras demonstram claramente que há espaço para falhas e pecados em nossa busca por Deus. Suas misericórdias se renovam a cada manhã (Lm 3). Sua graça /suficiente (2Co 12:9). Não estou dizendo que, quando você faz alguma besteira, isso significa que nunca tenha sido um cristão genuíno, antes de tudo. Se isso fosse verdade, ninguém poderia seguir Cristo.
A distinção é a perfeição (a qual ninguém atingirá na terra) e uma postura de obediência e submissão, segundo a qual a pessoa esta sempre se movimentando na direção de Cristo. Chamar alguém de cristão simplesmente porque essa pessoa faz algumas coisas que os cristãos costumam fazer é dar um falso consolo aos não-salvos. No entanto, determinar que todas as pessoas que pecam não são salvas é negar a realidade e a verdade da graça de Deus.
Baseando-nos em outros textos bíblicos (Cl 2:1; 4:13,15-16), a igreja em Laodicéia parece ter sido uma comunidade de fé saudável e legítima. Alguma coisa, porém, aconteceu. Na época que Apocalipse foi escrito, cerca de 25 anos depois da carta aos Colossenses, o coração do povo de Laodicéia aparentemente não pertencia mais a Deus — apesar do fato de ainda se tratar de uma igreja bem ativa. Ela estava prosperando e não parecia sofrer nenhum tipo de perseguição.
Estavam confortáveis e orgulhosos. Parece bem familiar, não acha?

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