Neste momento, é provável que você esteja se perguntando: "O que tudo isso significa para mim?".
Depois de o apóstolo Pedro pregar no dia de Pentecoste, os que estavam presentes "ficaram aflitos em seu coração [...] 'Irmãos que faremos?'" (At 2:37). A igreja primitiva respondeu com ação imediata: arrependimento, batismo, venda de bens, pregação do evangelho.
Nós respondemos com palavras como "amém", "sermão convincente", "grande livro"... e aí ficamos paralisados, corno se tentássemos decifrar o que Deus deseja de nossa vida. Concordo com Annie Dillard, que disse certa vez: "A maneira de vivermos nossos dias [...] é a mesma maneira de vivermos nossa vida". Cada um de nós precisa descobrir, por si, como viver o dia de hoje em submissão fiel a Deus, à medida que pomos "em ação a [nossa! salvação [...] com temor e tremor" (Fp 2:12).
Você seria capaz de pôr sua casa à venda hoje e mudar para uma menor? Talvez? Seria capaz de abandonar seu emprego? É possível. Ou — quem sabe? — Deus queira que você trabalhe com mais afinco em seu emprego e, assim, se torne uma testemunha do reino ali. Pode ser. Talvez ele queira que você continue onde está e abra os olhos para as necessidades das pessoas à sua volta. Sinceramente, para mim já é muito difícil discernir como viver a minha vida!
Enquanto pensa no assunto, toma suas decisões e identifica como Deus quer que você viva, sugiro que se pergunte o seguinte: "É essa a maneira mais amorosa de viver? Consigo amar meu próximo e meu Deus vivendo onde vivo, fazendo o que faço e falando como falo?". Incentivo você a pensar nisso e viver, de fato, como se cada pessoa com quem tem contato fosse Cristo.
Fazer perguntas desse tipo e refletir a respeito delas nos leva à direção certa, mas temos de ir além, levantando as questões certas. É muito comum passarmos por momentos de grande euforia, mas não agirmos; na verdade, ficamos famosos por isso na igreja. Lembra-se daquele entusiasmo que sentimos durante retiros espirituais, seguidos de uma inevitável pasmaceira? Ou da euforia que sentiu em sua primeira viagem missionária, esquecida logo depois de voltar para casa? As lembranças são maravilhosas, mas você vive de modo diferente por causa delas?
As histórias no capítulo 9 são breves exemplos de como algumas pessoas puseram em prática o verdadeiro cristianismo em vários países. A vida delas constitui um desafio ao status quo e um exemplo de como viver de uma maneira diferente.
A questão é que existe outra trilha, uma alternativa ao individualismo, ao egoísmo e ao materialismo do chamado "sonho americano" e de sua versão crista. Espero que as histórias dessas pessoas tenham servido para lembrar que Deus opera das mais diversas maneiras e tem muito mais à sua espera do que você é capaz de imaginar neste momento.
Um comercial da Nike, veiculado há alguns anos, mostrava o principal jogador universitário selecionado para a National Basketball Association (NBA) naquela época. O nome dele era Harold Miner. No comercial, ele dizia algo assim: "Algumas pessoas perguntam se serei o próximo Magic Johnson, o próximo Larry Bird ou o próximo Michal Jordan. Digo a elas: 'Serei o primeiro Harold Miner'". Ele acabou tendo uma carreira muito ruim na NBA, mas o comercial continuava sendo muito bom. E a questão que ele defendia — ser você mesmo — era válida.
Oswald Chambers escreveu: "Nunca estipule um princípio que sua experiência não comprove; permita que Deus seja tão original com as pessoas quanto foi com você". My Utmostfor His Highest [O melhor de mim para o Rei], entrada em 13 de junho
Eu acrescentaria: "Tome cuidado para não exigir que a vida dos outros siga o mesmo modelo da sua". Permita que Deus seja tão criativo com você quanto é com cada um de nós.
Você já disse algo como: "Eu nasci para isso"? Acredita ser uma pessoa criada para boas obras específicas, coisas que Deus já sabia antes de você existir? Ou compara a sua vida com a de outras pessoas e lamenta pelas coisas que recebeu?
Temos um Deus que é Criador, e não copiador. Ele nunca criou um Francis Chan antes. Paulo nos afirma:
Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diferentes tipos de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes formas de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos. A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum. I Coríntios 12:4-7
Imagine como seria se você abrisse uma gaveta em sua cozinha e encontrasse vinte raladores de queijo, mas nenhum outro utensílio. Não é muito útil quando se procura algo para ajudar a tomar uma sopa. Assim como existem utensílios diferentes com diversas funções na cozinha, Deus criou pessoas únicas para realizar urna variedade de propósitos pelo mundo.
É por isso que não posso dizer neste livro: "Todo mundo deve ser missionário"; ou: "Você precisa vender seu carro e começar a usar transporte público". O que posso dizer é que você precisa aprender a ouvir o Senhor e obedecer-lhe, especialmente em uma sociedade em que fazer o conveniente é a atitude mais fácil e esperada.
Escrevi este livro porque boa parte das coisas que falamos não combina com nossa maneira de viver. Dizemos coisas como: "Tudo posso naquele que me fortalece" e "Confie no Senhor de todo o seu coração", mas vivemos e fazemos planos como se nem mesmo acreditássemos que Deus existe. Tentamos organizar nossa vida de modo que tudo esteja em ordem mesmo que Deus não se manifeste. No entanto, a verdadeira fé significa não reter nada; significa pôr toda a esperança na fidelidade de Deus em relação a suas promessas.
Um amigo meu disse certa vez que os cristãos são como fertilizante natural: espalhe-os, e eles ajudarão tudo quanto existe em volta a crescer; empilhe-os, e eles começarão a feder demais. Em qual dos casos você se inclui? O tipo de cristão que cheira mal, em torno do qual as pessoas caminham mantendo uma distância segura? Ou o tipo que confia em Deus o suficiente para permitir que ele o espalhe por aí — mesmo que isso signifique abandonar seu grupo normal de amigos cristãos, aumentar suas doações ma- teriais ou usar seu tempo para servir aos outros?
Minha falta de fé era o que me condenava na faculdade. Percebi que minhas escolhas me haviam colocado em uma pilha de adubo fedorento, e isso me motivou a procurar situações desconfortáveis. Comecei a ir ao centro de Los Angeles para compartilhar minha fé. Eu não "ouvi a voz de Deus" para ir ao centro da cidade; somente optei por ir. Obedeci.
Muitos de nós usamos a desculpa: "Estou esperando que Deus me revele seu chamado em minha vida" para não entrar em ação. Você ouviu o chamado de Deus para sentar em frente à televisão ontem? Ou para tirar férias? Ou para se exercitar hoje pela manha? E provável que não, mas fez tudo isso, mesmo assim. A questão não é considerar as férias ou os exercícios errados, mas que estamos prontos para justificar nosso lazer e nossas prioridades, ao passo que demoramos muito para nos comprometer com o serviço a Deus.
Certa vez, um amigo meu falou a um grupo de pessoas. Depois que terminou, um sujeito
o procurou e disse:
— Vou servir a Deus como missionário em outros países, mas, falando com sinceridade, se fosse para partir agora, eu o faria apenas por obediência a Deus. Meu amigo respondeu assim:
— Sim, e aí?
Jesus disse: "Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos" (Jo 14:15). Ele não disse: "Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos quando se sentirem chamados ou bem a respeito disso". Se nós amamos, então temos de obedecer. E ponto final. Esse tipo de obediência incondicional é parte do que significa viver uma vida de fé.
A maior bênção que recebi durante essas viagens ao interior foi ver Deus operar em circunstâncias em que só ele poderia agir. Por isso, assumi o compromisso de me colocar em situações que me assustam e pedir a Deus que me acompanhe. Quando paro e analiso minha vida, percebo que aqueles tempos foram os mais significativos e satisfatórios de minha existência. Foram os períodos nos quais experimentei verdadeiramente a vida e Deus.
Por muito tempo em minha vida, eu não entendia o suficiente sobre o que significava desejar Deus ou confiar em seu amor a ponto de submeter minhas esperanças e meus sonhos. Eu vivia o tempo todo tentando ser "dedicado o bastante" a ele, mas nunca conseguia fazer isso direito.
Eu sabia que Deus queria tudo de mim, porém temia os resultados da completa rendição ao Senhor. Tentar com mais empenho não funcionava comigo. Aos poucos, aprendi a orar pela ajuda de Deus, e ele se tornou meu maior amor e desejo.
Apesar dessa grande mudança de foco e de tom em meu relacionamento com Deus, continuo lutando para me concentrar em Jesus todos os dias. No entanto, duas coisas me ajudam a seguir em frente.
Em primeiro lugar, lembro que, se paro de buscar Cristo, permito que nosso relacionamento deteriore. Nunca nos aproximamos de Deus quando vivemos por viver; essa aproximação exige interesse e atenção deliberados. Quando oro, às vezes peço ao Senhor que faça daquele momento o de maior intimidade espiritual que eu já tenha experimentado até então. Muitas vezes, quando falo em minha igreja ou em outro lugar, procuro me lembrar de que posso morrer logo depois de terminar minha pregação; assim, quais seriam minhas últimas palavras?
Em segundo lugar, lembro que não estamos sós. Mesmo agora, há milhares de seres no céu assistindo ao que está acontecendo aqui embaixo — uma "grande nuvem de testemunhas", como afirmam as Escrituras. Isso me faz recordar que há muito mais coisas envolvidas em nossa existência do que somos capazes de ver. O que fazemos reverbera nos céus e até na eternidade.
Tente passar um dia inteiro com o conceito do céu em mente. Assimile a noção de que há muita coisa acontecendo fora desta dimensão e de nossa existência. Deus e seus anjos estão olhando, mesmo neste exato momento.
O que realmente me faz seguir em frente é o dom e o poder que nos foram concedidos no Espírito Santo. Antes de Cristo deixar a terra, ele disse aos discípulos:
Mas eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei. Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo [...] Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. João 16:7-8,13
Os discípulos devem ter ficado chocados com a idéia de que a partida de Jesus era para
o bem deles. O que poderia ser melhor do que ter Jesus ao seu lado? Você não preferiria ter Jesus andando fisicamente por perto o dia inteiro a ter um Espírito Santo aparentemente intangível vivendo dentro de seu ser?
Nossa visão do Espírito Santo é muito limitada. E ele quem transforma a igreja, mas temos de nos lembrar de que o Espírito Santo vive em nós. São pessoas vivendo cheias do Espírito que transformarão a igreja.
Efésios 5:18 afirma: "... deixem-se encher pelo Espírito...". Se você olhar o original grego, verá que está escrito tanto no imperativo (uma ordem contínua) quanto na voz passiva. A parte do imperativo significa que ser cheio do Espírito não é algo que se faz uma só vez, mas uma coisa que fazemos sempre e repetidamente. E o elemento passivo comunica a ação necessária de Deus no processo de preenchimento de nosso ser.
Nunca me senti tão entusiasmado com a igreja. Acho que há uma forte razão para esperar boas coisas dela. No início deste capítulo, mencionei como Annie Dillard escreveu que a maneira como vivemos nossos dias determina a maneira como vivemos nossa vida. O mesmo vale para o Corpo de Cristo: o modo de nós, os cristãos, vivermos nossa vida é um microcosmo da vida da igreja.
Minha esperança e minha oração são no sentido de que você termine a leitura deste livro com esperança, crendo que parte de sua responsabilidade no Corpo de Cristo é ajudar a estabelecer o ritmo da igreja, ouvindo, obedecendo e vivendo Cristo. Sabendo que Deus nos chamou para viver de maneira fiel e dedicada diante dele pelo poder do Espírito Santo. Você não precisa pregar para o seu pastor e sua congregação; só precisa pôr em prática, na vida diária, o amor e a obediência que o Senhor requer.
Há algum tempo, fiquei sabendo de um homem que ouviu uma pregação que fiz sobre o texto de I Coríntios 15:19-20, em que Paulo escreve: "Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão. Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos...". Aquele homem estava convencido de que, considerando que Jesus está mesmo vivo, é necessário viver como ele. Por essa razão, o sujeito deixou o emprego onde ganhava muito bem e se tornou pastor — algo para que se sentia chamado havia um bom tempo.
Quando as pessoas promovem mudanças como essa em sua vida, o impacto é ainda maior do que quando se limitam a fazer declarações sem nenhuma paixão. O mundo precisa de cristãos que não toleram a complacência da própria vida.E isso que desejo estar fazendo quando Cristo voltar?
Assim, chegamos ao fim deste livro. Não acho que seja uma coincidência o fato de Deus ter movido tanto o meu coração, ao longo dos últimos dias, com a história dos três cristãos que foram martirizados na Turquia.
Estou escrevendo em abril de 2007, e as notícias sobre os três mártires — Tilman, Necati e Ugur — ainda é recente. Não consigo tirá-las da cabeça. Eles foram torturados por três horas de maneiras que eu não conseguiria imaginar que fossem possíveis. Vou poupar você dos detalhes, mas foi uma coisa repulsiva e horrível. Fico pensando em como eles devem ter olhado uns para os outros enquanto eram torturados, e em seu olhar diziam: "Segure a barra um pouco mais. Não negue o Senhor! No fim, valerá a pena!".
No momento em que escrevo, uma semana e meia se passou depois da morte daqueles homens. Como devem estar eufóricos agora — mal consigo imaginar a alegria que sentiram uns cinco segundos depois de morrer. Daqui a cem, mil ou um milhão de anos, eles ainda dirão como valeu a pena. Histórias sobre santos fiéis como nossos irmãos mortos na Turquia serão assunto constante no céu.
A Bíblia é clara ao dizer que cada um de nós comparecerá diante de Deus e prestará contas da própria vida:
Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do corpo, quer sejam boas quer sejam más. II Coríntios 5:10
O grande e poderoso Deus, cujo nome é o SENHOR dos Exércitos [...] tu retribuis a cada um de acordo com a sua conduta, de acordo com os efeitos das suas obras. Jr 32:18-19
Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus. Porque está escrito: "'Por mim mesmo jurei', diz o Senhor, 'diante de mim todo joelho se dobrará e toda língua confessará que sou Deus'". Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus. Romanos 14:10-12
O que as pessoas dirão sobre a sua vida no céu? Será que falarão sobre a obra e a glória de Deus manifestadas em você? Mais importante ainda: como responderá ao Rei quando ele perguntar o que você fez com o que ele lhe entregou?
Daniel Webster disse certa vez: "O maior pensamento que já penetrou em minha mente é
o de que, um dia, terei de comparecer diante de um Deus santo e prestar um relatório a respeito de minha vida". Ele tinha razão.
Agora é hora de fechar este livro. Ajoelhe-se diante de nosso Deus santo e amoroso. Em seguida, viva a vida para a qual ele criou e capacitou você por intermédio do Espírito Santo. Faça isso com seus amigos, seus familiares, seu cônjuge, seus filhos, seus vizinhos, seus inimigos e até com as pessoas estranhas.
Assim como Paulo, que você seja capaz de dizer, ao fim de sua vida:
Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda. II Timóteo 4:7-8
VOCÊ ESTÁ LENDO
Louco Amor
RomanceO cupido... Faz parte de qualquer relacionamento. A intensidade e a vibração dos primeiros momentos aos poucos são tomadas pela rotina e o que antes era uma feliz dependência torna-se um fardo, quando não, a cínica indiferença para com o outro. Infe...