Pedro e eu já tínhamos acabado de comer. Estávamos agora sentados a olhar para a magnifica vista. Estava tudo tão bom, até as sandwiches que são tão fáceis de fazer tinham um toque especial e a sobremesa que tive que partilhar com ele. Ainda sentia o seu sabor, apesar de ser um xoxo sem grande significado, eu tinha gostado.
Segurava-me agora nos seus braços enquanto me fazia festas na cabeça. Estavamos em silêncio enquanto observávamos a movimentação da cidade a uma quarta-feira à noite.
- Tenho pena do Miguel e da Lia! – Interrompi o silêncio.
- Também eu, a minha irmã foi tão parva. Conheço o Miguel à tanto tempo e nunca o vi assim apaixonado. – Retorquiu.
- A Lia tem medo Pedro, assim como eu, as raparigas são assim inseguras!
- Tens medo de mim? – Pedro questionou, fazendo força no meu corpo para eu me virar para ele. – Eu não te vou magoar. – Puxou uma meixa do meu coque um pouco desfeito para trás da minha orelha.
- Não tenho de ter medo de ti, afinal não temos nada! – Respondi. Aqui vou eu com as minhas inseguranças outra vez.
- Não temos nada porque tu te afastas, passei este tempo todo a tentar beijar-te e tu não cedes.
- Conhecemo-nos à 4 dias, menos de uma semana e queres que esteja aqui aos beijos contigo a começar uma relação quando não sei quem és verdadeiramente! – Exclamei e levantei-me do seu colo.
- Amor à primeira vista!
- Essa merda não existe. – Gritei. – O amor à primeira vista foi algo inventado por alguém infeliz que ficou com a primeira pessoa que viu porque estava desesperada. – Larguei uma lágrima. Sabia bem o que era amor à primeira vista, sofri com ele, humilhei-me com ele e errei com ele. O amor à primeira vista é uma desculpa inventada por alguém deseperado, repeti na minha mente.
- Ai, não chores Noa por favor. O que disse eu? – Pedro abraçou-me. – Eu pensava que gostavas de estar comigo. – Olhou-me.
- Eu adoro estar contigo Pedro, sinto-me tão bem. Mas como tu sabes o meu passado não foi dos melhores e as lembranças dele não me deixam seguir em frente. – Olhei para baixo.
- Sim se calhar devíamos ir com mais calma, queres desabafar?
- Agora não por favor, já chega de drama. – Soltei-me dos braços dele e voltei a sentar-me no sitio onde estamos inicialmente.
- Acabei de estragar todas as hipóteses que tinha contigo não foi? – A sua voz tremeu.
- Não, claro que não. – Continuei a olhar em frente. – Só não quero falar disso.
- Tudo bem. – Senti a sua mão no meu ombro e voltou a sentar-se a meu lado. – Podemos nos sentar como estávamos ao bocado, por favor.
Eu sorri e coloquei-me bem juntinha a ele e por iniciativa própria entrelacei a minha mão na dele. – Espero não me arrepender disto. – Sussurrei.
- Não vais! – Pedro retorquiu e beijou a minha nuca.
- Já pensaste em desistir de tudo e partir, sair daqui para fora e nunca mais voltar? – Perguntei.
- Tantas vezes. Desde a morte do meu pai, sempre fui o miúdo de 10 anos mais conhecido da escola por ter tendências suicidas, depois fui expulso da faculdade. Vi o meu melhor amigo a ser preso e nunca mais pude desabafar com ele, não tenho coragem de ir à prisão. Traz-me memórias cruéis quando ia visitar o meu pai. Amo a minha mãe, mas parece que ela nunca tem tempo para nós com tanto trabalho que tem. A única pessoa que me apoia é mesmo a Lia, e claro o Miguel.
- O teu melhor amigo foi preso? Lamento. – Tinha curiosidade em saber como ele era, como se chamava e o porquê de ter sido preso. Mas preferi estar calada ou podia feri-lo ao perguntar esse tipo de coisas
- Custou-me tanto. Eu, ele e o Miguel andávamos sempre juntos a fazer asneiras. – Gargalhou – Lembro-me de uma vez que fomos a casa do Miguel dormir, eu tinha 16, ele já tinha 19 anos acho eu, ele tinha uma queda pela irmã do Miguel e foi connosco então estávamos sozinhos em casa e o Dinis, que era o nome dele, teve a excelente ideia de atirar ovos à casa da vizinha do Miguel. – Pedro gargalhou ainda mais alto e eu juntei-me a ele. - E eu como sou inteligente juntei-me a ele enquanto o Miguel gritava para pararmos ou a senhora não lhe levava mais tarte de limão. – Pausou e limpou uma lágrima que escorria do seu olho de tanto rir.
- Vocês eram hilariantes.
- Ainda não acabei. A senhora abriu a janela do quarto e ameaçou-nos que ia chamar a polícia. E o que é que o Dinis fez? Baixou as calças do pijama e os boxers e começou a correr pelo jardim dela, eu juntei-me a ele.
Gargalhei:
– Deixa-me adivinhar? A senhora chamou a policia!
- Sim. – Pedro anuiu. – O polícia conhecia-nos e então obrigou-nos a andar nus por uma rua um quanto movimentada cá do Porto.
- Ai Pedro, que menino bem comportado! – Ironizei.
- É... Deixei de fazer estas asneiras todas quando ele se foi preso, pelo menos estas não eram tão graves como aquelas que cometi depois, embora tenha sido bom pois assim obrigou-nos a crescer. – Falou um pouco mais baixo.
- Cada baixo que nos aparece na vida vai nos fortalecer para construirmos um alto enorme que ninguém consiga derrubar, a isso chama-se viver.
- É injusto, realmente nunca soube bem a história da sua condenação. Mas não me apetece falar disso agora, pode ser?
- Claro Pedro.
- Quero beijar-te! – Falou.
- Controla-te, vamos com calma como combinámos. É tudo muito recente. – Pedro levantou-se e foi de encontro ao cesto, de lá tirou uma polaroid um quanto antiga.
- Pousa para mim. – Ele disse.
- Nem penses fico horrível em fotografias. – Retorqui e virei-me de costas.
- Sabes que tirei foto de ti na mesma. – Pedro riu.
- Sei. – Ali estava eu, com a mão junto à cara, metade do meu corpo virado para frente e a outra metade para trás. Via-se um pedaço da minha cara e a vista magnifica que nos rodeava. Estava linda a foto.
- Tira tu uma foto ao que quiseres? – Ele passou-ma.
Tirei uma fotografia à vista. A vista mais linda do mundo. A vista que me iria deixar muitas recordações.
- Ficou linda. – Beijou-me o pescoço. – Como tu.
-Exagerado.00:53
- Obrigada por tudo. – Eu respondi. Estávamos agora a caminho de minha casa.
- É a centésima vez que dizes isso hoje. – Riu.
- Ah! Temos de combinar um plano para juntarmos a Lia com o Miguel.
- Sim pois temos, e que tal amanhã vires ter comigo ao bar, assim de manhã e tomamos o pequeno almoço juntos. – Ele falou com uma voz lamechas.
- Ai que lamechas, mas sim eu vou ter contigo.
Entretanto recebi uma mensagem da minha tia Marta:
Titi: Vais demorar muito, preciso de falar contigo!
- Podes acelerar mais um bocado.
- Porquê? Passa-se alguma coisa? – Falou preocupado.
- A minha tia disse que precisava de falar comigo urgentemente.
- Estamos quase a chegar.
De facto passado 5 minutos já estávamos na minha nova casa. Apressei-me a sair do carro sem me esquecer de me despedir do Pedro. Dei-lhe um leve beijo nos lábios e entrei no apartamento.
- Tia, estou em casa, que precisas?
- Então divertiste-te? – Sorriu.
- Sim claro, mas isso agora não é importante que se passa?
- Bem amor, eu vou voltar para França e não sei quanto tempo é que vou lá ficar, já falei com os teus pais e acho que ele não querem que tu fiques aqui tanto tempo sozinha. Eu tentei insistir até porque eu não me importo que fiques cá.
Entrei em pânico, não sabia o que fazer. Não podia voltar para Vila do Conde, claro que eu não podia.
- Mas o meu irmão está quase a chegar de Lisboa, eu posso ficar com ele, e até lá de certeza que posso ficar em casa da Lia ou do Felipe ou até do Miguel. – Disse tudo num único suspiro.
- Eu sei, tem calma, amanhã vais falar com os teus pais e ele vão deixar-te ficar cá, eu não me importo que fiques em minha casa. Desde que te portes bem. – A minha tia piscou-me o olho.
- Vou dormir, boa noite tia. – Dei um sorriso forçado e fui para o quarto.
Descalcei-me e despi-me, fiz a minha higiene e vesti o pijama. Olhei para o telemóvel e tinha uma mensagem do Pedro.
Pedro: Espero que esteja tudo bem.
Eu: Não, não está tudo bem, a minha tia vai para França e eu provavelmente vou voltar para Vila do Conde.
Pedro: Ai isso é que não vais, ficas em minha casa. Se bem que eu posso me descontrolar, se é que me entendes 😏😏
Eu: Parvo, só tu para me fazeres rir. E se eu for embora Pedro?
Pedro: Não vai acontecer nada porque tu não vais embora, nem que tenha que ser eu a falar com os teus pais.
Eu: Obrigada por tudo, agora se não te importas vou dormir, foi um dia longo.
Pedro: Vou fazer o mesmo, há quem trabalhe amanhã. Dorme bem princesa💕💕
Eu: Sonha comigo.💕
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Sem Álcool
Teen Fiction• Concluída • É com muito amor e carinho que escrevo este livro. Não consigo descrever a felicidade que tenho guardada dentro de mim, pois finalmente 2 anos sem produzir nada, finalmente consegui tirar algo do meu coração. Poderão haver algum...