CAPÍTULO 08 - BOMBA RELÓGIO

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O Hospital de St. Mary, localizado em Paddigton, na Inglaterra é uma das maiores referencias em medicina de Londres e possui como um dos seus membros mais ilustres, Alexander Flemming, que em 1928 nos laboratórios da instituição realizou um experimento que foi agraciada com o Nobel de 1945; a descoberta da Penicilina. Antony Hanssys encontrava-se de frente para Paul, um homem de estatura mediana e cabelos levemente grisalhos com olhos atentos por detrás de óculos com grossas lentes. O ar parecia pesado e não poderia ser para menos. Diante de Paul, Antony parecia um cordeiro acuado por uma fera em um campo de centeio, pronto para ser devorado pelo resultado de uma informação que definitivamente iria mudar os rumos de sua vida.

Um grande barulho emitido conseguiu, por alguns segundos, retirar a atenção de Antony, o Hospital St. Mary estava localizado próximo à estação London Paddigton onde uma de suas locomotivas ainda ativas, e que homenageava o nome do centro de saúde, estava em atividade.

— Vamos Doutor, diga logo — inquire impaciente — o que diz o hemograma? Os olhos de Antony buscavam os de Paul numa tentativa de ler em sua íris o diagnóstico, mas o médico mantinha seu semblante intacto, provavelmente por que dera muitas informações como aquela e acostumara-se com o fato,

— Bem Senhor Antony — as informações que lhe repassarei não são nada reconfortantes, mas mesmo assim acredito que possa levar uma vida com qualidade — iniciou Paul de forma calma em um tom de voz que soaria convincente, afim de evitar que Antony se descontrolasse além do que imaginaria que pudesse acontecer.

— Então é isso Doutor? — Disse com o semblante carregado, a face perdeu o avermelhado do sangue na pele branca extrema e adquiriu uma palidez quase mórbida — não, não! Este exame está errado. Pode estar errado não é Doutor? Não estou com essa maldita doença. Eu não estou — disse aos gritos, fazendo com que o médico se aproximasse de Antony afim de lhe acalmar.

— Calma, infelizmente repetimos o exame por três vezes Antony e o resultado é conclusivo. — Fez uma breve pausa e continuou — Nos anos oitenta um diagnóstico como este poderia realmente soar como uma sentença de morte, a medicina encontra-se avançada no que se refere à doenças infecto contagiosas e como infectologista posso lhe afirmar que, seguindo todas as orientações e tomando o medicamento corretamente, levará uma vida normal como qualquer outra pessoa.

— Se poupe deste discurso Doutor. — Irrompe Antony rispidamente. — Terei de tomar um maldito coquetel pelo resto de minha vida e isso parece reconfortante em suas palavras, porém não é! Apenas queria levar uma vida como qualquer pessoa — concluí num suspiro longo, levando as mãos nos cabelos. — Ódio, daquela vaca! — Diz a si mesmo furiosamente, — ela me paga!

— Senhor Antony, como disse. — Continua Paul — Ninguém morre de HIV, isso é um equívoco.

— Paul, pela amizade e respeito que lhe tenho, não me venha com esses artifícios — disse Antony — Eu não sou um desinformado e tenho plena consciência que também sabe disso.

Paul Agliere havia sido médico da família Hansys por mais de quarenta anos. John Hansys contava com Paul como um amigo a quem pudesse confidenciar suas aventuras mais furtivas, fora a ele que se lamentou quando informado que Pietra não poderia lhe dar os herdeiros os quais sempre planejou.

A Mansão dos Hansys, localizada em Fremont era um refúgio ao qual Pietra logo se acostumara, mulher de fina elegância e filha de ilustres personalidades da sociedade francesa, encontrou na Califórnia as realizações as quais apenas o dinheiro poderia lhe proporcionar, o marido, John, nunca poupou gastos e agrados aos seus caprichos.

Apesar de uma minha vida sempre regada a bons vinhos e festas luxuosas, o filho nunca poderia ser gerado por Pietra e talvez por isso mesmo sempre havia feito vistas grossas aos envolvimentos de seu marido com prostitutas e encontros casuais, Antony era o resultado de uma dessas paixões que quase levou os Hansys ao divórcio e às primeiras páginas dos tabloides americanos.

Mary Ossen, a inglesa de olhos tão azuis quanto o oceano e o sorriso capaz de fazer qualquer homem perder o juízo, dançarina de um pau em Londres, conquistou o coração do milionário John, destes encontros em madrugadas gélidas Mary engravida. Diagnosticada com uma gestação de alto risco teve todo amparo do amante, o qual obviamente, desejava aquela criança mais que a tudo.

Mary foi instalada em Fremont, assim John poderia cuidar de sua saúde com a ajuda e discrição do amigo Paul Agliere. Pietra sempre soubera da infidelidade do marido, o qual nunca foi um homem cuidadoso, com toda certeza a conversa mais dolorosa a que tiveram foi o pedido do divórcio, John prometeu, afim de evitar um escândalo, metade de toda sua fortuna e uma soma considerável de dinheiro, o que naquele momento chamou de ajuda de custos. Pietra se negou ao divórcio e postergou-o ao tempo máximo que seus advogados conseguiram, mas foi em novembro daquele mesmo ano que uma reviravolta se deu.

O estado de saúde de Mary se agravou e uma internação às pressas foi necessária, John autorizou uma cirurgia de alto risco para o nascimento de seu primogênito, o final dessa história poucos, além dos enfermeiros souberam. Mary não resistiu as complicações da cesariana e falece sem mesmo lançar seus olhos sobre aquela pequena criança retirada de seu ventre. John nunca se recuperou da perda de Mary, por quem seduzira-se, apesar de verdadeiramente nunca a ter amado, seu coração era de Pietra.

Antony Hansys, assim veio a se chamar o menino que teve o máximo do luxo que o dinheiro pode comprar, Pietra tinha em Tony, como costumava o chamar, a razão de sua existência. Ele, de fato, nunca soube dessa história, para si John e Pietra Hansys eram pais dedicados e que o amavam muito. Uma história que foi enterrada.

Paul Agliere retorna de seus pensamentos à frente de Antony a quem trouxera ao mundo e guardava segredos tão íntimos, seu silencio resguardado por valores monetários que lhe garantiriam uma velhice plena e tranquila.

— Antony, como lhe mencionei, acalme-se, vá para casa, reflita sobre o início de seu tratamento posteriormente — Orienta Paul em voz pausada e ponderada — desta forma poderemos controlar doenças oportunistas e não permitir que seus linfócitos tenha uma grande queda num conseguinte aumento viral em seu organismo.

— Pare Doutor, eu não quero fazer nenhum tipo de tratamento, preciso é de encontrar e destruir May Watson! — exclama com o olhar em chamas mirando o nada — aquela vadia não terá nenhum momento de paz enquanto eu estiver vivo, a caçarei como um predador à sua presa!

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