CAPÍTULO 13 - Idolomantis Diabólica

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Fremont - Califórnia

A vida pode ser uma leve brisa numa tarde de sol ou um vendaval que antecede a chuva, fazendo as folhas mortas ao chão serem sopradas e parecer reviverem em uma quase dança. A mudança de Londres para a antiga mansão dos pais fora uma escolha que naquele momento parecia-lhe acertada, evitaria especulações dos amigos, curiosidades que apenas o desgastava ainda mais. A perda de peso ficara acentuada nos últimos meses deixando os ossos da clavícula bem mais aparente e uma pequena falha nos cabelos na fronte. Paul ligava quase sempre, fazia as mesmas cobranças e ouvia as mesmas respostas para as mesmas perguntas. Sempre era uma mentira, Antony se esquivava, mudava de assunto, mas sua voz denunciava que algo não estava bem. Mary, a governanta, era a única que em meio aos tantos empregados sabia o que se passava e das poucas pessoas que confiava, vira Antony crescer, brincando pelos cantos da casa, com os amigos na piscina enquanto o pai, John Hanssys e Pietra Dapieve faziam a social ou buscavam investimentos afim de dobrarem o patrimônio.

A Mansão era um refúgio de boas lembranças, de momentos que não voltariam mais. Antony podia sentir a presença dos pais, o cheiro da colônia pós barba amadeirada ou até mesmo escutar a risada da mãe conversando ao telefone, muitas vezes essas lembranças pareciam reais, era como se tudo estivesse como antes do acidente que vitimou sua família, mas não era e acordava aos gritos ensopado de suor quase todas as noite, atormentado por pesadelos.

- Mary, minha querida - diz de forma calma, olhando através da janela e mirando a piscina ao fundo - hoje receberei a visita de uma pessoa muito importante - certifica-se que a governanta e amiga está atenta as suas palavras - trata-se de um detetive que fará uma busca de alguém para mim, assim que chegar me avise, irei subir para descansar.

- Tony ainda não tirou essa ideia fixa de sua cabeça, essa busca não surtiu efeitos de outras vezes, cuide-se primeiro, tome os remédios que Doutor Paul lhe recomendou para que se cure, - diz colocando a mão sobre as de Antony enquanto este olha de forma inexpressiva a piscina ao longe, - algumas coisas - prossegue a velha senhora de aparência frágil -, devem ficar no passado e outras devem nem serem lembradas.

- Mary- interrompe - você não entende, essa doença não tem cura - diz de forma sibilada para que outros empregados não os pudessem ouvir caso estivessem por perto - apenas quero fazer justiça, quero estar de frente com May Watson, preciso deste encontro nem que seja uma das últimas coisas que farei em minha vida, - diz mirando os olhos da senhora a quem sempre teve com muita estima, Mary por sua vez abraça Antony com os olhos brilhantes pela emoção.

- Sempre lhe tive como a um filho - O que realmente era de fato uma verdade, Mary não havia tido filhos, viera trabalhar para os Hanssys décadas atrás quando Antony nem se quer havia nascido, Pietra, sua mãe, havia sido cuidada por ela e queria assim também que cuidasse de seu filho. Filho este que acabou não vindo da forma que sempre desejou, mas que encontrava em Antony a realização de um sonho, sentia-se uma mulher realizada, - quero apenas, Tony, que você cuide-se, que me deixe cuidar de você, sua mãe não ficaria feliz onde quer que esteja se algo lhe acontecesse.

- Mas algo já aconteceu, Mary... - fala caminhando para os degraus da escada que o levaria para o segundo andar da mansão, - se eu tiver sorte viverei mais uns 10 anos, nó máximo, - continua sem se virar - isso se caso uma doença oportunista não me matar antes - conclui do topo do andar superior. Mary o observa até que dobre o corredor, seu semblante é de desalento, lembra-se de quando Tony brincava pela casa, um menino loirinho dos olhos verdes sendo sempre um super herói com um cavalinho de pau entre as pernas, para ela Tony, seu Tony seria sempre um menino, aquele que ela passava noites velando o sono enquanto John e Pietra estavam em longas viagens, seria sempre o menino indefeso segurando um urso de pelúcia chorando nas manhãs à procura da mãe que muitas vezes viajava sem nenhuma despedida e retornava meses depois. John e Pietra foram pais negligentes, amavam o filho, mas estavam ausentes sempre e perderam os melhores momentos da infância, de modo que Mary sempre foi o porto seguro, a amiga confidente, o apoio dos momentos de medo.

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